domingo, 10 de janeiro de 2016

Ser freelancer

Houve uma altura em que eu estar à frente do computador significava lazer. Os meus pais assumiam que eu estava a brincar. A jogar qualquer coisa. Hoje em dia, significa trabalhar. Os meus pais e todos os que me conhecem assumem que se estou ao computador, estou a trabalhar.

Ser freelancer é um pouco isso. É estar sempre ao computador e quase sempre a trabalhar, digo. É também haver lazer e trabalho à mistura se tivermos sorte no projecto que perseguimos ou aceitamos. É aproveitar todas as oportunidades porque nunca se sabe quando haverá um período de seca. 

Mas, pelo menos pelo que percebo de expressões e conversas e coisas que me dizem, ser freelancer é também não ter um trabalho a sério, especialmente porque as pessoas que eu conheço medem o sucesso pelo número e tamanho das aquisições, e os freelancers que eu conheço não costumam adquirir muito.

Aqui sentem-se essas coisas ainda mais, porque os valores são muito diferentes, assim como acontece na outra terra de onde venho, Moçambique. Os ideais de sucesso para uma mulher são o casamento e os filhos. Por isso, de todas as vezes que falei com primos e tios de cá e de lá as perguntas foram sempre relacionadas com isso.

Imagino que aos olhos da minha família mais afastada eu seja um bicho muito estranho. É que para além de não ter casado, de não ter filhos e de não ter a pretensão de atingir tais objectivos num futuro tão próximo, ainda tenho uma profissão que não se sabe bem o que é a fazer coisas que não se sabe bem o que são.

Por isso é que é frequente ouvir os meus pais dizer: "Ah, ela faz aí umas traduções na internet" ou, "Ela trabalha no computador". Eu cá vou aproveitar a oportunidade de vir de uma família de pescadores, do lado dos Sousa, para dizer que costumo pescar na internet. Ser freelancer é isso mesmo, afinal de contas.

Vanessa

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