Primeiro o aroma que dá as boas-vindas ainda antes do encontro. O som da máquina e o fumo. Uma chávena quente pousada debaixo do fio negro que se acomoda à loiça e se espalha. Três dedos de aroma e sabor entrelaçados. O calor torrado e o paladar perfumado na língua. O choque térmico. O despertar sentido e o sentidos a despertar. Um gole. Dois goles. Uma pausa. Olhar pela janela e sentir a asa da chávena em três dedos. Terceiro gole. Pousar a chávena e poupar o prazer. O sabor expande-se. O calor conforta-se por dentro. O amargo no céu da boca e na língua sente-se melhor com os lábios presos um no outro. É por isso que o café sabe melhor em silêncio. Só de vez em quando. Conversas entre cafés são um gosto à parte. Entretanto ficou morno. A dúvida prende-se. Um gole cheio ou dois goles poupados? Chávena pousada na indecisão.
Nota. Estou há menos de um mês sem tomar uma bica e já a saudade se instalou. Não há aqui bicas. Um espresso é uma raridade. Aqui bebe-se chá. É um outro prazer. Desconfio que as bicas sabem melhor no país onde aprendi a gostar de bicas. Aqui há o que chamamos de carioca. Há o apelidado de abatanado. Há o chamado café da avó. Há a banheira. Há o Nescafé. Há galões. Mas esses sabem mesmo ao galão que sempre conheci. Só o café é que não sabe ao café português. Sabe a menos. Fica a vontade. Bebe-se o café daqui e metade do desejo fica na chávena. Não é propriamente uma desilusão. É uma habituação. A Índia não é um país de bons cafés. Mas eu desconfio que me consigo habituar ao chá. "Em Roma, sê romano".
2 comentários:
Oh Vanessita queres que eu te mande praí cafezinho do café dos meus pais? :p
Eu acho que aguento e vou pessoalmente tomar uma bica lá :)
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