quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Vê lá onde pões as mãos


Se há gesto que mais me lembra de que não estou em Portugal é este. Mãos na comida, sem cerimónias. Seja numa tenda, seja num café daqueles que fazem lembrar os padrões europeus, não há pinças para servir. Há mãos. Quando vamos comprar salgados, aperitivos, qualquer lanche. Servem as mãos, sem cerimónias, muitas vezes para levar a comida até um recipiente, seja ele de plástico ou uma folha de jornal. 

Tudo de forma despreocupada, própria de gente que está habituada a servir desconhecidos com as mãos. Para mim, mais estrangeiro que este hábito não há e é algo a que provavelmente nunca me vou habituar.

Obviamente, uma pessoa começa por desconfiar que estes indivíduos não lavam as mãos da forma exigente que temos em mente para alguém que lida tão de perto com coisas que depois vamos levar à boca. Digo, com álcool e fogo. Vá, com álcool e muito sabão e álcool novamente. Depois disso, uma pessoa começa a indagar-se sobre o que terão estes indivíduos feito com as mãos no período anterior à nossa chegada.

É claro que, com a prática, uma pessoa consegue ignorar os pensamentos e ignorar hábitos de higiene que aprendeu e que viu ao longo de 28 anos, caso contrário seria muito difícil encontrar um sítio para comer em Goa. Até agora não tive problemas de estômago, tirando um claro excesso de gordura abdominal que indica que estou demasiado habituada a ver estranhos pegar na minha comida com as mãos e a não importar-me com isso, de tal forma que como essa comida sem preconceitos.

A vinda até Goa está a auferir resultados gratificantes no campo do não pensar, claramente. Estou um passo mais próxima de conseguir meditar como os monges profissionais. Não creio que consiga imitar os seus hábitos alimentares, mas a meditação é uma adição que já me preenche as medidas.

Vanessa

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