terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Goa é de cortar a respiração


Para a falta de higiene, o trânsito desvairado, os pedintes com bebés ao colo e o calor eu já estava preparada. Ao terceiro dia cá, fomos visitar Margão, com todo o seu esplendor de edifícios decadentes, ruas pegajosas ou húmidas, cartazes com marcas conhecidas em contraste com o terceiro-mundismo das ruas, pó que se prende ao nariz e uma constante neblina de gases que nos abraça como se fôssemos velhos amigos. 

Foi para Margão que andei num autocarro indiano pela primeira vez e foi em Margão que entrei numa farmácia indiana pela primeira vez. Precisava de conseguir respirar melhor.

Desde que cheguei, é como se vivesse em constante falta de oxigénio. No primeiro dia, o jet lag e as muitas horas no avião fizeram-me confundir as vertigens súbitas, o tamborilar nos ouvidos e o nariz entupido com o cansaço da viagem. Depressa percebi que o que se passa é que Goa deixou-me literalmente sem ar.

As noites têm sido interrompidas por despertares em pânico com aquilo que me parecem ser ataques de asma. Acordar no escuro do quarto abafado (a ventoinha só faz circular o ar quente) sem conseguir respirar não é agradável. O cérebro, já de si esgotado devido a dias inteiros sujeito a ar rarefeito, activa o modo de emergência. 

A falta de ar, o escuro, o calor transformam o quarto onde durmo, que é enorme e com um tecto a cerca de quatro metros do chão, num caixão ou num mar onde me pareço afogar. Reconheço a sensação, porque em pequena já quase me afoguei. Não, para isto eu não estava de todo preparada. 

Em Portugal, vivo ao lado de uma serra e há ar puro em abundância. Aqui o nariz tem de filtrar tão desconhecidos aromas e sujidade que não há outra solução senão ficar entupido. Na farmácia sugeriram umas gotas nasais para sinusite e rinite. Resultou nas duas primeiras aplicações e o alívio até tornou mais vivas as cores à minha volta. Contudo, depois disso deixou de funcionar.

Segue-se agora uma consulta no médico. Entretanto, esta experiência fez-me valorizar as pequenas coisas que nunca se destacaram por estarem garantidas. Afinal, seres vivos dependem de oxigénio. Mas aqui vive-se em constante asfixia. Depois de 28 anos de oxigénio em abundância, não me consigo habituar a isto.

Vanessa

P.S.: Ricardo, esta foto é dedicada a ti.

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