sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Novas mudanças para o Cartão do Cidadão

Em Junho deste ano, a lei 32/2017 tornava obrigatório que as crianças tivessem Cartão do Cidadão nos primeiros 20 dias de vida, e estabelecia multas de 250 a 750 euros para quem fotocopiasse o cartão sem autorização. Agora há mais alterações, com a portaria 287/2017 a entrar em vigor a 2 de Outubro, segunda-feira.

Eis as novas mudanças para o Cartão do Cidadão:

1. Para quem tem mais de 25 anos, o CC passa a ter a validade de 10 anos em vez de cinco.

2. Em vez de 15 euros, passa para 18 euros o custo do cartão, mas para as renovações de cinco em cinco anos mantêm-se os 15. Para estes, o pedido urgente com entrega no máximo de três dias úteis fica em 33 euros, 50 euros para levantamento no dia seguinte, e 53 euros para os cartões com validade de 10 anos.

3. Solicitar ou renovar o CC online vai possível a partir de 2 de Dezembro, através do Portal do Cidadão, mas a entrega é feita em pessoa. Quanto às renovações, apenas podem ser alterados apelidos e ou a morada. Também passa a ser possível cancelar o CC no Portal do Cidadão e pelo telefone, através da Linha de Apoio ao Cidadão.

4. A portaria 291/2017 define "situações de redução, isenção ou gratuitidade" nos casos "em que o requerente comprove insuficiência económica ou se encontre internado em instituição de assistência ou de beneficência."

Era giro, já que se fartam de fazer alterações ao CC, que os vários serviços públicos fossem devidamente equipados com leitores para o chip do dito, coisa que nos dois cartões que já tive de fazer nunca chegaram a ser usados, primeiro porque os museus do meu município não tinham na altura o leitor para comprovar que eu era residente no concelho e concederem acesso gratuito (nunca mais pus os pés num para ver se já há), e segundo porque nem nos locais de voto há leitores de chip para evitar ter de mandar uma SMS a um número oficial, andar com o cartão antigo, ou saber o número de cor. Tão informatizados que somos.

Com as alterações passamos a pagar menos por comparação à modalidade anterior, mas não deixa de ser ridículo uma coisa que é obrigatória ser tão cara, especialmente ali com o potencial do chip por usar. Para aqueles que normalmente usam como argumento de suporte a aspectos assim para o chatinhos negativos da vida em Portugal (tipo coimas, preços em geral e regras) o facto de noutros países as coisas serem assim ou piores, frequentemente desconsiderando aspectos importantes (tipo custo de vida, ordenados médios, inflação), tenho a dizer que segundo a Wikipedia (é favor não desdenhar), o CC é gratuito em países como a França, a Hungria e a Grécia, e há países como a Islândia e a Noruega em que é opcional.

Vanessa

quarta-feira, 27 de setembro de 2017

Barragem de Santa Clara, rio Mira em Odemira, no Alentejo Litoral

A Barragem de Santa Clara fica a quatro quilómetros da freguesia de Odemira e foi construída durante o Estado Novo. "A albufeira cobre uma área de 1986 hectares, sendo considerada uma das maiores da Europa" diz o site oficial de Odemira. Nas águas desta barragem são permitidas práticas como canoagem, remo ou pesca desportiva, mas recentemente a atracção principal é a praia fluvial, devidamente vigiada e com bandeira azul. 

A minha primeira visita à barragem foi há uns cinco anos e durante o inverno. Agora no verão não só as cores são outras, como floresce o convívio neste espaço pequeno e acolhedor, onde foi colocada uma piscina de água doce. Toda a paisagem é convidativa. Em termos de equipamentos, a barragem tem duas áreas com mesas para quem traz a merenda, e casas-de-banho. Há também um único vendedor com uma banca improvisada, e embora a oferta não seja abundante, o senhor é generoso e vende bolinhos, sandes, água, e cerveja fresca. Tudo aquilo serve para consumo próprio também, como fiquei a saber, por isso a oferta é limitada ao stock existente.

O acesso para a praia fluvial não é dos melhores, mas a piscina vale a pena o esforço. A água é agradável, sempre fria para mim, mas tépida por comparação às praias do país, e os peixinhos parecem estar habituados ao convívio com humanos. O pavimento da piscina pode ser escorregadio e aquecer com o sol, por isso aconselho o uso de chinelos. De resto, uma visita à Barragem de Santa Clara recomenda-se. Ora vejam as fotos:

Vanessa

terça-feira, 26 de setembro de 2017

Atenção: aqui há muita secura XXV

Pedi um peixe na loja de animais. Perguntaram se queria um aquário. Mas que me interessa o signo dele?

Secas fresquinhas sempre à mão aqui. Oxímoros às vezes também.

Vanessa

segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Notas sobre procedimentos concursais e provas de conhecimentos

Se há coisa que sei fazer é preencher formulários. Nos procedimentos concursais o preenchimento correcto é logo factor de exclusão  na primeira fase, porque basta uma pessoa não assinar as páginas do currículo anexo (ou esquecer-se de anexar o currículo e certificado de habilitações como aconteceu a alguns candidatos) para ser desclassificada. Recentemente candidatei-me a uma vaga para a junta de freguesia e cheguei à conclusão que mais valia nem sequer saber preencher o formulário. Ao menos não prolongava a ténue esperança de conseguir ser um dos sete cães a sacar o osso. Neste caso devíamos ser uma centena e picos para dois míseros ossos.

Mas uma pessoa pensa naquela máxima do tentar não custa. Só que no caso dos procedimentos concursais, só a impressão da legislação para a prova de conhecimentos, segunda fase do processo, chega a passar a barreira dos 20 euros, e isto se encontrarmos uma daquelas lojas que imprimem a granel. Depois há também o tempo precioso que se perde, o nervoso miudinho que invariavelmente dá cabo da rotina de uma pessoa, e no meu caso, voltar a entrar numa escola onde já fui tão feliz na minha ingenuidade, desta vez com três décadas de existência, e sentir-me idosa, burrinha e estrangeira onde em tempos me senti jovem, inteligente e em casa.

Vi os candidatos do turno anterior da prova saírem confiantes e sorridentes. Alguns dos colegas do meu turno tiveram a sorte de aceder a comentários em primeira-mão sobre o exame e eu não fiz orelhas moucas, porque acredito na igualdade de oportunidades. Mas nenhum dos comentários foi útil.

A prova de conhecimentos pode ser com consulta e ter questões de escolha múltipla, mas isso não facilita de todo o processo no meu caso. A sala escolhida não tinha mesas, mas sim cadeiras com uma pequena tábua que mal dava para meia página. A legislação ficou no colo. Uma resma de papel no colo a ser constantemente manipulada é obra. Quem fez a prova achou por bem misturar os decretos-lei e colocar as questões salteadas, e para isso dava mesmo jeito ter uma mesa, para ter aquilo tudo espalhado e à mão.

Há muito tempo que não me sentia tão desadequada. Apesar de ter lido por alto os temas, 60 minutos são escassos para chegar a todas as palavras-chave e sacar dos decretos a informação necessária. Desconfio que havia uma ou duas perguntas com rasteira, mas não me posso queixar. A prova de conhecimentos não era difícil. Eu é que não tenho habilidade para estas andanças. Convenhamos. Se eu quisesse estudar as leis e argumentar com base nelas tinha ido para direito. Fui para essa área? Não, porque tenho noção do que sou capaz de fazer.

A escolha múltipla até pode parecer uma facilidade. Neste caso, cada resposta errada descontava meio valor, por isso mais valia deixar em branco em caso de dúvida e não responder ao calhas para ver se dá sorte. Zero é melhor do que números negativos. Foi o que aconteceu em algumas questões. Não consegui encontrar as respostas na resma de papel e o tempo estava a esgotar-se. Ainda respondi a duas ao calhas, seguindo o instinto e o senso comum, mas não me parece que algumas das leis se baseiem em senso comum.

As duas perguntas de desenvolvimento eram afirmações às quais me apeteceu responder apenas com um: "Está bem". Numa consegui argumentar porque encontrei a frase num decreto-lei. Basicamente senti que tinha repetido a pergunta quase toda, mas com um contexto legal. A outra pergunta dizia que a junta de freguesia tinha recebido um auto policial porque o dono de um cão o estava a passear sem trela. Aí optei por citar um decreto-lei sobre as competências da autarquia no que respeita aos animais. Quando encontrei um outro mais específico que referia o uso da trela e o estava a rascunhar, o tempo terminou.

Precisava de mais 30 minutos e ficava tudo preenchido e com mais nexo. Nem tive tempo de usar a folha de rascunho. Para relembrar ainda mais os tempos de escola, enquanto arrumava as coisas fiquei a ouvir os comentários de pessoas que se conheciam, e cheguei à conclusão de que devo ter feito tudo mal. Que saudades tinha eu destes momentos no final dos exames, onde me apercebia de que tinha argumentado com base numa parte errada da matéria e que nem o esforço me ia valer de coisa alguma ou que tinha percebido mal uma questão, e daquele sentimento de o estômago se fundar um bocadinho dentro de mim.

Depois de qualquer tipo de actividade que implique estudo fico também a questionar-me sobre a minha capacidade mental actual, que com certeza não é a mesma de quando frequentava a escolaridade mínima. Mas já na altura era assim. A diferença é que era mais fácil estudar quando só tinha isso para fazer.

Ou isso, ou alguns neurónios ficaram pelo caminho quando entrei no mercado de trabalho.

Esta foi a minha segunda experiência num procedimento concursal, que a meu ver está já terminada, porque no melhor dos casos, contando com os descontos das erradas, fico ali com um 9. Mas o que sei eu sobre isto? Contas e leis não são comigo. Espero encontrar outra vaga nos próximos tempos para poder usar novamente esta resma de papel que na verdade merecia ser de imediato reciclada em papel higiénico.

Vanessa

O cúmulo da modernidade

Três mulheres com ar de estarem na faixa etária dos 60/70 anos de idade, no café, a discutirem as últimas cusquices novidades com base no Facebook. Nunca ouvi likes serem levados tão a peito. A discussão sobre os comentários dos amigos virtuais, alguns deles parentes na vida real, é especialmente interessante.

Há também aquela amiga cínica que perdeu parte da reforma, mas fez like à página daquele político.

Há uma outra que foi viajar e só postou fotos tremidas que nem dá para se ver qual foi o destino de sonho. 

E então e aquela que não sabe que só usar o caps lock faz parecer que está a gritar às pessoas?

Três mulheres com ar experiente que não gostam de usar o chat, dizem elas. É tão desumano. Tão impessoal. Uma pessoa até pode usar aquelas carinhas amarelas, mas não é o mesmo que falar face a face.

E eu a sorrir de mim para mim e a pensar que ainda dizem que a tecnologia dá cabo da interacção social.

Vanessa

sexta-feira, 22 de setembro de 2017

Primeira

O primeiro dia da semana não se chama primeira-feira, mas segunda-feira porque antigamente os agricultores faziam uma feira ao domingo e o que restava era vendido na segunda feira, hoje a segunda-feira.

Continua a não me fazer sentido e parece que todas as semanas o primeiro dia é perdido, porque o domingo é alegadamente o fim da semana que passou, não o primeiro dia da semana, e depois vem a segunda.

Isto de não haver uma primeira-feira sempre me desconcertou. Se a segunda-feira é o primeiro dia de trabalho da semana, a primeira-feira devia ser um dia extra de descanso e as semanas deviam ter oito dias.

Onde posso reclamar para ter as primeiras-feiras de volta?

Vanessa

quinta-feira, 21 de setembro de 2017

Receita vegana facílima dedicada ao Wuant

Fazer um arrozinho, de preferência integral (há umas marcas que até têm arroz de fazer no microondas). Juntar um qualquer feijão enlatado. Num prato colocar uma cama de verdes já preparados, retirados de uma embalagem. Despejar para cima o arroz e o feijão. Dicas: juntar uns pickles (neste caso pimentos vermelhos de piquillo) ou um chucrute, condimentar com alho e/ou cebola em pó, molho de soja, chili, ketchup, etc.

Dedico esta receita, que na verdade é só uma questão de somar no prato uns quantos ingredientes já prontos, ao Wuant, YouTuber português com 2,320,151 subscritores (e não, não é daqueles número aleatórios que às vezes escrevo só para exemplificar uma quantidade enorme). Sei que ficaste triste por largar pelo menos temporariamente o vegetarianismo porque te vi chorar naquele vídeo em que falas sobre isso, por isso achei que devia ajudar, especialmente porque a razão principal citada foi a preguiça que deu origem a problemas de saúde. Acredito piamente no direito à preguiça e até no direito ao consumo de proteína animal, mas...

Lamento que uma pessoa tão influente junto do público jovem perpetue mitos como a anemia ser comum na comunidade de vegetarianos e a única solução para a doença ser o consumo de proteína animal ou suplementos médicos. Eu e o feijão, o grão, os frutos secos, a quinoa e até as ervilhas estamos ligeiramente ofendidos com certas declarações. Qualquer um de nós é livre para fazer as escolhas que bem entender e para mudar de ideias quando lhe apetecer, mas neste caso compreendia melhor a decisão se tivesses dito que gostavas do sabor de um churrasco, de um peixinho grelhado, de marisco, ou qualquer coisa do género.

Assinado,
Uma pessoa razoavelmente informada que moralmente faz o melhor que pode, mas que gosta do sabor de um churrasco, de um peixinho grelhado, de marisco e que por vezes até desfruta de algumas destas coisas.

Vanessa

Desaceleramento

Cheguei à conclusão que tenho várias publicações começadas e até fotos que quero publicar que fazem este mês um ano. Estão no limbo. Estão um pouco como eu, à espera de certos dias em que tenho actividades marcadas que me consomem espaço mental, ou simplesmente à espera duma nesga de tempo.

Sinto que estou sempre a falar de tempo e espaço. Einstein, desculpa-me.

Por outro lado, ganhei o hábito de acelerar os vídeos que vejo para 1.25 de velocidade. Uma ligeira alteração, um discurso mais rápido, mas o mesmo resultado. Acho eu. Não sei se absorvo da mesma forma a esta velocidade por comparação à velocidade natural. Mais conteúdo, ligeiramente menos tempo. Parece-me um bom negócio.

Se ao menos também eu conseguisse aumentar a minha velocidade de execução para 1.25...

Vanessa

terça-feira, 19 de setembro de 2017

Frases expiradoras

Se há coisa que me faz revirar os olhos de tal forma que temo ficar com eles revirados para sempre é estar numa rede social e ver fotos de paisagens ou pessoas aleatórias com frases supostamente profundas, cunhadas por desconhecidos (ou pior, erradamente atribuídas a celebridades). Normalmente são frases como aquela de recolher as pedras do caminho para fazer um castelo ou carpe diem ou indirectas para alguém em especial ou para a sociedade no geral. Normalmente são publicadas por pessoal das gerações que me antecedem, se bem que já vi pessoal da minha idade que fizesse isso. Tudo gente que estava melhor a ler um livro.

Para as últimas frases desse género que li, frases supostamente motivadoras ou inspiradoras, eis uma outra perspectiva. Vou usar aspas porque vou citar as frases como as li, não para respeitar direitos de autor.

"As melhores coisas da vida não têm preço".
As melhores coisas da vida são habitualmente bem caras.

"Todos os dias são uma nova oportunidade".
Todos os dias são uma nova oportunidade... para nos arrependermos de não termos ficado na cama.

"Quem não está comigo no meu pior, não merece estar comigo no melhor."
Quem não está comigo no meu pior não sabe que esse é o meu melhor.

"A vida são dois dias".
Vai aprender a contar.

"Não chores porque já terminou, sorri porque aconteceu". Gabriel García Marquez (?)
Não. Sorri porque terminou.

"Se nunca acreditares em ti, ninguém acreditará."
Se nunca acreditares em ti, também nunca serás desapontado.

Por último...

Foto tirada no Castelo de Santiago do Cacém, no Alentejo.

Vanessa

segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Página refrescada

As férias são um estado de espírito. São processo de escape, de fuga, de exílio voluntário. Ir de férias consiste em deixar cair a rotina, levar uma mala com tudo aquilo com que na realidade podíamos viver caso a nossa casa ardesse, esquecer o corre-corre, conhecer novos lugares com uma paz de espírito desencantada sabe-se lá de onde, desentranharmos de nós uma simpatia, que fica tão frequentemente esquecida quando a autoridade da obrigação nos afasta de nós próprios, e que nos desperta sorrisos enterrados, e deixar que a vontade guie acções como se nunca o pudéssemos fazer, quando na verdade nunca nada concreto o proibiu.

Da mesma forma que dizer que estamos de dieta activa no cérebro várias barreiras, dizer que estamos de férias tem o efeito contrário e abre-se caminho para todas as possibilidades que o tempo livre proporciona. No meu caso, nunca fui muito fã de férias quando era mais nova, principalmente porque raramente tinha férias em família, como idas ao Algarve ou à terra, mas também porque me cansava facilmente da liberdade.

Hoje quase me parece sacrilégio. Tirar uns dias é sempre importante para o bom funcionamento mental. Embora seja difícil desligar de tudo, especialmente porque agora tenho um smartphone e há internet em todo o lado, só o facto de ter deitado fora a responsabilidade e os deveres já é suficiente para conseguir respirar fundo.

Agora estou de volta e bem respirada.

Vanessa

Avaliação Literária | Os Versículos Satânicos de Salman Rushdie

Em Os Versículos SatânicosSalman Rushdie conta as peripécias de Gibreel Farishta e Saladin Chamcha, dois actores indianos, únicos sobreviventes de um ataque terrorista ao avião em que viajam. Confesso que mais do que isso, pouco percebi do livro em termos de alegorias e metáforas religiosas, uma vez que é disso que se trata esta obra, que causou e ainda causa controvérsia por subverter aspectos da religião islâmica.

Os protagonistas começam a sofrer alterações físicas que os tornam manifestações do bem e do mal. Saladin Chamcha começa a transformar-se num bode e Gibreel Farishta ganha uma auréola. Ambos agem de acordo com as suas características em cenas que desafiam a realidade, mas Gibreel parece perder a noção da realidade a certa altura. Eu própria comecei a perder a noção da realidade do livro a certa altura.

Além da referência no título, que alude aos versículos satânicos retirados do Corão pelo Profeta Maomé, outras referências do livro deturpam o islamismo ao ponto de chegarem à sátira ou, segundo a comunidade muçulmana, à ofensa. Rushdie traçou a estória a partir dos dois protagonistas, ambos perturbados por uma razão ou outra de tal forma que sofrem alucinações ou imaginam alguns dos episódios, desenhando neste livro um quadro de imagens religiosas e profanas, acontecimentos bizarros, e estórias e histórias pontuadas por personagens que servem de muleta ou travão aos conflitos entre Gibreel e Saladin.

Houve com toda a certeza muito que me escapou nesta primeira leitura d'Os Versículos Satânicos, especialmente porque nunca o imaginei tão ficcional e alegórico. Foi o ponto de partida para um estudo mais aprofundado da religião em causa, de crenças e fábulas, e de uma cultura que me é desconhecida. 

Sinto que deveria ter lido este livro em inglês para perceber melhor trocadilhos, que na versão portuguesa vieram explicados, mas que teriam sido melhor compreendidos com a versão original, mas uma vez que me pareceu uma leitura algo maçuda por ser complexa, talvez com o livro em inglês tivesse demorado bem mais a embrenhar-me na estória. Foi um daqueles livros que custou um pouco a engrenar.

Fora isso, foi uma leitura enriquecedora a repetir daqui a alguns anos.

7/10

Vanessa

quarta-feira, 6 de setembro de 2017

Atenção: aqui há muita secura XXIV

Ginásio é o nome que dou à minha casa de banho. 

Agora posso dizer que a primeira coisa que faço quando acordo é ir ao ginásio.

O Alentejo é uma região seca. Vou para lá uns dias ver se é. Pode ser que me inspire para mais tiradas secas assim. Ou pode ser que o meu cérebro se desligue. Entretanto, há aqui entretenimento que baste.

Vanessa

terça-feira, 5 de setembro de 2017

Excertos fantásticos e onde encontrá-los II

"Se alguma vez tentarem explicar-te que este planeta (...) é uma coisa homogénea, composta apenas de elementos conciliáveis, que tudo o que acontece faz sentido, o melhor que tens a fazer é ir a correr telefonar para o alfaiate de camisas de força (...) O mundo é incoerente, nunca te esqueças: gagá. Fantasmas, nazis, santos, todos a viverem ao mesmo tempo; acolá, a felicidade absoluta, e um bocado mais adiante o Inferno. É impossível imaginar um sítio mais disparatado". Em Os Versículos Satânicos de Salman Rushdie.

Vanessa

segunda-feira, 4 de setembro de 2017

A arte da compreensão ou a compreensão da arte

Esforço-me por ser ambiciosa naquilo que escolho consumir nos tempos livros, mas às vezes é difícil não sentir a frustração que me traz a consciência da minha própria ignorância face à criação alheia. Tive uma professora que dizia que os gostos educam-se, mas os meus são por vezes rebeldes ou apenas difíceis de contentar.

Muitas vezes olho para obras de arte e não as consigo ver. Muitas vezes oiço música clássica que não consigo escutar. Muitas vezes leio livros e vejo filmes que não consigo compreender. Tudo isso causa-me frustração, ainda que não a suficiente para me fazer desistir, mas frustração suficiente para odiar a minha ignorância.

E tento alimentar a ignorância com variedade, ora observando obras fotográficas, porque as sombras são fáceis de analisar, ora quadros dos quais nem por sombras conseguiria extrair significado; ora ouvindo hits de música pop, ora canções indie ou sinfonias clássicas; ora lendo obras de autores de ficção fácil de digerir, ora outros que me fazem crer que deveria antes ver um documentário ou ler outros livros para perceber o que escrevem.

Tenho a mente aberta para a aprendizagem mas fechada para o incompreensível, e a busca de significado acaba por ficar prostrada diante da mera tentativa. Não deixam de ser tentativas legítimas ainda que saiba de princípio que sairão frustradas, porque a beleza não tem de ter o mesmo significado para os que consomem e para os que criam. A beleza não tem de ter significado sequer. Uma aurora boreal há-de ser bonita mesmo que não percebamos o fenómeno que a cria. O mesmo se passa com qualquer criação, natural ou humana.

Com o passar do tempo, descobri que há beleza também na minha ignorância. A beleza alimenta-se de cada tentativa. Aquilo de a viagem ser tão importante como o destino final. Na cultura, e é essa uma das razões da sua importância, o destino final é o receptáculo. Varia consoante os sentidos, a experiência e a consciência do destinatário. Às vezes pode ser apenas um despertar de consciência. Ou ter o efeito contrário.

Foi então que no fim-de-semana fui ao Museu da Electricidade e perante várias obras de arte incompreensíveis ou só bonitas na sua complexidade sem significado ou definição, uma rapazinho aponta para uma peça de porcelana cheia de buracos da colecção de cerâmica Branco e Azul da autoria de Bai Ming e diz à mãe: "Queijo!" Além de me provocar uma gargalhada, o miúdo lembrou-me da sensatez e da sensibilidade criativa que as crianças têm por comparação aos adultos, e a arte pode perfeitamente ser uma forma de nos esquecermos de ser adultos e olharmos como crianças para as obras. Os olhos infantis vêem mais e melhor. Em alternativa, acho que vou passar a seguir as crianças em museus e galerias, e vou ficar atenta aos seus comentários.

Vanessa

Atenção: aqui há muita secura XXIII

O meu amigo partiu o braço esquerdo e a perna esquerda. Ficou um amigo às direitas.

Porque a secura não tira férias.

Vanessa

sábado, 2 de setembro de 2017

Atenção: aqui há muita secura XXII

Quando Schrödinger quis tratar o seu gato, o veterinário disse-lhe: "Tenho boas notícias e más notícias".


Vanessa

sexta-feira, 1 de setembro de 2017

Despejo de divagações

Já não tenho idade para fazer o Cartão Jovem. É assim que a dura realidade às vezes nos acorda para a vida, ou neste caso para a pergunta: para onde foi? O tempo, claro. A juventude, parte dela. Sempre senti que tenho de ser simultaneamente adulta, desde quando não era, e que ao mesmo tempo não tenho direito de crescer como deve ser. Acho que sou uma planta num vaso muito pequeno a tentar sair, com pernas que não tenho, para um jardim. Claramente algo mudou, que eu não costumava criar metáforas tão parvinhas, nem os meus parágrafos costumavam ser tão compridos, nem eu tinha tanta disponibilidade ou vontade para ser sincera.

Hoje é o dia daquela última cena do último filme do Harry Potter. Quando fui ver o filme senti que estava deslocada, porque era só miúdos naquela sala de cinema, e que tinha terminado ali o meu direito de ser jovem. A última cena passava-se a 1 de Setembro de 2017. Hoje. O filme saiu há seis anos. Em seis anos continuo no impasse entre ser jovem e ser adulta. Não me importa o limbo, excepto o facto de ele me lembrar uma idade que sinto que não tenho ou que não devia ter pelo muito que há ainda por fazer. Talvez nos próximos 30.

Recuperei o hábito de escrever cartas. Na verdade, nunca se perdeu. Tem fases. Voltei a ter contacto com uma amiga por correspondência com quem não falava há cinco anos. Ela mandou-me fotos do casamento. Em cinco anos casou, teve um filho, abriu um negócio e está a pensar fazer cerveja artesanal. Ah, e começou finalmente a escrever e já tem 50 mil palavras de um possível livro. Olha, obrigadinho. Olho para os meus últimos cinco anos e agora não sei o que lhe escrever de volta. Há cinco anos ainda era jornalista, já o pavio a queimar no fim dessa vela. Nestes cinco anos que passaram num ápice deixei de ser uma coisa e passei a ser outra.

Mas olha, ainda sou uma pessoa, ainda sou jovem, ainda escrevo cartas, ainda gosto do Harry Potter, ainda escrevo em metáforas, ainda quero fazer o Cartão Jovem, mas já não posso, ainda tenho em mim um lado infantil, ainda acho que um dia vou escrever a sério e ter mais de 50 mil palavras, gosto mais de cerveja artesanal do que da generalista, ainda sou adulta mas com um lado infantil, ainda estou a tentar sair do vaso, e pode ser que não consiga preencher as mesmas 10 páginas A5 para mandar uma carta de volta à que ela enviou do outro lado do Atlântico para esta ponta da Europa, até porque acho que com sonhos e divagações conseguia na boa 50 mil palavras, só tenho é de saber quantas páginas isso dá e depois quantos selos são precisos.

Desculpa a caligrafia. As minhas mãos já só sabem usar o teclado.

Vanessa