domingo, 27 de dezembro de 2015

Momentos de nada

Em Portugal, é comum ver-se pessoas idosas a contemplar as ruas com os cotovelos apoiados no parapeito das suas janelas, sentados em bancos de jardim ou em cafés. 

Sei que normalmente estão, na verdade, a contemplar tempos idos, mergulhados em lembranças ou velhas feridas. Outras vezes estão a olhar para as gerações mais novas e a criticar mentalmente o que vêem.

Aqui, o acto de contemplar abrange todas as gerações. Quando se espera, fita-se a rua ou o ar. Quando se faz uma pausa, olha-se pela janela. Sempre que não há nada para fazer, faz-se nada.

Na semana que passou fui à biblioteca ler o Times of India e estavam lá quatro pessoas de gerações diferentes, todas à espera daquilo que me pareceu ser a entrega de um cabaz alimentar. 

Li o jornal durante mais de meia hora enquanto as quatro pessoas pegavam em jornais ou no seu telemóvel, mas em vez de fazerem algo, ficavam a olhar para o lado de fora da biblioteca. 

Conversaram de vez em quando, mas na maior parte do tempo permaneceram em silêncio.

Nem sequer pareciam pensativos. Já reparei nisso. Há pessoas da minha idade que olham pela janela das suas casas e só olham, ou que passam assim o tempo quando estão na paragem do autocarro.

Sem fazer alguma coisa. Estão, simplesmente.

Vanessa

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