Os dois rapazes à minha frente entrelaçaram os dedos descontraidamente. Estou num país onde demonstrações de afecto em público são reprovadas e a homossexualidade não é a forma de vida mais popular na opinião pública. O gesto, por isso, intrigou-me e eu não consegui desviar o olhar.
Nesse mesmo dia vi dois rapazes a caminhar enquanto se seguravam pelo dedo mindinho. Outro com um braço à volta da cintura de outro. Mais comum ainda, o braço em cima dos ombros.
Sempre com pessoas do mesmo género. Homens e homens. Raramente, mas visível, mulheres e mulheres.
Aqui na Índia só não é bem aceite que um homem e uma mulher demonstrem sentimentos amorosos um pelo outro. Dois homens podem perfeitamente exprimir a sua amizade de forma física e andar de mãos dadas pela rua, da forma como em Portugal os pais dão as mãos aos filhos ou da forma como o fazem os namorados.
Já vi vários pararem para conversar, dar uma das mãos e ficarem a abaná-las como se os braços fossem uma corda de saltar. Já vi abraços sem pudores, braços dados sem restrições.
É uma escolha feita especialmente por rapazes das zonas rurais ou dos subúrbios como Nagoá de Vernã. Não existe uma explicação, porque aqui é normal que os rapazes andem de mãos dadas, da mesma forma que em Portugal é normal os rapazes trocarem um aperto de mão como cumprimento.
Eu tenho algumas teorias sobre o assunto, porque para mim é um fenómeno fascinante ver dois rapazes de dedos entrelaçados. Eu penso que por ser tão mal encarado que um rapaz e uma rapariga o façam, os rapazes decidiram extrair manifestações físicas de carinho dos amigos.
Afinal de contas, todos nós precisamos de conforto físico.
Desconfio também que alguns deles sejam de facto homossexuais e que aproveitem a abébia para poderem exprimir-se livremente sem olhares de reprovação. Talvez até tenha começado como forma de camuflar aqueles que são mesmo homossexuais. Se assim fosse, seria um gesto bonito.
Mas bonito, bonito. é mesmo ver os rapazes indianos de mãos dadas assim, sem pudores e sem receio de retaliações. Dá a impressão de que há aqui, neste país ainda em vias de desenvolvimento e ainda com tanto por fazer, uma evolução social que ainda não chegou a Portugal.
Vanessa
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