terça-feira, 3 de outubro de 2017

Gerald's Game é um jogo perigoso

Gerald's Game, ou Jogo Perigoso em português, foi um daqueles livros que li à socapa. A minha família é composta maioritariamente por pessoas não leitoras e por isso nunca corri o risco de ser apanhada com um livro obsceno nas mãos. Nunca me perguntavam o que estava a ler sequer. Não que Gerald's Game ou qualquer outro livro que tenha consumido durante a adolescência fosse obsceno. Primeiro, não tinha muitos sítios onde os arranjar, e segundo, não teria coragem. Mas é com certeza um livro para adultos e eu ainda não o era.

Em Gerald's Game, um casal decide fazer uma escapadinha para resolver os problemas conjugais. Escolhem uma propriedade do meio de nenhures e ambos se aperaltam para a ocasião. Mas a coisa corre assim para o mal quando Gerald, o marido, algema a esposa Jessie à cama para apimentar o momento. Gerald recorre também aos famosos comprimidos azuis para ganhar ânimo. Nisto, o marido esquece-se do bom senso e decide ser um pouco mais bruto. No livro e no filme de 2017, a forma como a cena decorre é ligeiramente diferente. 

O resultado é que Jessie fica algemada à cama e Gerald jaz morto no chão. Como é habitual, Stephen King, o autor do livro, desenha com mestria um enredo que tem um quê de perturbador só com a estória principal, mas consegue torná-lo ainda mais sombrio com o decorrer dos acontecimentos. É exactamente o que acontece. A casa é isolada. Há um cão com instintos selvagens à solta. Jessie está presa à cama. Jessie põem-se a alucinar. O seu passado vem à tona. Não é bonito. Há um ser talvez imaginário no canto do quarto de noite.

Não há um filme de Mike Flanagan de que eu não goste. Mas este não era um livro muito cinematográfico, na minha opinião, mas o realizador conseguiu transpor para o ecrã todas as cenas macabras e gráficas sem explorar o gratuito e sem recorrer aos sustos instantâneos. Todo o livro é mais psicológico do que visual e a película também. O actor com as cenas mais sinistras, por coincidência é o protagonista de E.T. As cenas em que entra assombram num mau sentido e o brilho no olhar de Henry Thomas é especialmente perturbador.

Tanto o livro como o filme são como um pesadelo. É por isso que recomendo ambos.

Vanessa

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