segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Este vai ser o Halloween mais aterrorizador de sempre

Fantasmas? Bruxas? Zombies? Aliens? Assassinos em série? Não. Este calor. Nunca em Outubro consegui que a roupa secasse num dia lá fora. Aliás, sempre foi frequente a roupa ter de secar dentro de casa. Nunca andei de manga curta em Outubro senão quando estive por esta altura na Índia. Tudo isto é assustador porque simboliza alterações climáticas e aquecimento global. Muito mais aterrorizador que qualquer personagem do folclore.

Por outro lado, são boas notícias para quem compra os fatos de Halloween mais sexy, aqueles com saias bem curtas e tops minúsculos. As vampiras e enfermeiras sexy desta Noite das Bruxas não vão apanhar resfriados.

Vanessa

sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Thor: Ragnarok vale a pena

Apesar de estar saturada de filmes com super-heróis, fui à antestreia de Thor: Ragnarok, realizado pelo para mim desconhecido Taika Waititi. Thor é daqueles filmes que nunca me cativou e sempre pensei que fosse por ter demasiada fantasia. Até que vi Doctor Strange e percebi que o problema não era a temática, mas o género.

Isso ficou resolvido em Thor: Ragnarok, que agora abraça a comédia e se transforma num filme muito mais apetecível para mim. A comédia é um género delicado. Quando o filme começou pensei que ia correr mal e que estava prestes a assistir a um desfile de humor fácil, como muitos filmes de acção agora fazem. No entanto, à medida que o enredo avançou, o lado de comédia tornou a estória mais fácil de engolir.

Nos dois filmes anteriores tinha pensado que se os momentos engraçados fossem mais prolongados e frequentes, o enredo seria mais interessante e menos absurdo e aqui tive a confirmação. Houve momentos hilariantes, daqueles de soltar uma lágrima de tanto rir, e nem a quantidade de personagens destronou o papel da comédia. Foi, aliás, muito mais fácil acompanhar cada personagem, até as secundárias, graças ao seu tipo de humor.

O enredo continua um pouco absurdo para mim, ao contrário de outros filmes da Marvel, que apesar de serem fantasiosos, conseguem manter algum sentido e incluir cenas plausíveis dentro do cenário. Por vezes custa-me entrar naquele mundo feito de outros mundos e seguir aquilo a que se chama MacGuffin, o ponto que motiva a acção, mas em Thor a jornada é agora mais agradável. O realizador apurou as motivações de cada personagem, deu-lhes nova vida (nunca gostei do Hulk até este filme), e conseguiu enriquecer todo o cenário, de tal forma que mais de duas horas de filme passaram num ápice, porque muito desse tempo foi passado a rir.

Este Thor vale a pena porque mostra o seu lado de entretenimento cinematográfico. O meu lado feminista também ficou contente com o filme. Mais não digo.

Vanessa

quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Fazer horas e perder tempo

Seria de esperar que fazer horas fosse produzir tempo. No entanto, se estiver a fazer horas, estou na verdade a gastá-las em função de algo que vem a seguir. Fazer horas ou fazer tempo são oxímoros interessantes. Significam para mim desperdício de parte do dia em função de algo importante. Em vez de produção, simbolizam consumo desmedido a troco de uma recompensa que valide a ocupação do tempo com coisas insignificantes.

Fazer horas ou fazer tempo são também sinónimo de espera. Era bom que fazer significasse fabrico, elaboração, execução, causalidade, ou acção no geral, mas para mim parece-me sempre uma coisa passiva, isso de fazer tempo. Associo-o ao gerúndio. É ir esperando mas com entretenimento. Em inglês, fazer tempo significa apressar. Andar nas horas, como dizemos em português, para cumprir a pontualidade. Fazer tempo em português, está para mim associado a perda pela falta de pontualidade de outra pessoa, ou então porque o meu apreço pela pontualidade faz com que chegue sempre demasiado cedo aos compromissos. Depois tenho de fazer tempo.

Não é por coincidência que o meu passa-tempo preferido é ler livros quando tenho de fazer horas. A leitura pode não fazer tempo como um artista faz uma escultura ou uma mãe faz o jantar, mas é uma das únicas formas de sentir que fazer horas não é perder tempo. Hoje, estive a fazer horas no aeroporto e não li, mas nenhum tempo foi desperdiçado enquanto esperávamos pela hora de embarque da minha mãe. Já tinha começado a escrever isto durante a noite, mas no aeroporto lembrei-me que na viagem do oriente para o ocidente o tempo faz-se. Chega-se no mesmo dia em que se saiu. Por isso, a minha família passa a vida a fazer tempo.

Tenho de viajar mais vezes para o oriente, para na volta sentir que o tempo se produz.

Vanessa

Um pedido de desculpas a Sahar Dofdaa

Às vezes escrevo e apago textos porque me parecem lamurias. Ontem vi a foto da menina síria, Sahar Dofdaa, que morreu de fome. As únicas coisas que me ocorreram escrever sobre o assunto são nada mais que lamurias. Por exemplo, a imagem ficou-me gravada no cérebro. Não os pormenores. Na minha memória persiste apenas um vulto esquelético na cama. Não lhe vejo o rosto. Mas isso não me impediu de não conseguir dormir. Um bebé de um mês de idade com menos de dois quilos. Uma mãe mal nutrida sem conseguir amamentar. 

De mim, só lamurias. Não consegui dormir e não consegui esquecer nem depois de dormir. Depois, quando comi, pensei no bebé. Isto são meros lamentos. Sou como a Murta Queixosa do Harry Potter. Um fantasma que choraminga. Na verdade, o que eu sinto não tem importância na escala global das coisas. Sahar Dofdaa e outros tantos bebés morrem todos os dias depois de o seu corpo se consumir por dentro até desaparecer.

São crimes sem punição suficiente. Já são milhares de vidas perdidas assim. Quando vi as notícias, todos os pormenores políticos, estratégicos, militares, médicos tornaram-se um borrão de palavras que nada me diz, mesmo sabendo que informação é poder. Quando estudei jornalismo não me ocorreu que a informação não servisse de nada em tantas ocasiões, que notícias sobre bebés-esqueleto não servissem para os salvar, que a indignação pública não nos movesse para a acção, que fosse possível haver um fosso entre países.

A 18 de Abril de 2008 falecia Edward Lorenz, pai da Teoria do Caos. Eu, verde na profissão de noticiar, escrevia no jornal digital JPN, "Lorenz partiu da premissa de que pequenos eventos podem causar mudanças caóticas a médio ou longo prazo e na década de 60 (...) desenvolveu um estudo intitulado 'Previsibilidade: O bater de asas de uma borboleta no Brasil desencadeia um tornado no Texas?'". Tinha sido a primeira ocasião em que os conceitos que me apresentavam as pessoas que entrevistei, por serem matemáticos e eu uma mera escritora, ultrapassavam a minha compreensão e tinham causado, por ironia, um verdadeiro caos mental.

Até que me foquei no conceito apresentado por um dos entrevistados. O caos determinístico. A ideia de que pode haver na desordem um conjunto de aspectos não aleatórios. Um padrão que faz sentido. Um sistema com explicação e resolução. As crises mundiais, as de fome, as de guerra, as financeiras, todas elas são caos determinístico. Todas elas são causa e consequência e todas as que têm impacto hoje em dia foram causadas por nós. Somos nós a borboleta que bate as asas num sítio e causa um tufão a quilómetros de distância.

As alterações climáticas geram conflitos. Nós agravamos as alterações climáticas. Nós persistimos no uso de combustíveis fósseis que degeneram as alterações climáticas que geram conflitos. Nós escondemo-nos por detrás de ideologias que se alimentam do caos gerado por nós e nos separam uns dos outros. Nós deixamos que tudo isto aconteça e consequentemente deixámos que Sahar Dofdaa morresse. Aqui está a Teoria do Caos.

Com isto, resta-me apenas oferecer um pedido de desculpas pessoal a todas as Sahar Dofdaas deste mundo.

Vanessa

terça-feira, 24 de outubro de 2017

Provavelmente nunca irei a Marte, mas o meu nome vai

A NASA vai enviar a missão InSight para Marte. Tal como aconteceu com a missão Orion, a agência espacial norte-americana vai enviar a 5 de Maio de 2018 dois microchips com os nomes de quem se inscrever neste site até 1 de Novembro próximo. O site gera um passaporte personalizado, à semelhança deste meu:

O programa InSight tem como objectivo estudar as características geofísicas de Marte como os processos de formação da geologia, temperatura e sismologia, mas principalmente chegar a uma explicação sobre a o processo de formação de planetas ao explorar as camadas terrestres do planeta vermelho.

Já que eu provavelmente nunca terei oportunidade para visitar Marte, ao menos vai o meu nome. Para que serve, não sei. Mas é uma ideia engraçada. Bom era eles enviarem também o endereço de email ou até contacto telefónico. Adorava ser contactada por um marciano ou por outro alien que por lá passasse.

Vanessa

O Círculo versus The Truman Show

Aviso: Spoilers. Em O Círculo (The Circle em inglês), de 2017, Mae é contratada pela maior empresa de tecnologia e redes sociais do mundo. A empresa investe em aparelhos e software com o intuito de tornar o mundo melhor através da democratização da informação, e da transmissão e cruzamento de dados. Todo o mundo parece achar boa ideia. Mae vai caindo numa teia de ilusões e torna-se porta-voz da empresa, uma influencer, e as suas decisões passam a ter influência não só sobre os que lhe são queridos, mas sobre toda a sua audiência.

Em The Truman Show - A Vida em Directo, de 1998, Truman é uma estrela de televisão sem o saber e não conhece outra realidade senão a que foi criada para o programa no qual a sua vida é transmitida. Todos os que conhece são actores, muitos dos produtos que usa são na verdade patrocínios, todas as decisões estão fora do seu alcance. Todo o mundo parece achar boa ideia assistir à vida de uma pessoa que não sabe que é o protagonista de um programa televisivo. Truman vai saindo da teia de ilusões ao longo do filme.

O Círculo tem uma cotação de 5,3 no IMDb. The Truman Show tem 8,1. O Círculo apresenta-se como drama, ficção científica e thriller. The Truman Show como comédia, drama e ficção científica. À parte isso, por que razão decidiria eu juntar os dois filmes numa única publicação? Para mim, as temáticas são semelhantes. Privacidade. Entretenimento. Informação. Futuro. No entanto, ao primeiro dei uma classificação de 3 e ao segundo dei um 9. Podia ter escolhido A Rede Social ou o livro 1984. Mas pareceu-me que a comparação mais justa seria o Truman Show. Um protagonista, um conflito, uma resolução catártica. No Círculo foi isto mas em mau.

Uma das premissas para que uma obra de ficção seja aclamada é o protagonista ser representante de todos nós. Há que haver algo que nos faça relacionar com a vida, os conflitos internos, ou até mesmo só a aparência do protagonista. Mae, zero. Truman, 1. Mae é aborrecida, apática a maior parte do tempo, demasiado simpática, demasiado ingénua, demasiado cega. Truman é o rosto de todos nós. Mas com carisma.

Círculo quer ser um filme sério. Um drama com proporções plausíveis. Só que não. Alguma vez milhares de pessoas aceitariam perder a sua privacidade da forma que o filme mostra? O filme faz com que a empresa pareça um culto e não uma hipótese, os seguidores como seres sem alma e zero sentido crítico, groupies até. The Truman Show difere no sentido em que se apresenta maioritariamente como uma comédia. É uma versão satírica de um cenário futurista. É intencionalmente exagerado. Torna-se assim uma crítica social com bom gosto.

O conflito é um dos catalisadores de toda a acção. No Círculo, os conflitos não passam de pormenores. A questão da privacidade é constantemente posta de lado em função do bem comum, mas quase sem consequências que causem impacto visível. Os conflitos que decorrem da acção parecem supérfluos, despojados de significado. Até há alguém que morre. Mas minutos depois, a protagonista continua na ilusão. Em Truman o impacto das emoções é gerido com mestria e não só porque Jim Carrey é um actor brilhante. O impacto sente-se muito mais porque as personagens, até as que na ficção são também ficcionadas, estão bem desenvolvidas.

A resolução por isso é muito mais emocionante em Truman Show. No Círculo nem tanto. Em ambos os filmes, o conflito é causado por criadores e a resolução no acto de os desmascarar. No Círculo o acto final é apenas uma coisa que acontece para concluir o filme. Não há um escalar de acontecimentos. A protagonista vai aceitando e até impondo, contribuindo para o conflito em vez de o tentar combater, e depois passa a perna aos criadores. Em Truman Show há toda uma carga simbólica que embrulha o desfecho com um laço bonito quando Truman se revela metaforicamente como o True Man, caminha sobre a água como Jesus e confronta o criador.

Ambos os filmes apresentam possibilidades muito remotas e até absurdas de formas diferentes. Ambos chegam a ser caricaturas. No entanto, um deles leva-se demasiado a sério. O outro satiriza. No fundo, o enredo de Truman Show parece um círculo enquanto que o Círculo parece uma linha em ziguezague.

Vanessa

segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Reserva Natural das Lagoas de Santo André e da Sancha

A Lagoa de Santo André, entre Santiago do Cacém e Sines, é na verdade uma ponte entre o homem e a natureza. Todos os anos, desde o século XVII,  lagoa é aberta ao mar, antigamente com o auxílio de animais, e hoje com máquinas. Actualmente a empreitada faz-se no equinócio da primavera, altura em que a lua nova permite que as marés sejam extremas e facilitem o processo de renovação das águas e dos organismos da lagoa.

Na Reserva Natural das Lagoas de Santo André e da Sancha, homem e natureza convivem e beneficiam-se. Há aqui mais de 270 espécies de aves e 510 espécies de plantas. A enguia é protagonista, sendo muito apreciada na gastronomia local, mas vive também na reserva um peixe chamado pardelha, espécie rara em Portugal. A Lagoa de Santo André está classificada como Zona Húmida de Importância Internacional e com boas razões.

Há aqui dunas e pinhal, caniçais e salgueirais, espécies de água doce e de água salgada em harmonioso convívio. Este é o maior sistema lagunar da costa alentejana. Numa próxima visita tiro mais fotos do que estas.

O meu roteiro:
Museu Municipal de Santiago do Cacém
Castelo, Igreja Matriz e Cemitério de Santiago do Cacém, Alentejo
Praia Vasco da Gama, Baía de Sines, Setúbal
Ilha do Pessegueiro, Porto Covo, Alentejo Litoral
Vila Nova de Milfontes, foz do rio Mira, Praia das Furnas
Barragem de Santa Clara, rio Mira em Odemira, no Alentejo Litoral

Vanessa

Preçário de custos

Preço e custo são definidos de forma semelhante no dicionário, mas as definições secundárias são diferentes. Preço não é apenas o valor pecuniário. Pode significar também castigo. O preço a pagar. Pagar caro. A qualquer preço. Por outro lado, o custo não significa apenas o preço monetário a pagar. Com certeza que algo que custe os olhos da cara requer um esforço que vai além do valor da moeda. Custe o que custar e a todo o custo não se referem apenas ao dinheiro. O custo vai além do preço e o preço é muitas vezes a soma de todo o custo.

Trabalhar tem um preço mas implica também um custo. O trabalho custa-nos tempo e espaço mental, o preço a pagar, e a moeda de troca é moeda literal, um ordenado. Parece-me, no entanto, que o valor do trabalho hoje em dia é desvalorizado. Digamos que a mão-de-obra está ao preço da uva mijona. O custo neste contexto é a perda da qualidade de vida porque ao vendermos os nossos serviços, perdemos muito no processo.

Quando me tornei freelancer pela primeira vez, passei a encarar os preços como deduções de tempo. Um saldo cada vez mais negativo. Cada preço passou a equivaler ao (custo do) número de horas que levava da minha vida para chegar à quantia final. Ou seja, digamos que um café podia significar 10 minutos de trabalho. Ou seja, 10 minutos de vida a menos para pagar o preço do café. Um preço, um custo. O ganho podia ser mais rendimento, uma vez que o café também ajuda na produtividade. Mas tempo de vida é mais importante.

Hoje em dia é-me mais fácil fazer contas à vida. Sei que um livro ou uma camisola ou um jantar fora podem ter o custo de duas horas de trabalho. É um preço alto. Duas horas de vida vezes não sei quanto tempo total. Horas perdidas à conta de caprichos. Ou necessidades? O problema é que gastar o que se ganha custa virtualmente nada. E é cada vez mais fácil. Às vezes bastam três cliques. Nem é preciso pensar. Mas ser pobre em valores monetários foi o que me fez pensar no verdadeiro preço a pagar. No real custo das coisas.

Diz-se que tempo é dinheiro. Nesse sentido, nascemos tecnicamente milionários. Mas até isso é temporário. Primeiro, porque a cada aniversário estamos mais próximos da morte. Segundo, porque oferecemos o nosso tempo em troca de tão pouco. Terceiro, porque nos esquecemos de que o custo resume-se ao tempo que perdemos. Quarto, porque o trabalho como meio para atingir um fim, fim esse a qualidade de vida ou a felicidade ou o que lhe queiramos chamar, é também um meio para ir perdendo o fim aos poucos.

Somos todos moeda de troca. Somos preço e somos custo.

Vanessa

Coisas corriqueiras

Este foi um fim-de-semana de comer coisas que sabem bem mas fazem mal à saúde, de estar com amigos que já são família, de ver filmes maus e bons. Foi um fim-de-semana de inverno e o clima esteve à altura.

No meu antigo blogue era habitual escrever sobre os aspectos mundanos da vida, descrever eventos, estados de espírito, coisas sem muita substância. O meu antigo blogue era mais anónimo do que este e não sei até que ponto esse aspecto tornava mais fácil a escrita de coisas corriqueiras. Havia uma certa leveza.

Agora as coisas são mais pensadas porque assino com o meu nome. Não há pseudónimo quando desabafo e por isso há um maior cuidado em tornar politicamente correctas as minhas publicações. Mas é sem querer.

Por outro lado, penso mais nas coisas. Se dantes pensava que pensava muito, a idade piorou o meu estado introspectivo. Às vezes até me faltam as palavras para exprimir e por isso desisto. Escrevo e apago.

Este foi um fim-de-semana de coisas corriqueiras e dei por mim a querer escrever sobre isso como dantes fazia. Às ponho-me a ler as parvoíces que escrevia. Rio-me de mim própria. Fico surpreendida com tudo.

Parece que estou a ler coisas de outra pessoa.

Escrevia sem letras maiúsculas porque achava ser mais democrático. Não queria que as palavras se sentissem injustiçadas. Frequentemente, as publicações consistiam em meras frases. Sinto que era muito mais criativa do que agora. Escrever não envolvia esforço de forma alguma. Não pensava em temas que poderiam ser de interesse público ou pessoal para escrever sobre eles. Nunca pensava na possibilidade de ser aborrecida, demasiado crítica, controversa, inconveniente. Simplesmente escrevia e deixava estar.

Acho que o meu cérebro funcionava melhor por tudo isso. Mantinha um diário onde escrevia tudo o que era mais íntimo, mantinha um blogue onde escrevia sobre tudo o resto e às vezes até sobre o que era íntimo. Em conclusão, era mais criativa e encarava a vida de outra forma. Se calhar mais infantil.

Se calhar, voltar a fazer tudo isso seria como voltar atrás no tempo. Não vejo mal nenhum nisso.

Vanessa

quinta-feira, 19 de outubro de 2017

Museu Municipal de Santiago do Cacém

O edifício do Museu Municipal de Santiago do Cacém foi outrora a Cadeia Comarcã. No museu é possível encontrar uma colecção de numismática com exemplares do século III a.c. até à República, uma mostra etnográfica com o contributo dos habitantes do município, e exposições sazonais. Quando visitei o museu, estava exposta uma galeria de pintura de Claude Yersin. No museu prestei especial atenção aos vários retratos da família dos Condes de Avilez, uma vez que vi o meu apelido, Sousa, em grande parte das placas de identificação. A árvore genealógica da família Avilez acrescentou o apelido Sousa Tavares quando D. Maria Francisca Mafalda Rita Salema de Andrade Vila Lobos Guerreiro de Aboim casou com Jorge de Avilez Zuzarte de Sousa Tavares, segundo conde de Avilez. Achei piada à curiosidade, mas a verdade é que Sousa é um apelido muito comum.

Na galeria com os quadros do pintor Claude Yersin houve um quadro em especial de que gostei e fiz questão de fotografar em vez de o comprar pelos 250 euros que vale. Todos os quadros, de longe, parecem fotografias de paisagens ou de momentos quotidianos, mas são trabalhos manuais a pastel, aguarela e óleo.

No jardim em frente ao museu encontrei um frigorífico antigo que serve de biblioteca, improvisada e sem supervisão. Em Porto Covo, onde tinha estado na semana anterior, havia uma cabine telefónica que era também uma biblioteca. É engraçado como estas ideias geniais abundam em cidades do interior, que seria de esperar serem desertos. Há sempre tantas ideias que poderíamos roubar e trazer para os centros populacionais.

Visitei ainda o Sítio Arqueológico de Miróbriga, mas acabei por não fazer o percurso para não pagar a entrada (três euros, penso eu, mas o preço não está indicado em nenhum site oficial). As ruínas são de um povoado que surgiu durante o Bronze Final e a Idade do Ferro (séculos VI-I a.C.). Vi apenas um pouco a partir da entrada.

O meu roteiro:
Castelo, Igreja Matriz e Cemitério de Santiago do Cacém, Alentejo
Praia Vasco da Gama, Baía de Sines, Setúbal
Ilha do Pessegueiro, Porto Covo, Alentejo Litoral
Vila Nova de Milfontes, foz do rio Mira, Praia das Furnas
Barragem de Santa Clara, rio Mira em Odemira, no Alentejo Litoral

Vanessa

A meta arte de Stefan Draschan

O fotógrafo e activista austríaco Stefan Draschan passa horas em museus, em Paris, Berlim e Viena. Como resultado, conseguiu uma série de fotos em que os observadores dos quadros parecem saídos da tela. Quem vê as imagens poderia pensar que as fotos são planeadas, ensaiadas, orquestradas, mas o resultado é mesmo conseguido após horas e até dias à espera do encaixe perfeito: da harmonia, da oposição ou só do humor que a combinação inesperada ou peculiar entre os transeuntes e os quadros transmite.

Na série de imagens intitulada People Matching Artworks há uma correlação entre formas e cores, mas também contexto. O observador torna-se uma extensão da obra, ou vice-versa. Há pessoas a usar roupas parecidas aos dos retratados nos quadros, em situações e poses semelhantes, mas por vezes também em contraste, com obras de séculos idos e detalhes do quotidiano de hoje numa só fotografia que se torna assim meta arte.

Stefan Draschan expõe também fotos de pessoas a dormir em museus, casais com visuais a condizer, e até carros a condizer com casas. O olhar satírico e humorístico do fotógrafo é um exemplo da arte a imitar a vida a imitar a arte, mesmo que seja apenas por coincidência. As fotos que vi são uma ponte entre dois mundos.

Edição: O Bored Panda fez uma compilação de algumas das melhores fotos da série People Matching Artworks.

Vanessa

quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Coisas que não mudam

No final de 2014, a campanha do Euromilhões tinha como slogan, "Há coisas que não vão mudar". Mas a memória colectiva frequentemente transforma o slogan em, "Há coisas que nunca mudam". O ano passado, em Agosto, publicava eu um poema de rimas absurdas a sumarizar a questão dos incêndios, intitulado Somatório Escaldado. E agora, um ano passado, um pouco mais tarde, voltamos ao tema pelas piores razões.

O ciclo parece-me o mesmo todos os anos. Há incêndios, perde-se património nacional e pessoal, perdem-se vidas. E depois perde-se tempo, de cabeça quente, com a questão das culpas e uma lista de necessidades para que a situação não se repita. Entretanto, parece que nos perdemos no tempo e no espaço quando estão os ânimos em fase de rescaldo. E damos por nós no ano seguinte com mais incêndios e depois mais culpas, e nada.

Comecei por escrever sobre uma campanha publicitária apenas para questionar de forma retórica se nos ficamos com um "há coisas que nunca mudam" ou um "há coisas que não vão mudar". Ou se passamos ao slogan da Nike e para o ano conseguimos preservar e reproduzir a riqueza que sobrou após anos de incêndios.

Lembro-me agora de uma frase de Tarun Sarathe, frequentemente usada em imagens, sem alusão à autoria, e que em forma de ironia ou sátira resume a chave do nosso problema: "Imagine if trees gave off WiFi signals. We would be planting so many trees and we'd probably save the planet too. Too bad they only produce the oxygen we breathe." Tradução: "Imagine-se que as árvores emitiam sinais WiFi. Plantaríamos tantas árvores e provavelmente também salvaríamos o planet. É pena que elas apenas produzam o oxigénio que respiramos."

Vanessa

quinta-feira, 12 de outubro de 2017

Castelo, Igreja Matriz e Cemitério de Santiago do Cacém, Alentejo

Com a chegada dos Mouros, em 712, a povoação ganhou o nome de Sant'Iago de Kassen em memória do governador árabe, Kassen, ou segundo reza a lenda, história que prefiro, a princesa Bataça Lascaris, fugida algures do Mediterrâneo, veio para a região e derrotou o governador Kassen e posteriormente baptizou a terra com o nome de Sant'Iago de Kassen. Foram os Mouros que ergueram um castelo nesta localidade que agora se chama Santiago do Cacém, castelo esse quase totalmente preservado até hoje. No século XIII foi construída a Igreja Matriz no local onde anteriormente tinha estado uma mesquita árabe junto ao castelo. Em 1838, a câmara municipal inaugurou dentro do recinto do castelo um cemitério, já que começavam a ser proibidos túmulos dentro das igrejas. Estão por isso concentrados aqui três monumentos interessantes para visitar.

Infelizmente, o castelo não é fácil de fotografar, e sinceramente não me pareceu muito fotogénico. Não fotografei as muralhas senão quando já estava de visita ao cemitério. Depois de conhecer a história da Igreja Matriz, para dizer a verdade, quase me esqueci de que estava dentro de muralhas. Com o terramoto de 1755, a igreja e o castelo sofreram alguns estragos. Em 1895, a igreja foi incendiada por anarquistas no seguimento de distúrbios sociais da época. Depois de reconstruída em 1902, ardeu novamente em 1912. Reabriu em 1924. Sofreu ainda alguns percalços, reconstruções para a manter fiel à história, e renovações várias mas segundo uma gravação na parede, foram os esforços do povo que mantiveram o monumento preservado até à data.
 Nota: toda aquela quantidade de lotes juntos e simétricos são túmulos de crianças. 

O meu roteiro:

Vanessa