quarta-feira, 29 de junho de 2016

Quinta dimensão

Os episódios originais da série Twilight Zone ou Quinta Dimensão, em português, são um fascínio para mim. Penso que tenha que ver com o facto de serem a preto e branco ou com a crueldade das estórias.

Como leitora assídua que sou, um dos meus episódios preferidos é o Time Enough At Last, que retrata um dos meus piores pesadelos. Percebo aí o paradoxo. Na verdade é uma relação de amor-ódio.

Apesar de ser o atormentado leitor Henry Bemis o protagonista, foi uma autora, Marilyn Venable, que criou o conto que se tornou um clássico da série. Uma autêntica pioneira no mundo masculino da ficção científica.

Marilyn Venable lucrou apenas 500 dólares com o contributo. Nos anos 50 do século passado ainda era uma fortuna. Mais importante do que o lucro, Marilyn ofereceu pesadelos a pessoas impressionáveis como eu.

Cuidado com os spoilers adiante (ainda não inventaram um termo em português para spoiler, mas digamos que é um arruinar de surpresas, tipo divulgar o final e acabar com o suspense de uma estória).

Então, Henry Bemis é um homem muito míope, com uns óculos de lentes muito grossas, que adora ler e que é casado com uma mulher que abomina a leitura. Má escolha, colega leitor, muito má escolha.

Ainda assim Henry Bemis tenta ler sempre que possível, o que o leva a tomar medidas tão drásticas quanto ler rótulos ou desfrutar de livros durante as horas de trabalho enquanto funcionário de um banco.

O patrão chama-o à atenção devido ao seu hábito. A mulher não o deixa ler e até lhe estraga um livro. 

Mas Henry Bemis não consegue evitar o vício. À hora de almoço decide enfiar-se dentro de um cofre do banco para poder ler à vontade. As gordas do seu jornal descrevem uma bomba capaz de uma destruição total.

Ouve-se uma explosão e quando Henry Bemis sai do cofre está tudo em ruínas. Toda a gente morreu. Mas há comida que se farta e muito tempo livre. O homem não sabe o que fazer e fica atormentado.

Justamente quando contempla a possibilidade de se suicidar, já com uma arma apontada à cabeça, repara que está em frente ao que foi em tempos uma biblioteca. Muitos livros sobreviveram.

Se não conhecem a expressão "não cabe em si de contente" vejam este episódio. É o oitavo. Pois que Henry Bemis não cabe realmente em si de tão contente que fica com a descoberta.

Todo o tempo do mundo, solidão e livros. Imaginem tal coisa. Como não podia deixar de ser, nada acaba bem na Quinta Dimensão. O entusiasmo tornou-o desajeitado e nisto Henry Bemis parte os óculos.

Não é o melhor enredo de S-E-M-P-R-E?

Calculo que hoje em dia o pathos seria outro. Se fizessem um equivalente mais moderno da estória, que representasse também um cenário pós-apocalíptico, Henry Bemis encontraria um único e-book (leitor digital de livros), mas depois não teria onde carregar a bateria. Dedicatória: da Vanessa, para todos aqueles que insistem em recomendar que eu compre um desses aparelhos em vez de continuar a comprar livros.

Pode não parecer, mas Time Enough At Last (qualquer coisa como Finalmente Tempo Suficiente) dá pano para mangas. A mim deu. Vou continuar a escrever, mesmo sabendo que ninguém vai chegar aqui na leitura.

Primeiro: no advento dos conteúdos televisivos, esta estória é uma alegoria perfeita. O hábito do protagonista e a constante crítica por parte dos que lhe são próximos retrata o papel dos livros na sociedade. É quase como se a ficção ditasse o seu próprio destino: vai chegar um dia em que ler será mal visto ou menosprezado em detrimento de outras formas de entretenimento ou trabalho; a intelectualidade tem os dias contados.

Segundo: cuidado com aquilo que desejas ou como nem sempre o que sonhamos é exequível. Se não fossem os momentos maus, não conseguiríamos apreciar os bons, a natureza é feita de equilíbrio e insiram aqui as metáforas que desejarem. É bom sonhar, mas em termos práticos, a nossa presença e interacção podem influenciar o desfecho mesmo no cenário mais apetecível. Cuidado com as ilusões.

Terceiro: o homem sozinho não pode ser feliz. Ser anti-social traz maus resultados. A sociedade é necessária. Sozinho chega-se mais rápido, mas acompanhado chega-se mais longe. Não sei quem é o autor porque nisso a internet não é de se fiar, mas a ideia é profunda e fica retratada no cruel destino de Henry Bemis.

Para mim, a quinta dimensão é mesmo isto. É um espaço e um tempo onde tudo pode ser acontecer e tudo pode ser interpretado, mas nem sempre percebido. Se não estiver por aqui, é porque estou lá.

Vanessa

terça-feira, 28 de junho de 2016

Refúgios em Goa

As minhas fotos guardam boas lembranças. Em duas ocasiões tive a oportunidade de visitar três hotéis onde não desfrutei da dormida, mas onde passei bons momentos e pude tirar umas fotos para mais tarde recordar e quem sabe visitar novamente. São locais caros, com preços entre as 3000 rupias e as mais de 10 000. 

Contudo, dispõem de piscina e bar abertos ao público e um acesso mais recatado à praia mais próxima. Já para não falar em casas-de-banho muito diferentes das indianas, um pormenor bem importante para quem não está habitado a falta de asseio e ao chamado bum gun (spray de água) em vez de papel higiénico.

1. O Pescador Beach Resort | Dona Paula, Pangim





2. Goan Heritage | Bardez, Calangute




3. Royal Orchid Beach Resort & Spa | Salcette, Utorda




P.S.: Esta não é uma publicação patrocinada.

Vanessa

segunda-feira, 27 de junho de 2016

Mas como assim?

Pronto, está bem. O Rei Leão saiu há mais de 20 anos. O primeiro Matrix tem mais de 17 e eu vi-o pela primeira vez com 17 anos, já alguns anos depois da sua estreia. Aceito sem problemas. Mas como assim, o último filme d'O Fantasma da Ópera tem 12 anos?! E mais, como assim o 300 tem 10?!

Vanessa

sexta-feira, 24 de junho de 2016

Preguiça

Um balde cheio.


Estamos todos a precisar de coisas destas.

Vanessa

quarta-feira, 22 de junho de 2016

Book Review | Life of Pi by Yann Martel

You can take this book as an alegory or a non-fiction book. You can choose to believe in what's being narrated or you can take it as a metaphor. Either way one chooses to plunge into the tale, the book is awesome.

I admit I had seen the movie, but as everyone who had read the Life of Pi told me this was not an easy story to put to film, I decided I would read it as soon as I could. I found the book in India and thought it was a great deal and a great opportunity to finally discover this author who was unknown to me.

Funny enough, Yann Martel's note at the beginning, mentioning he wanted to write a story set in Portugal, my residing country, but then moved to Bombay, in the country I was in, to write it, made believe this was indeed the right time to read Life of Pi. I was not wrong and it turns out, this book is now a favorite.

I loved Piscine, the main character, and his views on religion. I find it odd that in the movie they decided to include a love predicament for him, because there's no such thing in the book. Pi's only love is for God, however you want to call this God. In fact, he goes on to experience God in many ways.

The book is beautifully detailed and immersive. It was one of those books where the reader has no problem in believing. Pi tells it in a way that allows one to see it in the mind's eye and that, of course, is subjective to one's experience and beliefs. I, for one, chose to believe Richard Parker was indeed a Bengal tiger.

10/10

Vanessa

quarta-feira, 15 de junho de 2016

Sabes que não estás na Índia quando ...

Ligas para o serviço técnico da Vodafone e indicam-te o tempo médio de espera.

Chegas à fala com o serviço técnico em menos de dois minutos e 30 segundos depois de reportar uma avaria e ainda em chamada recebes uma mensagem a dizer que a avaria está em vias de ser resolvida.

O técnico cumprimenta cordialmente e agradece o tempo que aguardei.

O técnico pergunta em que mais pode ser útil.

A equipa técnica chega a horas e não uma semana depois e fala a tua língua.

A equipa técnica testa os equipamentos e é honesta o suficiente para dizer que o sinal de internet está fraco e proactiva o suficiente para tratar do assunto e tem ali o material necessário para o fazer.

A equipa técnica deixa-te com um documento comprovativo da sua presença e com uma descrição sumária do que foi feito em letra legível e ainda pergunta se preciso de mais esclarecimentos.

Às vezes sabe bem não estar na Índia, digo-vos.

Vanessa

terça-feira, 7 de junho de 2016

Rotina

Tem de haver por aí um manual de instruções sobre como ser normal, tudo o que o meu relógio biológico não é. Ora vejamos, o meu cérebro está totalmente desperto quando são horas de dormir. As minhas horas mais produtivas são as da madrugada. Devia ser fácil madrugar, certo? Não é, porque isso seria normal.

Só que agora não tenho a desculpa do jet lag. Tenho mesmo de admitir esta anomalia no sistema. Infelizmente o manual de instruções não veio com o aparelho e o aparelho não dispõe de botões de comando.

Vanessa

sexta-feira, 3 de junho de 2016

Como Lidar Com a Rotina Pós Viagem em 3 Passos

Regressar de uma viagem será certamente um dos momentos mais difíceis da curta existência de tal privilégio, mas temos para si um método infalível em 3 simples passos para que volte a cair na rotina sem melancolias. Independentemente do destino, saiba que é mesmo possível abandonar o sentimento provavelmente não muito agradável que ataca incautos viajantes pelo mundo fora: o aborrecimento pós-viagem.

Deixe-se guiar por estes simples passos para ganhar de volta o seu direito a uma vida banal sem nada a reportar e volte a sentir-se um membro produtivo da sociedade, mesmo que isso signifique passar a vida a trabalhar para pagar impostos e pouco mais, constituir família e criar cidadãos que sigam o mesmo fantástico destino.

Não desespere e siga os seguintes passos:

Passo 1: Repita para si próprio que este período de tempo é uma mera passagem. Se pensar em passagem e automaticamente lhe apetecer comprar uma passagem de avião, ignore o impulso. Certamente tem visto demasiado telenovelas brasileiras. O termo em português de Portugal seria bilhete de avião. Repita quantas vezes forem necessárias, até interiorizar que está de facto num período transitório. Poderá ser necessário incentivar o cérebro com algumas doses de açúcar, gordura ou cafeína (provavelmente a santíssima trindade, se a viagem tiver durado mais de três semanas). Nada tema. Se tudo correr bem, no futuro ganhará coragem para queimar as calorias excedentes num dos 1000 ginásios perto de si por uma mensalidade pouco simbólica.

Passo 2: Pegue em todas as fotos que tirou enquanto esteve em viagem e queime-as numa cerimónia íntima se for introvertido. Se for extrovertido, convide todos os seus amigos e conhecidos e faça da queima das fotos um evento. Não se esqueça de recordar os seus convidados mais adeptos do álcool de que já está em vigor a carta por pontos e que a pontuação não se trata de um jogo. Não se esqueça de juntar as cinzas e atirá-las num local simbólico para que se lembre de que tudo o vento levou. Considere-se sortudo por ter viajado sem o avião se despenhar, o cruzeiro se afundar ou o veículo se desviar da rota. Da próxima vez que lhe apetecer viajar lembre-se de que isso é uma possibilidade plausível graças a um fenómeno chamado gravidade.

Passo 3: Nunca mais viaje na vida. Não há melhor forma de acabar com a nostalgia do regresso ao corre-corre e assegurar uma vida pacata, sem grandes surpresas ou sustos, sem motivação ou ânimo do que eliminar completamente a hipótese de alguma vez voltar a deixar o território que ocupa neste momento. Aproveite o Passo 2 para queimar também o seu passaporte ou cartão de cidadão. O primeiro para arrasar qualquer possibilidade de deixar o país no futuro, o segundo porque nada o distinguirá de todos os outros cidadãos no colectivo de que faz parte, não sendo por isso não necessária qualquer identificação. Fuja para sempre de termos como "low cost" ou "wanderlust" ou hashtags que normalmente acompanham fotos com destinos paradisíacos e para sempre regozije-se na sua própria miséria e auto-comiseração.

Nota do editor: Para uma maior eficácia poderá também ser necessário eliminar qualquer perfil que tenha em redes sociais, o que só lhe trará benefícios colaterais e mais tempo livre para ser produtivo.

Vanessa

quinta-feira, 2 de junho de 2016

Old Age

Completed an age quiz on some random website found on Facebook. Thought it was somewhat trustworthy (chewing on a big grain of salt there) because it had general knowledge questions. 

Turns out knowing most of the answers makes me old. As in 55 years old. The result author went on to say I must have a perfect balance between work and social life (what gives?) and that I have learned a lot during my half a century stay on this planet. Erm. Knowing the answers means exactly the opposite, I think.

Identifying Saturn on an image, knowing who painted Mona Lisa, who invented the telephone, the name of a Beatles album were some of the questions on the quiz. Quickly answering those actually means I have book smarts, if nothing else. It does not prove my balancing skills between work and social life. 

It does not mean I'm older than I am, although taking this quiz as seriously as to write a post about it kind of makes me feel old. It's like I've just discovered the internet and still trust ads that entice me to believe there is someone out there who can enlarge a certain part of the human anatomy.

Anyway. Dear quiz writers (where can I send my resume, by the way?), please do not jump to conclusions based on generalized answers and risk pointing out to a woman she's older than she is.

I will not take it personally though. I guess I can always say that age is nothing but a number.

Wait, I can find a better cliché. I can say older means wiser.

Meh.

Vanessa