sábado, 9 de abril de 2016

Fila indiana

A expressão "fila indiana" que conhecemos está relacionada com os índios, que seguiam em fila pelos trilhos dos matagais, e não com os indianos. Se não acreditam venham cá ver como são as filas da Índia. Se Goa é exemplo, que é (já perguntei a pessoas que aqui vivem), não há cá filas nem ordem de chegada nem pessoas prioritárias. Aqui reina a anarquia, excepto quando alguém põe umas fitas a circundar o balcão para encaminhar as pessoas (mesmo essas não servem para nada, mas estão lá a fazer de conta que funcionam) ou quando há um funcionário a quem foram dadas as rédeas da ordem de atendimento ou um sistema de senhas.

Eu não entendo, mas quando não há sistema algum, eles lá entendem. Na caixa do supermercado, por exemplo, eles lá vão atendendo de forma coerente, olhando bem para quem está à espera e evitando os que cortam a fila multidão que ali está à espera de ser atendida, a não ser que os cortadores de filas levem coisas extremamente perecíveis com o calor, como leite, iogurtes e gelados. 

Até agora não senti que me tivessem passado à frente injustamente e até e já calhou eu ir ao supermercado comprar apenas um gelado e toda a gente me deixar passar à frente.

Infelizmente, aqui não há um grande sentido de espaço pessoal e é natural as pessoas ficarem tão próximas de nós que lhes sentimos a respiração na pele e até percebermos o que comeram ao almoço.

É especialmente perturbador quando são homens a fazê-lo, que eu sei que fazem, porque os homens daqui, aqueles que não têm aspecto de serem goeses, parecem sedentos de contacto com mulheres. 

Há até aqueles que parece que estão sempre no supermercado e que quando lá estão compram uma coisa de cada vez, tipo uma cebola, um tomate, um sabonete. São esses que olham descaradamente e que sempre que podem lá se vão aproximando de alguma mulher atraente e sozinha. São esses os únicos que não fazem questão de ser atendidos o mais rápido possível e que vão ficando para trás, aproveitando o contacto humano.

Disse-me uma amiga que normalmente são homens das aldeias que vêm para Goa, como tem acontecido frequentemente, e que trazem mentalidades de aldeia mesmo que venham para as cidades daqui.

As aldeias são as grandes culpadas de gerarem populações que não sabem respeitar filas ou o espaço dos outros. Diz quem cá está há muito tempo que isso está a mudar. O problema é que aqui tudo muda devagarinho.

Tão devagarinho como as filas dos serviços públicos demoram a andar.

Vanessa

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