terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Cheira-me a esturro

Como se não bastasse o trânsito agitado, com motas que largam nuvens de fumo preto, carros que fazem barulho de motas e libertam um cheiro ainda mais forte, autocarros que parecem ter sobrevivido a uma guerra mundial e carrinhas de transporte sobrecarregadas, há ainda o constante odor a esturro. 

Aqui as pessoas queimam nos seus quintais o lixo produzido nas suas casas. É habitual verem-se cortinas de fumo quando se passa por residências. O cheiro quente das queimadas domésticas penetra pelas janelas, difundindo-se por todo o lado, especialmente quando há ventoinhas a funcionar.

O ar fica pesado e sufocante, com a brasa do sol a misturar-se com a actividade humana. Aqui vive-se numa bolha onde o ar é sujo e desgastado como as ruas. Quando um dia saí pela porta da cozinha para apanhar ar, reparei que há um mecânico aí em frente. A juntar-se ao constante barulho de motores a serem testados, há ainda as largadas dos tubos de escape que pintam o ar de tons escuros.

A falta de qualidade do ar chega a ser tão atrofiante que me fez pensar que a Índia podia ser um país mais desenvolvido se houvesse ar puro. As pessoas aqui parecem imersas em letargia, exaustão e com queda para a compreensão lenta. É desta forma que me tenho sentido desde que aqui cheguei.

Eu aposto que é do ar. Não me parece possível seres humanos funcionarem em todo o seu potencial num ambiente envenenado como este.

Vanessa

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