domingo, 18 de fevereiro de 2018

Jornalixo VIII num caso de choque (cético) em cadeia

Está tudo dito no post anterior em relação ao "choque cético". Entretanto o Diário de Notícias e o Jornal de Notícias actualizaram os seus artigos. O DN escolheu usar o termo "sético" e o JN optou pelo termo "séptico". Tinha eu dito que no Brasil a palavra podia ser escrita de duas formas. Parece que o mesmo se passa aqui.

O tal do "choque cético" mantém-se em outros dois jornais que não mencionei no post anterior. Tanto o Jornal i, que publicou o artigo pelas 11:30, como o Sol, cuja hora não encontrei (mas há um comentário que aponta o erro publicado há oito horas) contêm a gralha. São assim quatro os jornais que não se aperceberam disto, dois deles publicando depois dos dois primeiros. Se calhar não houve tempo depois do copy/paste para uma revisão.

Vanessa

Jornalixo VII num caso de choque cético

Quando li esta notícia do Diário de Notícias sobre Rosângela dos Santos, uma brasileira de 37 anos alegadamente sepultada viva desde o dia 28 de Janeiro na Bahia, eu própria padeci de choque céptico porque não queria acreditar no que os meus olhos viam. É que não bastava o acordo ortográfico ser a confusão que já é. Tinha também de criar problemas de semântica. O meu choque prosseguiu quando reparei que o artigo do Jornal de Notícias continha o mesmo erro. Ambas os artigos referem que Rosângela sofreu de "choque cético".

Fui logo pesquisar pela notícia em meios de comunicação brasileiros. Nenhuma delas continha a palavra "cético". A única coisa que está por esclarecer é o dia do enterro, porque uns noticiam que foi a 28 de Janeiro, outros que foi a 29. Mas todos concordam que Rosângela terá estado viva dentro do caixão durante 11 dias, após ter sofrido um choque séptico e supostamente ter falecido, e que durante os 11 dias há testemunhos de ruídos provenientes do seu lugar de descanso, razão pela qual o caixão foi aberto para confirmação.

O meu cepticismo desvaneceu quando me lembrei de que já perdi há muito a fé na humanidade e que os jornalistas estão incluídos nesse nome colectivo. Mas não deixo de me surpreender com a falta de humanidade e rigor dos meios de comunicação com a pressa de noticiar o mais rápido possível. À hora a que escrevo, o artigo está há seis horas no site do Jornal de Notícias e há cerca de duas no do Diário de Notícias. No entanto, o erro permaneceu este tempo todo. Não vou criticar o acordo ortográfico senão para dizer que em Portugal céptico passou a ser cético e que no Brasil mantêm-se ambas as grafias. Aqui simplificámos e e ao mesmo tempo complicámos a ortografia, a julgar pelos erros que me farto de encontrar nas notícias. Erros como este.

No artigo o que se queria dizer é que Rosângela sofreu de choque séptico. Não céptico e não cético. Antes do acordo, nem sempre o P era silencioso, da mesma forma que o C em facto não é silencioso em todas as vocalizações. Se calhar o P de céptico caiu para realmente não se confundir com o homófono séptico. Olhem no que deu. Havia aqui tantas piadas que poderiam ser feitas e até podia reconhecer que errar é humano, mas não o vou fazer por respeito a Rosângela dos Santos. Já basta a gralha em si.

Corri o parágrafo em questão no Flip, um corrector ortográfico e sintáctico gratuito na internet, e o erro foi detectado apenas quando não escolhi a opção do acordo ortográfico e meramente porque céptico sem P antes do acordo é considerado erro. Para uma pessoa com bons conhecimentos de língua portuguesa, talvez isso bastasse para despertar a atenção e reparar que algo não fazia sentido naquela frase. De qualquer forma, os humanos têm de estar atentos quando escrevem, porque as nuances do discurso são demasiado complexas para serem detectadas pelas máquinas e neste caso estamos a falar de um erro que não é nada subtil.

Vanessa

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

Ao fim e ao Cabo

A julgar pelo que aprendi na escola, pensava assistir ao fim do petróleo por esta altura: eu com 30 anos, um canudo e montes de coisas concretizadas. Só que não. Nas aulas em que se falava do meio ambiente, era sempre certo ouvir qualquer coisa como os combustíveis fósseis terem os anos contados. Primeiro era daí a 20 anos que veríamos o fim. Depois passou para 30. Depois ouvi já na faculdade que as reservas davam apenas para 40 anos. Todos os anos parecia que o petróleo se reproduzia sozinho e que a data até ao fim do ouro negro se alargava. Estaríamos a poupá-lo? Teríamos descoberto mais? Será que tudo o que aprendi na escola era mentira?

O que eu nunca esperava era passar dos 30 e ainda existirem conflitos pelo petróleo, financiados pelo petróleo e, resumindo, causados pelo petróleo. Muito menos esperava passar dos 30 e assistir ao fim da água em algum sítio. Só esperava ver o petróleo acabar e o mundo a evoluir para outra coisa. Esperava que à medida que se fosse conquistando o espaço para lá do planeta se fossem conquistando soluções para todos os problemas que já existiam na altura e que parecem piorar a cada década. Qual dos problemas o pior? O petróleo, a água, a poluição, a fome, a desigualdade. Seria mais fácil perguntar: o que não piorou?

O Dia Zero está a chegar para a Cidade do Cabo na África do Sul. Será a primeira grande cidade a ficar sem água, cuja reserva poderá terminar em Abril, a não ser que aconteça um milagre daqueles bíblicos. Estamos a falar da cidade que em 2014 foi considerada pelo New York Times e pelo Daily Telegraph como a melhor no mundo para ser visitada. 2014 foi apenas há quatro anos. Estamos a falar de uma cidade com uma desigualdade tremenda entre brancos e negros, e respectivamente ricos e pobres, zonas afluentes e outras de improviso.

Estamos no fundo a falar de uma cidade que é um pequeno mundo.

Por outras palavras, o mundo é a Cidade do Cabo em ponto grande.

Por falar em mundo, actualmente mais de mil milhões de pessoas não têm acesso a água potável e 2,7 mil milhões têm-na de forma imprevisível. E eu em pequena a pensar que o problema era o petróleo. Mas no fundo é, eu sei. O uso do petróleo polui, a poluição contribui para as alterações climáticas, as alterações climáticas fizeram com que não chovesse nada de jeito na Cidade do Cabo durante três Invernos. O uso do petróleo corrompe, a corrupção gera desigualdade, a desigualdade parece gerar pobreza em 99% da população, a pobreza extrema multiplica a ignorância; a ignorância causa uso descuidado de recursos, falta de atenção para problemas mundiais porque foca as pessoas na sobrevivência, e sobrepopulação. Et Cetera.

Por tudo isto e muito mais, pela Cidade do Cabo e por outras que inequivocamente vão seguir este caminho assustador, em gesto de solidariedade e frustração eu apenas engulo em seco.

Vanessa

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

Roupa velha

Não sei se as indumentárias das celebridades e dos monarcas são objecto de cobiça ou se há meios de comunicação que assim o fazem parecer. Sempre que alguém famoso veste algo remotamente parecido com aquilo que se vende em lojas de roupa mais humildes, ou até mesmo quando a roupa é de alta costura, há uns quantos sites que ajudam os leitores a encontrar tais peças. Eu não percebo a piada de vestir o mesmo que personalidades da esfera pública. Talvez seja uma forma de as pessoas se aproximarem dos seus ídolos. Talvez seja um truque de marketing. Talvez seja porque não há mais nada para noticiar.

Seja como for, não compreendo. Eu já não entendia a moda antes disso, por isso talvez seja esse o problema. Não consigo perceber quem dita as tendências e por que razão elas devem ser reconhecidas e seguidas. Não percebo o intuito de mudarem constantemente o estilo das calças. Boca de sino, corte direito, boyfriend, skinny, culottes. Não entendo designs que de repente se tornam trendy. Não sei nada sobre apliques tirando que na maioria das vezes são feios. Já tivemos picos e studs, lantejoulas, botões decorativos, coisas que são statement mas não sei do quê. Uma pessoa compra roupa e já ela é velha e passou de moda. É como a tecnologia, mas em pior. É como tudo na vida: passageiro e cíclico e caro. Por que razão devemos mudar com as tendências?

Mais depressa consigo perceber as teorias da conspiração mais absurda do que consigo perceber destas coisas. Sou, como se diz, uma pessoa que não vai em modas. Mas isso de seguir modas não é recente. Desde sempre são as elites que geram cobiça em coisas vãs. Só que agora com a internet o caso mudou de figuras. Há mais e pior, há exagero e controvérsia, e infelizmente há peças que esgotam e que continuam a alimentar o ciclo de consumo exagerado que por sua vez alimenta a produção sem rédeas. À medida que há cores da moda, há rios que se tingem dessas cores e mão-de-obra explorada e plástico que depois vai parar onde não devia e gente a enriquecer. No fundo eu até compreendo vagamente tudo isto. Preferia era não compreender.

Vanessa

Prendada

Em Janeiro encomendei cinco livros em dias diferentes. Não olhei a datas nem planeei para que chegassem em determinada altura. Um chegou no meu dia de anos. Dois chegaram hoje, Dia de S. Valentim. Talvez tenha sido o meu subconsciente a planear para que assim acontecesse. Talvez tenha sido coincidência. Seja como for, os livros são sempre bem-vindos. Livros no correio têm sido momentos altos na rotina. A alegria perde-se quando me ponho a pensar no tempo que vão ter de esperar para ser lidos, mas o momento de os receber vale a pena.

A minha capacidade de planeamento fica-se pelo aleatório e a coincidência. Aquilo que realmente planeio ou até as possibilidades em aberto são sempre miragem. Nunca vi planos tão passageiros como os meus. Até me podem dizer que não há presente como o presente, mas há e são os planos concretizados. Todos os anos é a mesma coisa e acabam por ser os livros no correio os picos de felicidade nos 365 dias. Sou sempre muito boa a oferecer prendas a mim própria. Por isso sou prendada, na verdade. No sentido de ser boa a receber prendas. 

Vanessa

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

Catarse em memes VI


Vanessa

Jornalixo VI ou de como não são os espargos que causam cancro

A acreditar em várias notícias por cá, os espargos contêm um composto que promove ou piora o cancro. Por exemplo, diz a RTP que foi Descoberto aminoácido nos espargos que propaga o cancro da mama. Ou, diz o Observador, Propagação de cancro da mama associada a composto presente em espargos. Mais alarmista, o Notícias ao Minuto tem um artigo intitulado: Estes alimentos podem impulsionar a propagação do cancro. Lá fora, a luta contra os espargos foi mais agressiva. O britânico The Times diz no título de um artigo que evitar os espargos pode ajudar a combater o cancro (Laying off asparagus may help beat cancer). O The Guardian diz que a metástase do cancro da mama está ligada aos espargos e outros alimentos, mas o link sugere que o título foi originalmente ainda pior, sugerindo que cortar os espargos da dieta pode prevenir o cancro (Spread of breast cancer linked to compound in asparagus and other foods). Eu digo: deixem os espargos em paz.

Os cientistas e investigadores concordam comigo. Ora veja-se aqui. Tudo não passou de um (muito) mal entendido. No estudo original, publicado na publicação Nature, relaciona-se a asparagina, aminoácido presente em tudo o que contém proteína, portanto literalmente quase tudo o que é comida e não só os coitados dos espargos, com a metástase de cancro, especialmente o da mama. O estudo sugere que quão maior o nível de actividade da asparagina, mais facilmente se espalhou o cancro da mama nos ratos de laboratório usados nesta experiência. Isto nem sequer é uma descoberta e já existe medicação para tipos de cancro como a leucemia que contem um bloqueador de asparagina. Além disso, o estudo original nem sequer refere a palavra "espargos". Mas também, ao preço a que eles estão, já antes disto eram um inimigo público.

Para quem quiser vasculhar esta lixeira cada vez maior:

Vanessa

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

A melhor dica para se proteger do frio

As dicas de combate ao frio que abundam nas notícias sempre que as temperaturas se tornam menos amenas são estúpidas. As empresas de construção, especialmente a do meu prédio, tomaram a decisão estúpida de construir casas que parecem feitas de papel a pensar que estavam num país tropical onde não há frio nem humidade. À conta do frio juntamente com a humidade, isso de usar camadas de roupa é estúpido porque uma pessoa sente que está a cobrir-se de tecido humedecido pelo gelo do congelador e até os ossos se arrepiam. Tomar bebidas quentes é uma solução temporária, mas tudo o que é líquido passa directamente do modo quente ao ponto de queimar a língua para o modo gelado de gelo, e como uma pessoa sua menos quando está frio, tem de passar a vida a mudar a água às azeitonas, o que não é nada confortável depois de se obter uma temperatura suportável debaixo de 20 mantas de flanela e tecido polar. Eu tenho uma dica melhor do que todas as que já li.

Que tal não termos a electricidade e o gás mais caros da Europa? Precisamos mais disso do que de conselhos para não falecer de hipotermia. Não acredito que se esteja num país civilizado se uma pessoa comum tem de escolher entre morrer de susto ao ver as contas para pagar ao final do mês, ou matar-se a trabalhar depois disso para pagar tais contas, ou sucumbir perante massas de ar frio inevitáveis no inverno. Fica a dica.

Vanessa