segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Preçário de custos

Preço e custo são definidos de forma semelhante no dicionário, mas as definições secundárias são diferentes. Preço não é apenas o valor pecuniário. Pode significar também castigo. O preço a pagar. Pagar caro. A qualquer preço. Por outro lado, o custo não significa apenas o preço monetário a pagar. Com certeza que algo que custe os olhos da cara requer um esforço que vai além do valor da moeda. Custe o que custar e a todo o custo não se referem apenas ao dinheiro. O custo vai além do preço e o preço é muitas vezes a soma de todo o custo.

Trabalhar tem um preço mas implica também um custo. O trabalho custa-nos tempo e espaço mental, o preço a pagar, e a moeda de troca é moeda literal, um ordenado. Parece-me, no entanto, que o valor do trabalho hoje em dia é desvalorizado. Digamos que a mão-de-obra está ao preço da uva mijona. O custo neste contexto é a perda da qualidade de vida porque ao vendermos os nossos serviços, perdemos muito no processo.

Quando me tornei freelancer pela primeira vez, passei a encarar os preços como deduções de tempo. Um saldo cada vez mais negativo. Cada preço passou a equivaler ao (custo do) número de horas que levava da minha vida para chegar à quantia final. Ou seja, digamos que um café podia significar 10 minutos de trabalho. Ou seja, 10 minutos de vida a menos para pagar o preço do café. Um preço, um custo. O ganho podia ser mais rendimento, uma vez que o café também ajuda na produtividade. Mas tempo de vida é mais importante.

Hoje em dia é-me mais fácil fazer contas à vida. Sei que um livro ou uma camisola ou um jantar fora podem ter o custo de duas horas de trabalho. É um preço alto. Duas horas de vida vezes não sei quanto tempo total. Horas perdidas à conta de caprichos. Ou necessidades? O problema é que gastar o que se ganha custa virtualmente nada. E é cada vez mais fácil. Às vezes bastam três cliques. Nem é preciso pensar. Mas ser pobre em valores monetários foi o que me fez pensar no verdadeiro preço a pagar. No real custo das coisas.

Diz-se que tempo é dinheiro. Nesse sentido, nascemos tecnicamente milionários. Mas até isso é temporário. Primeiro, porque a cada aniversário estamos mais próximos da morte. Segundo, porque oferecemos o nosso tempo em troca de tão pouco. Terceiro, porque nos esquecemos de que o custo resume-se ao tempo que perdemos. Quarto, porque o trabalho como meio para atingir um fim, fim esse a qualidade de vida ou a felicidade ou o que lhe queiramos chamar, é também um meio para ir perdendo o fim aos poucos.

Somos todos moeda de troca. Somos preço e somos custo.

Vanessa

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