Aqui convive-se de perto com o lixo que fazemos. A recolha do lixo é coisa recente e é feita uma vez por semana, ao sábado. Só recolhem o lixo sólido. Antes disso e até hoje em dia, a maioria do lixo é queimado nos quintais. O final da tarde é quase sempre marcado pelo odor das queimadas. O fumo faz lembrar o nevoeiro dos dias de Inverno em Portugal, mas tenho que confessar que as fogueiras, inclusivamente na rua, nos locais de escoamento de água, dão um autêntico espectáculo pirotécnico impossível de ignorar.
Aqui não há supermercados como em Portugal, com tudo embalado e regado ou encerado para parecer mais fresco, com produtos já lavados e cortados, com talhos e peixarias cheias de requintes exigidos pela ASAE. Aqui compram-se os produtos a quem os produz ou a pessoas próximas de quem os produz, vê-se galinhas antes de lhes ser cortado o pescoço, compra-se o peixe mesmo ao lado de onde se deitam as tripas e os restantes cortes, de onde emana um cheiro nada agradável.
Aqui não tenho esquentador e, para não tomar banho de água fria, já sei precisamente quanta água gasta o meu banho diário. Duas cafeteiras de 1,7 litros cada uma, devidamente diluídas com água fria para fazer o morno ideal, se quiser lavar o cabelo; uma se for uma coisa mesmo rápida; duas se estiver mesmo a precisar daqueles banhos de onde saem ideias inspiradoras.
Aqui convive-se com o que queremos e com o que não queremos. O melhor e o pior. Não há grande excepção, a não ser que nos barriquemos e fervamos tudo com mãos protegidas por luvas antes de ter de lidar com o que quer que seja. Acabo por estar num local mais sincero, onde se vê em primeira mão a consequência directa de qualquer coisa que façamos. Não quer dizer que goste.
Vanessa
Sem comentários:
Enviar um comentário