O filme realizado por Gilles Paquet-Brenner, baseado no livro Dark Places de Gillian Flynn, é um policial. O livro é bem mais do que isso. O filme deixou muito a desejar. Pareceu um resumo dos pontos altos do livro, mas sem grande desenvolvimento de personagens e sem grandes explicações ou contextualização. Pareceu apressado, demasiado editado e sem alma, ao contrário de Gone Girl, baseado num livro da mesma autora.
A diferença é que o guião de Gone Girl foi escrito pela autora do livro e o filme foi realizado por David Fincher. Ainda que recorresse à narração, como Dark Places, a estratégia de filmagem foi construída ao pormenor e as personagens desenvolvidas minuciosamente. Dark Places parece desenxabido por comparação.
O primeiro problema do filme é nunca ter explicado o ponto central da acção, um evento do passado, em que três pessoas foram mortas. No livro, o método e as armas do crime são pistas importantes. Os possíveis motivos do suspeito são expostos e desmentidos ao longo do enredo, mas sempre com sombra para dúvidas.
No livro há peculiaridades que são explicadas. Há pensamentos que explicam razões. Percebem-se motivos. Há sempre muito contexto porque Gillian Flynn sabe como construir uma estória. No filme isso perdeu-se.
Em termos de representação, os actores fizeram a sua parte. A edição provavelmente estragou o enredo, ao torná-lo cinematográfico. Não há tempo para a audiência se afeiçoar a ninguém. Ainda assim, o filme parece lento e por vezes aborrecido. A investigação arrasta-se. Se a audiência tivesse tido tempo para gostar da personagem principal, não teria sido assim. Haveria preocupação e curiosidade.
Não creio que se deva comparar livros a filmes, porque o livro sai sempre a ganhar. Ignorando o livro, Dark Places perde na mesma. É apenas um filme de domingo à tarde e mesmo assim corremos o risco de adormecer.
É uma pena, porque focando nos sítios certos, a estória tem tanto potencial como Gone Girl. Senão mais. Se tivessem pegado na sátira inicial, em que a personagem principal, sobrevivente de um massacre, explica que viveu anos à conta de donativos, se tornou cleptomaníaca, mas rouba apenas o que lhe faz falta, ou se explorasse qualquer outro sinal de humanidade e corrupção, o enredo do filme ganhava cor.
Vanessa
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