quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

O direito à doçura

Em Goa, e provavelmente em toda a Índia, os cafés e restaurantes dão-se ao direito de escolher o grau de doçura do chá que consumimos. É também comum termos de pagar se quisermos o chá sem açúcar, porque implica que se tenha de fazer uma dose de chá só para pessoa com a tamanha petulância de querer decidir sobre o que quer consumir. E mais. Chá aqui é açucarado a preceito e contém leite. Muitas vezes tem tantas especiarias como um caril, porque pelos vistos uma refeição bem condimentada tem de ser terminada com uma bebida quente também bem temperada. Há coisas que aqui são assim: em excesso. Lembro-me bem daquele filme, A Viagem dos Cem Passos, no qual  há um diálogo interessante entre o senhor indiano e a senhora francesa:

Senhor indiano: "You seduced his mind with your awful, tasteless, empty sauces! With your pitiful little squashed bits of garlic!"
Senhora francesa: "That is called subtlety of flavor."
Senhor indiano: "It's called meanness of spirit! If you have a spice, use it! Don't sprinkle it. Spoon it in!"

Resumo: para os indianos, o tempero está bom quando é às colheradas e os franceses não percebem nada de culinária. Obviamente que isto é um filme (uma sátira, até), mas por vezes aqui é mesmo assim. O que é bom é para se abusar. Por isso mesmo, o chá é incrivelmente doce para quem, como eu, não costuma usar açúcar em nenhuma bebida (nem na bica). Depois, é claro, uma pessoa habitua-se à doçura e fica viciada.

A verdade é que aqui o chá sabe bem é com açúcar e leite. Nunca me soube tão bem quando a minha família fazia o chá assim em Portugal. Aqui, podia beber uma ou duas chávenas todos os dias, mas restringi o consumo às idas à cidade e a passeios. É que aqui, como em Portugal, muitas vezes prefiro ficar em casa a sair. O chá sempre é um bom incentivo para sair e até querer sair.

Vanessa

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