Quando falta a água e a electricidade e estão 33 graus. Quando se sai de casa e se regressa e a água não voltou. Quando se regressa a suar e se apanha com o fumo do lixo que está a ser queimado. Quando estão estes graus todos e consequentemente a água do tanque está a escaldar. Quando, ainda por cima, a internet não se mantém cinco minutos seguidos. Mas tudo ficou bem quando a L. me deu um coco delicioso.
Eu sei que havia algum cepticismo por parte da minha família em relação à minha estadia tão prolongada e depois surpresa em relação à minha adaptação. Pelos vistos era eu a única a não ter dúvidas.
Quando me perguntam se gosto de cá estar a resposta é invariavelmente sim e quando me perguntam se gostava de cá viver a minha resposta é variável, porque depende das circunstâncias. Hoje diria que não.
Na verdade isto é um ciclo vicioso. Eu não gostaria de cá viver porque quase não há gente jovem e por isso não há muitas das comodidades que poderiam atrair o público jovem. Mas porque não há jovens que fiquem, não há quem invista nessas comodidades e assim em diante. E olhem que eu contento-me com pouco.
Por outro lado eu gostaria de cá viver precisamente porque Goa é este retiro espiritual que vejo, onde há mais idosos do que gente jovem, onde a partir das nove da noite se ouvem grilos e onde há tempo para ler.
Parece-me que aqui é mais fácil pensar positivo. Em Portugal é difícil ser optimista quando se passa a vida encerrado dentro de quatro paredes com vizinhos dos lados, em cima e em baixo. Em Portugal parece que andamos enjaulados. Se falta a água e a electricidade sobra pouco para fazer.
Mas em Goa ainda há muito para ser feito. Um dia mau em Goa é um dia em que Portugal não nos sai do pensamento e em que comparamos e nos esquecemos do que há de bom onde estamos.
Vanessa
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