sexta-feira, 16 de março de 2018

Book Review | Bellman & Black by Diane Setterfield

William Bellman seems to be the perfect human specimen. He's handsome, talented, healthy, and successful. But he seemed also, to me, increasingly detached, cold, rational to a fault, and overall not at all relatable, and he's the lead character in Bellman & Black. None of the characters, actually, caught my attention. Diane Setterfield is a brilliant writer, and that's what kept me plodding through a plot that felt uninteresting even though the premise was promising, until I finished the book and was left unsatisfied as the richness of the prose was not accompanied by a captivating enough story. I so, so wanted to like this book.

Imagine this. Bellman kills a rook (crow) as a kid and that haunts him through his life as an afterthought. There's a sense of impending doom. He goes on to become a businessman, a very successful one making clothes and then managing the making of clothes. Then he marries and has four children, all the while neglecting his family in favor of his endeavors. Tragedy strikes. He bargains with a stranger in black and seems to go on to be even more successful by entering the mourning goods business and building an emporium. The plot is interspersed with little chapters that explain some curiosities about rooks and these birds are often in the shadows of the main chapters. Other than that, there's not really much connection to the events that started the book.

The plot dives deep into how mathematical, methodical, and without flaw Bellman goes about his life. That's what the action amounts to. He plans, multitasks, predicts, surpasses his predictions, and seems to bend time with all of his tasks being accomplished almost in mystical fashion. That's most of the story. There are no strong female characters. There's not much tension. There's not much character development other than Bellman. There's really no passion, it seemed to me. The end was not at all satisfying. Quite the contrary.

I was one of those who loved The Thirteenth Tale, Diane Setterfield's debut bestselling novel. Unfortunately, that maybe set the bar too high. About seven years passed and I would look up Setterfield's website to check on any upcoming novel. When I saw the summary for Bellman & Black I was ecstatic. I read her entire blog. When I started reading the book, I was engrossed in the plot until midway. When I got near the end and saw the third part of the book had only three or four pages, I knew I would not feel my time had been paid off. But her writing style will definitely make me go back to her third novel, Once Upon a River.

5/10

Vanessa

sábado, 10 de março de 2018

Presentes eternos

"Então, esse Dia da Mulher? Recebeste flores? Chocolates? Um presente?"
"Ele disse que já não havia flores na florista e levou-me a jantar um prego com batatas fritas".

Imagino que não soe romântico. Nota-se na hesitação aquando da resposta após eu falar no prego. Mas olhem que é muito atencioso da parte dele. As flores morrem passado uma semana e picos. Já aquele jantarzinho vai ficar eternamente aqui nas coxas e zona abdominal. É um presente para a vida.

Vanessa

sexta-feira, 9 de março de 2018

Mulheres a dias

Provavelmente só não soube que ontem era o Dia da Mulher quem desse dia mais precisa. Sei disso porque todas as efemérides são dias de celebração mas também de consciencialização. Há dados estatísticos citados a torto e a direito centrados nos problemas mais do que há, parece-me, exemplos de sucesso, porque no fundo as efemérides existem talvez para que um dia não tenham de existir. De cada vez que há vejo homens queixarem-se da suposta inexistência de um dia dedicado a eles, na ignorância de desconhecerem o dia 19 de Novembro, uma mulher lembra-se que é de facto importante que se saliente o Dia da Mulher. Este ano o McDonald's decidiu virar ao contrário o logótipo nos Estados Unidos. Todos os dias do ano é um M, de man (homem em inglês), mas ontem decidiu torná-lo um W, de woman (mulher em inglês), o que só ressaltou que todos os dias são dias do homem, portanto, e a mulher tem um dia que todos os anos é posto em causa.

Pouco me importa que "Só 15% das ruas com nomes próprios são de mulheres", como noticiou o Público. Eu nunca conheço os nomes da maioria das ruas por onde ando. Mais interessada estou nas mulheres importantes que ficaram esquecidas nos meandros da história, nos assentos públicos onde há uma maioria de homens, etc. Não me interessam as estatísticas sobre a diferença salarial entre homens e mulheres. Muitos dos dados não se debruçam sobre a diferença de ordenado nas mesmas posições, mas sim em todas as profissões. Estou mais interessada na razão pela qual há profissões com mais homens do que mulheres, o que é uma das principais razões para a tal diferença salarial, nomeadamente em cargos de chefia, na ciência e tecnologia, etc.

Mas acima de tudo interessa-me a igualdade e o equilíbrio, o que é sempre um progresso lento. Quando nesta sociedade primariamente machista ouço falar mal do feminismo por isto ou por aquilo, apercebo-me da cegueira e da noção enviesada de que o machismo é mais legítimo porque as coisas sempre foram assim e do medo de que a corda passe a ser mais puxada para o lado feminino, quando na verdade o feminismo se trata de igualdade. No entanto, chegou-nos ao conhecimento em Março de 2017 a declaração de um deputado no Parlamento Europeu que disse que "as mulheres são mais fracas, mais pequenas e menos inteligentes" do que os homens e que "devem ganhar menos". E em Outubro de 2017 um acórdão do Tribunal da Relação do Porto legitimava a violência doméstica por parte de um marido porque "o adultério da mulher é um atentado à honra do homem." E uma em cada três mulheres no mundo é vítima de agressões físicas, psicológicas e sexuais por ser mulher, 70% das vítimas de tráfico humano são mulheres, 28 meninas por minuto e a cada ano são obrigadas a casar na adolescência. Mas o quê, um Dia da Mulher? Então e os homens?

As feministas não são mulheres que odeiam homens. As feministas são mulheres que odeiam ser vítimas do ódio dos homens e de ódio no geral. As feministas não querem mais direitos, mas sim direitos iguais em vez de uma relação de subordinação entre mulheres e homens como tão implícito está ainda na sociedade. As feministas não querem que os homens ajudem em casa, mas sim que percebam que direitos e deveres são iguais em casa e em todo o lado e que vejam as tarefas como a sua quota-parte. Queremos igual, não mais nem melhor.

Vanessa

quarta-feira, 7 de março de 2018

Book Review | Dune Messiah (Dune #2) by Frank Herbert

Muad'dib was already mentally powerful and now holds a material power greater than being the descendant of a duke. He is an super-being and emperor. In Dune Messiah 12 years have passed since the Battle of Arrakeen, where Paul Atreides seized the Lion Throne for himself, making Arrakis the center of the universe. But even though he is seen as a god by some, a new conspiracy against him arises which sets in motion a plot filled with political agendas and tactics. The main point is that Paul Muad'dib is aware of the future and has to grapple with all that is to come, but he's also dealing with the consequences of his actions in the first book. This makes it a book filled with angst. One can also feel the sense of impending doom in Frank Herbert's writing.

I'm reminded of Harry Potter in the Order of the Phoenix. Here, however, the main character is a political and religious figure dealing with the wishes of a trophy wife, the one who permitted him to reach the throne, the wishes of his true love, the return of an old friend, resuscitated by the Bene Tleilax, a society where genetically-engineered Face Dancers follow an agenda of their own, the ever-present Jihad blowout, and overall his own prescience, which is made to seem like a curse. In that way and despite of its title, Paul is seen as a Messiah but much of the book centers around his human point of view, his difficulties, his impassivity.

Dune Messiah was much more concise and to the point than Dune, but none of the story's magic was lost on me. However, this book felt as if a transition to another, more grand plot, and as a reader it was a nasty experience. Entering the mind of such a haunted character and knowing all the tragedy about to unfold made this a sad, depressing book, but in a weirdly good way. That's when one, as a reader, knows the level of attachment only a great author can instill through his words. I only wish this book was longer, like Dune, and showed more of the life during those 12 years that have passed. I missed certain characters that populated the first book, and the glimpses into a society that looks so foreign to me that Herbert constructed so well before.

I will now take a break from this world to come back with fresh eyes.

9/10

Where can you purchase this book?

Vanessa

domingo, 18 de fevereiro de 2018

Jornalixo VIII num caso de choque (cético) em cadeia

Está tudo dito no post anterior em relação ao "choque cético". Entretanto o Diário de Notícias e o Jornal de Notícias actualizaram os seus artigos. O DN escolheu usar o termo "sético" e o JN optou pelo termo "séptico". Tinha eu dito que no Brasil a palavra podia ser escrita de duas formas. Parece que o mesmo se passa aqui.

O tal do "choque cético" mantém-se em outros dois jornais que não mencionei no post anterior. Tanto o Jornal i, que publicou o artigo pelas 11:30, como o Sol, cuja hora não encontrei (mas há um comentário que aponta o erro publicado há oito horas) contêm a gralha. São assim quatro os jornais que não se aperceberam disto, dois deles publicando depois dos dois primeiros. Se calhar não houve tempo depois do copy/paste para uma revisão.

Vanessa

Jornalixo VII num caso de choque cético

Quando li esta notícia do Diário de Notícias sobre Rosângela dos Santos, uma brasileira de 37 anos alegadamente sepultada viva desde o dia 28 de Janeiro na Bahia, eu própria padeci de choque céptico porque não queria acreditar no que os meus olhos viam. É que não bastava o acordo ortográfico ser a confusão que já é. Tinha também de criar problemas de semântica. O meu choque prosseguiu quando reparei que o artigo do Jornal de Notícias continha o mesmo erro. Ambas os artigos referem que Rosângela sofreu de "choque cético".

Fui logo pesquisar pela notícia em meios de comunicação brasileiros. Nenhuma delas continha a palavra "cético". A única coisa que está por esclarecer é o dia do enterro, porque uns noticiam que foi a 28 de Janeiro, outros que foi a 29. Mas todos concordam que Rosângela terá estado viva dentro do caixão durante 11 dias, após ter sofrido um choque séptico e supostamente ter falecido, e que durante os 11 dias há testemunhos de ruídos provenientes do seu lugar de descanso, razão pela qual o caixão foi aberto para confirmação.

O meu cepticismo desvaneceu quando me lembrei de que já perdi há muito a fé na humanidade e que os jornalistas estão incluídos nesse nome colectivo. Mas não deixo de me surpreender com a falta de humanidade e rigor dos meios de comunicação com a pressa de noticiar o mais rápido possível. À hora a que escrevo, o artigo está há seis horas no site do Jornal de Notícias e há cerca de duas no do Diário de Notícias. No entanto, o erro permaneceu este tempo todo. Não vou criticar o acordo ortográfico senão para dizer que em Portugal céptico passou a ser cético e que no Brasil mantêm-se ambas as grafias. Aqui simplificámos e e ao mesmo tempo complicámos a ortografia, a julgar pelos erros que me farto de encontrar nas notícias. Erros como este.

No artigo o que se queria dizer é que Rosângela sofreu de choque séptico. Não céptico e não cético. Antes do acordo, nem sempre o P era silencioso, da mesma forma que o C em facto não é silencioso em todas as vocalizações. Se calhar o P de céptico caiu para realmente não se confundir com o homófono séptico. Olhem no que deu. Havia aqui tantas piadas que poderiam ser feitas e até podia reconhecer que errar é humano, mas não o vou fazer por respeito a Rosângela dos Santos. Já basta a gralha em si.

Corri o parágrafo em questão no Flip, um corrector ortográfico e sintáctico gratuito na internet, e o erro foi detectado apenas quando não escolhi a opção do acordo ortográfico e meramente porque céptico sem P antes do acordo é considerado erro. Para uma pessoa com bons conhecimentos de língua portuguesa, talvez isso bastasse para despertar a atenção e reparar que algo não fazia sentido naquela frase. De qualquer forma, os humanos têm de estar atentos quando escrevem, porque as nuances do discurso são demasiado complexas para serem detectadas pelas máquinas e neste caso estamos a falar de um erro que não é nada subtil.

Vanessa

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

Ao fim e ao Cabo

A julgar pelo que aprendi na escola, pensava assistir ao fim do petróleo por esta altura: eu com 30 anos, um canudo e montes de coisas concretizadas. Só que não. Nas aulas em que se falava do meio ambiente, era sempre certo ouvir qualquer coisa como os combustíveis fósseis terem os anos contados. Primeiro era daí a 20 anos que veríamos o fim. Depois passou para 30. Depois ouvi já na faculdade que as reservas davam apenas para 40 anos. Todos os anos parecia que o petróleo se reproduzia sozinho e que a data até ao fim do ouro negro se alargava. Estaríamos a poupá-lo? Teríamos descoberto mais? Será que tudo o que aprendi na escola era mentira?

O que eu nunca esperava era passar dos 30 e ainda existirem conflitos pelo petróleo, financiados pelo petróleo e, resumindo, causados pelo petróleo. Muito menos esperava passar dos 30 e assistir ao fim da água em algum sítio. Só esperava ver o petróleo acabar e o mundo a evoluir para outra coisa. Esperava que à medida que se fosse conquistando o espaço para lá do planeta se fossem conquistando soluções para todos os problemas que já existiam na altura e que parecem piorar a cada década. Qual dos problemas o pior? O petróleo, a água, a poluição, a fome, a desigualdade. Seria mais fácil perguntar: o que não piorou?

O Dia Zero está a chegar para a Cidade do Cabo na África do Sul. Será a primeira grande cidade a ficar sem água, cuja reserva poderá terminar em Abril, a não ser que aconteça um milagre daqueles bíblicos. Estamos a falar da cidade que em 2014 foi considerada pelo New York Times e pelo Daily Telegraph como a melhor no mundo para ser visitada. 2014 foi apenas há quatro anos. Estamos a falar de uma cidade com uma desigualdade tremenda entre brancos e negros, e respectivamente ricos e pobres, zonas afluentes e outras de improviso.

Estamos no fundo a falar de uma cidade que é um pequeno mundo.

Por outras palavras, o mundo é a Cidade do Cabo em ponto grande.

Por falar em mundo, actualmente mais de mil milhões de pessoas não têm acesso a água potável e 2,7 mil milhões têm-na de forma imprevisível. E eu em pequena a pensar que o problema era o petróleo. Mas no fundo é, eu sei. O uso do petróleo polui, a poluição contribui para as alterações climáticas, as alterações climáticas fizeram com que não chovesse nada de jeito na Cidade do Cabo durante três Invernos. O uso do petróleo corrompe, a corrupção gera desigualdade, a desigualdade parece gerar pobreza em 99% da população, a pobreza extrema multiplica a ignorância; a ignorância causa uso descuidado de recursos, falta de atenção para problemas mundiais porque foca as pessoas na sobrevivência, e sobrepopulação. Et Cetera.

Por tudo isto e muito mais, pela Cidade do Cabo e por outras que inequivocamente vão seguir este caminho assustador, em gesto de solidariedade e frustração eu apenas engulo em seco.

Vanessa

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

Roupa velha

Não sei se as indumentárias das celebridades e dos monarcas são objecto de cobiça ou se há meios de comunicação que assim o fazem parecer. Sempre que alguém famoso veste algo remotamente parecido com aquilo que se vende em lojas de roupa mais humildes, ou até mesmo quando a roupa é de alta costura, há uns quantos sites que ajudam os leitores a encontrar tais peças. Eu não percebo a piada de vestir o mesmo que personalidades da esfera pública. Talvez seja uma forma de as pessoas se aproximarem dos seus ídolos. Talvez seja um truque de marketing. Talvez seja porque não há mais nada para noticiar.

Seja como for, não compreendo. Eu já não entendia a moda antes disso, por isso talvez seja esse o problema. Não consigo perceber quem dita as tendências e por que razão elas devem ser reconhecidas e seguidas. Não percebo o intuito de mudarem constantemente o estilo das calças. Boca de sino, corte direito, boyfriend, skinny, culottes. Não entendo designs que de repente se tornam trendy. Não sei nada sobre apliques tirando que na maioria das vezes são feios. Já tivemos picos e studs, lantejoulas, botões decorativos, coisas que são statement mas não sei do quê. Uma pessoa compra roupa e já ela é velha e passou de moda. É como a tecnologia, mas em pior. É como tudo na vida: passageiro e cíclico e caro. Por que razão devemos mudar com as tendências?

Mais depressa consigo perceber as teorias da conspiração mais absurda do que consigo perceber destas coisas. Sou, como se diz, uma pessoa que não vai em modas. Mas isso de seguir modas não é recente. Desde sempre são as elites que geram cobiça em coisas vãs. Só que agora com a internet o caso mudou de figuras. Há mais e pior, há exagero e controvérsia, e infelizmente há peças que esgotam e que continuam a alimentar o ciclo de consumo exagerado que por sua vez alimenta a produção sem rédeas. À medida que há cores da moda, há rios que se tingem dessas cores e mão-de-obra explorada e plástico que depois vai parar onde não devia e gente a enriquecer. No fundo eu até compreendo vagamente tudo isto. Preferia era não compreender.

Vanessa

Prendada

Em Janeiro encomendei cinco livros em dias diferentes. Não olhei a datas nem planeei para que chegassem em determinada altura. Um chegou no meu dia de anos. Dois chegaram hoje, Dia de S. Valentim. Talvez tenha sido o meu subconsciente a planear para que assim acontecesse. Talvez tenha sido coincidência. Seja como for, os livros são sempre bem-vindos. Livros no correio têm sido momentos altos na rotina. A alegria perde-se quando me ponho a pensar no tempo que vão ter de esperar para ser lidos, mas o momento de os receber vale a pena.

A minha capacidade de planeamento fica-se pelo aleatório e a coincidência. Aquilo que realmente planeio ou até as possibilidades em aberto são sempre miragem. Nunca vi planos tão passageiros como os meus. Até me podem dizer que não há presente como o presente, mas há e são os planos concretizados. Todos os anos é a mesma coisa e acabam por ser os livros no correio os picos de felicidade nos 365 dias. Sou sempre muito boa a oferecer prendas a mim própria. Por isso sou prendada, na verdade. No sentido de ser boa a receber prendas. 

Vanessa

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

Catarse em memes VI


Vanessa

Jornalixo VI ou de como não são os espargos que causam cancro

A acreditar em várias notícias por cá, os espargos contêm um composto que promove ou piora o cancro. Por exemplo, diz a RTP que foi Descoberto aminoácido nos espargos que propaga o cancro da mama. Ou, diz o Observador, Propagação de cancro da mama associada a composto presente em espargos. Mais alarmista, o Notícias ao Minuto tem um artigo intitulado: Estes alimentos podem impulsionar a propagação do cancro. Lá fora, a luta contra os espargos foi mais agressiva. O britânico The Times diz no título de um artigo que evitar os espargos pode ajudar a combater o cancro (Laying off asparagus may help beat cancer). O The Guardian diz que a metástase do cancro da mama está ligada aos espargos e outros alimentos, mas o link sugere que o título foi originalmente ainda pior, sugerindo que cortar os espargos da dieta pode prevenir o cancro (Spread of breast cancer linked to compound in asparagus and other foods). Eu digo: deixem os espargos em paz.

Os cientistas e investigadores concordam comigo. Ora veja-se aqui. Tudo não passou de um (muito) mal entendido. No estudo original, publicado na publicação Nature, relaciona-se a asparagina, aminoácido presente em tudo o que contém proteína, portanto literalmente quase tudo o que é comida e não só os coitados dos espargos, com a metástase de cancro, especialmente o da mama. O estudo sugere que quão maior o nível de actividade da asparagina, mais facilmente se espalhou o cancro da mama nos ratos de laboratório usados nesta experiência. Isto nem sequer é uma descoberta e já existe medicação para tipos de cancro como a leucemia que contem um bloqueador de asparagina. Além disso, o estudo original nem sequer refere a palavra "espargos". Mas também, ao preço a que eles estão, já antes disto eram um inimigo público.

Para quem quiser vasculhar esta lixeira cada vez maior:

Vanessa

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

A melhor dica para se proteger do frio

As dicas de combate ao frio que abundam nas notícias sempre que as temperaturas se tornam menos amenas são estúpidas. As empresas de construção, especialmente a do meu prédio, tomaram a decisão estúpida de construir casas que parecem feitas de papel a pensar que estavam num país tropical onde não há frio nem humidade. À conta do frio juntamente com a humidade, isso de usar camadas de roupa é estúpido porque uma pessoa sente que está a cobrir-se de tecido humedecido pelo gelo do congelador e até os ossos se arrepiam. Tomar bebidas quentes é uma solução temporária, mas tudo o que é líquido passa directamente do modo quente ao ponto de queimar a língua para o modo gelado de gelo, e como uma pessoa sua menos quando está frio, tem de passar a vida a mudar a água às azeitonas, o que não é nada confortável depois de se obter uma temperatura suportável debaixo de 20 mantas de flanela e tecido polar. Eu tenho uma dica melhor do que todas as que já li.

Que tal não termos a electricidade e o gás mais caros da Europa? Precisamos mais disso do que de conselhos para não falecer de hipotermia. Não acredito que se esteja num país civilizado se uma pessoa comum tem de escolher entre morrer de susto ao ver as contas para pagar ao final do mês, ou matar-se a trabalhar depois disso para pagar tais contas, ou sucumbir perante massas de ar frio inevitáveis no inverno. Fica a dica.

Vanessa

terça-feira, 30 de janeiro de 2018

Book Review | The Swan Thieves by Elizabeth Kostova

Robert Oliver attacks a painting with a knife at a national museum. His new psychiatrist, Andrew Marlowe, turns into a private investigator of sorts to figure out what the man does not tell him. Oliver, a painter himself, puts brush to canvas to paint the same woman over and over. The woman, dressed in nineteenth century garments, might be the key to this man's madness. The investigation leads Marlowe to two women in Oliver's life, none the same as the face in the paintings. This novel is as much about Oliver as it is about Marlowe as well as the woman in the portraits. I was mesmerized by Elizabeth Kostova's debut work, The Historian. By this one not so much.

The Swan Thieves would no pass the Bechdel test. Women in this novel only exist for the pleasure of men, it seems. Maybe I have too skewed a view after reading The Handmaid's Tale that might have brought to the surface the feminist in me. By the way, something weird is happening. I did not like the only other book by Margaret Atwood I read but loved The Handmaid's Tale. Now I did not like Elizabeth Kostova's second novel but loved her first one. It's one of my favorites, actually. Anyway. I felt disappointed by The Swan Thieves. It was hard to keep reading it after I felt no empathy for the characters. It did not help that the book was written in three distinct voices, plus some third-person commentaries and faux historic accounts in the form of letters.

Having loved The Historian, I'm not disappointed because The Swan Thieves did not live up to it in some way. I'm looking at it as a blank slate. I did not like it for what it is and also for what it was not. Maybe I do not have an artistic side to me that would appreciate the book in a way a painter would. Maybe I was expecting a connection with at least one of the characters. Maybe I was expecting a remarkable payoff for this 600-page novel that seemed so promising. What made it bearable, in retrospective, was the beautifully crafted prose.

However, in the end I did not have the answers I was looking for. I felt like the book was a big exposition of characters who rambled about their relationship to Oliver, in memoir style, SPOILER: the end felt rushed, and in conclusion there were no reasons to explain Oliver's behavior other than an obsession exacerbated by a hinted-at mental illness. Why did he stop talking at all? On the other hand, Marlowe's quest seemed to end in a lucky hunch that would put to shame art experts and historians if it all were real. I so wanted to like this book, I felt drained and disappointed in the end. I get it, Oliver is big and strong looking. This book felt tedious and lacking passion, which is weird since all characters were passionate about something or someone.

5/10

Vanessa

segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

O primeiro de muitos

Estava a tentar domar o cabelo em frente ao espelho quando reparei nele. Pelo comprimento já lá devia estar há algum tempo sem que eu reparasse. Calculo que por ter o cabelo preto e os espelhos estarem em sítios com luzes esbranquiçadas, o que reflecte tons de branco no meu cabelo preto, aquele singelo cabelo branco tenha conseguido manter-se anónimo. Mas agora, sendo o único exemplar, é o centro das atenções durante a manutenção capilar. Dou por mim a procurá-lo por entre a escuridão da minha cabeleira para ter a certeza de que ele está lá. Tornou-se um cabelo de estimação. Tenho por ele, de facto, muita estima.

Se é sinal de sabedoria, não sei. Mas é pelo menos um constante aviso de que a juventude tem sempre os dias contados. Pode parecer um pouco deprimente, mas não é. Quando o corpo nos dá sinais de experiência, o melhor é sempre pensar naquilo que representam esses sinais, presentes num corpo que ainda se mexe, e também no que está por vir que irá também deixar marcas que só se estivermos atentos saltam à vista.

Vanessa

sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

Atenção: aqui há muita secura XXVII

Um amigo meu conheceu a sua actual esposa num cemitério. 

A única coisa que me disse sobre o assunto foi que ela é linda de morrer.


Vanessa

quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

Book Review | The Handmaid's Tale by Margaret Atwood

Here's a book so horrifyingly sad and beautiful it haunts a reader who might try then to find similarities between fiction and reality. The Handmaid's Tale is set in a future where women's rights were reversed because of and in a climate of political oppression, pollution, and overall uncertainty. Margaret Atwood calls it speculative fiction. The book was written after George Orwell's 1984 and is said to have been slightly inspired by it. Each in their own sphere is a chilling account of what might one day be if. Let us hope none of them materialize.

Atwood's novel is a firsthand account set in Gilead, within the borders of the United States. The main character is Offred, a telling epithet that pretty much summarizes the plot. It turns out, in this possible future women are a commodity or a possession. Thus, the preposition of and name of the man to whom women are associated with are what constitutes their new name. Fertility rates have plummeted and the top 1% have access to fertile women, Handmaids, who bear them children just out of the kindness of their hearts, a feat imposed by Christian religion based on bible accounts. So, not exactly a willing thing. Free will does not exist in this world.

The plot is purposely chopped (at the end we know why and how that happens) and details of this new system are embedded in Offred's account of her daily life after she becomes an Handmaid and in memories of a previous existence that went sour. Margaret Atwood ingeniously imagined how terrorism can be turned into a weapon by the supposedly terrorized country to enslave its own people, how the effects of pollution can possibly impact humankind, and how one individual can become oppressed and obedient in this grim environment.

I could have read this book in one or two days, it was so enticing. The writing style is compelling and poetic, weaving beautiful scenery into terrifying experience, words crafted in a resulting pleasurable read. I could not get enough of Offred's story, and I wanted a conclusion, which did not satisfy. That's mainly why I'll be watching the television series. To see what's possible. To see Offred once more. SPOILER: in my mind, she did escape. The ending left me hopeless, but the historical notes made it seem that at least women regained some control. 

10/10

Related:
Notice how different this review is from my previous one on another Atwood's novel. 

Where can you purchase this book?

Vanessa

terça-feira, 23 de janeiro de 2018

Há algo na minha cara

Não tenho habilidade para ser vendedora. Já trabalhei num call center e pus à prova a minha capacidade de persuasão. Tenho quase nenhuma. No call center telefonava para empresas e oferecia jornais. Era gratuito. Ainda assim, era difícil as pessoas aceitarem. No entanto, é frequente ser a escolhida por pessoas que necessitam de informações sobre produtos. Tenho uma amiga que é do norte, vive em Lisboa, e é constantemente abordada por pessoas que precisam de indicações. Já eu sou questionada sobre produtos e preços de produtos e se os produtos são os mesmos do panfleto e se os produtos são aqueles que estão em promoção.

Sempre pensei que tenho não tenho uma daquelas caras, sabem? Não me parece que tenha uma aparência particularmente convidativa a estranhos. Mas devo ter, porque umas três ou quatro vezes por semana há pessoas a perguntarem-me coisas sobre coisas que não me pertencem. Talvez tenha cara de funcionária. Não é por não haver outras pessoas por perto. Já aconteceu estarem funcionários num raio de três metros.  Não é por a minha roupa se assemelhar à farda do sítio onde estou. Raramente uso as cores mais comuns das fardas dos funcionários. Verdes garridos, vermelhos vivos, azuis petróleo. Talvez seja por nada em especial.

Quando era adolescente, ajudei certa vez uma senhora idosa que não sabia ler e ela ficou minha amiga. Hoje em dia não se criam laços tão facilmente, parece-me. Eu era amiga da senhora dos gatos, da senhora que não sabia ler, de vizinhos, e quando era criança era amiga de outras crianças. Agora as relações são cordiais mas afastadas. Cada um por si. Excepto no que toca a pedidos de informação. Aí pareço ser a eleita. Quando trabalhava em jornalismo, talvez isso estivesse a meu favor. Em retrospectiva, se calhar era pelo meu aspecto receptivo a pedidos de informação sobre produtos que as pessoas aceitavam ser entrevistadas por mim.

Seja como for, agora é-me fácil fazer boas acções porque as oportunidades simplesmente surgem. Se há produtos por perto, há pessoas que precisam de ser esclarecidas sobre alguma coisa. E lá estou eu para ajudar. Talvez seja altura de começar a solicitar comissões ou usar isto a meu favor.

Vanessa

Book Review | Dune (Dune #1) by Frank Herbert

Truth is, reading this book made me feel dumb initially. There was so much to grasp in the beginning, so many concepts and words, I got trapped while trying to get into the world Dune sets, slowly making my way for months, wondering why my brain was so closed to it. Thankfully, that was only the beginning. Unlike the editors who refused this book for being too complex, I did not give up on it. That made it all the more enjoyable when something like a consciousness shift occurred and Dune became impossible to put down.

I could not even begin to summarize this story. It contains politics, religion, philosophy, mysticism, and surprisingly, ecology. In fact, one could read this book under one of those umbrellas, and then go back and read it through another lens and get a different meaning. Modern science fiction is clearly set on the shoulders of Frank Herbert's Dune. Therefore, I am of the strong opinion that Dune should be taught in schools.

Wishful thinking aside, Herbert's prose was hard to decipher. I read the dialogues and could almost feel the enormous subtleties in meaning that were completely passing me by. The prophecy of Muad'Dib, a messiah figure on the fictional planet Arrakis, was an intriguing one. All chapters seemed to start with quotes from a fictional book telling the story of the mystical Muad'Dib, or explaining foreign traditions so well in the future, but with so many ancient details to them, that this felt like a real telling of an historical future yet to take place.

The world of Arrakis, which I find so familiar because it resembles the Middle East, with a precious resource, finite and coveted, a harsh desert that carves customs and faces, and in era where computers are the enemy, all of that made this world so enticing. There are sandworms, nomadic people with strange and understandable traditions related to water, a precious resource that's lacking and that dictates daily life and war life, and there are futuristic politics between houses, a whole universal imperium ruled in a business fashion, but yet religious practices, and even a bible. And prophecies. And drugs that make humans a little closer to gods.

It's hard not to take Dune as a sort of prediction of the future, the millennial future in which the interstellar travel might be child's play, artificial intelligence becomes an enemy, life is based on another finite resource other than oil, the top 1% grows stronger, and people need a messiah like Muad'Dib to guide them to a prosperous future.

10/10

Where can you purchase this book?
Dune on Book Depository from €7.70.

Vanessa

sábado, 20 de janeiro de 2018

A demonização do leite

De acordo com o jornal Público, a venda do leite caiu 11% em 2016. O jornal cita Paulo Leite (nome muito adequado), director da Associação Nacional da Indústria dos Lacticínios, que refere "campanhas de difamação do leite sem fundamentação científica" e "modas que, talvez por uma questão de marketing, estão a demonizar os lacticínios" como causa para o declínio do consumo, fenómeno visível em toda a Europa mas mais em Portugal.

Há muito que nas últimas décadas passou de maná dos deuses a veneno. A margarina foi apresentada como sendo uma alternativa saudável à manteiga, por exemplo, quando hoje sabemos o mal que fazem as gorduras hidrogenadas, e tudo o que é composto por químicos e processado no geral. Os cereais de pequeno almoço, tirando os cornflakes e aquelas cenas de trigo que sabem a palha, eram considerados um começo de dia saudável e hoje sabemos que têm tanto ou mais açúcar do que uma sobremesa. Um viva à informação.

Hoje estamos mais atentos aos estudos. Quem os financia acaba por ser um componente importante. Estamos mais informados. Ligamos mais ao senso comum em vez de deixarmos escorregar pela goela aquilo que é publicitado. Em suma, não confiamos tanto. A indústria (ainda) não está habituada a tal acto de rebeldia. Consumidores mais ou menos informados ou pelo menos com curiosidade suficiente para quererem saber mais sobre os produtos são um perigo. Fala aqui uma pessoa que cresceu alimentada a cereais de chocolate com leite ao pequeno-almoço, bolacha Maria à discrição, e tantas outras coisas agora demonizadas.

Hoje tudo pode fazer mal, queixam-se uns. Mas então agora o melhor é comer pedras? Blá, blá, blá. Sim, hoje tudo pode fazer mal, especialmente em excesso. Excepto talvez espinafres. Hoje há estudos disto e daquilo. Muitos ambicionam ser os cadáveres mais saudáveis do cemitério. Mas há quem, como eu, simplesmente procure saber o que faz menos mal e dedique mais tempo a consumir informação. Há quem experimente. Por que não aderir às modas sem extremismos? Por que não variar o que consumimos? Se no fim nos sentimos melhor e não existiram problemas de saúde, por que não? Será melhor o consumo cego?

Nisto entra o leite. Demonizada posso ser eu depois do que vou escrever: nós não somos bezerros. Leite de vaca não é bem essencial. É uma comodidade que consumimos pelo cálcio, proteína, vitaminas, e minerais. Há mais fontes que contêm todos estes elementos que não o leite. Os lacticínios não são demonizados só pela suposta falta de evidência científica. Trata-se também de senso comum. Se há variedade de produtos, o consumo é variado também. Como deve ser. Fala aqui uma pessoa que deixou de consumir leite frequentemente e se sente melhor por isso. O leite é uma comodidade. É uma facilidade. Apresentem uma tigela de leite a qualquer mamífero e é provável que ele o consuma. Mas a diferença é que nós, mamíferos racionais, temos capacidade para digerir informação, extrair da natureza o que queremos, e tomar decisões com um cérebro pensador.

Há quem, como eu, prefira as alternativas que não impliquem a exploração animal. Se as há, por que não? Se há outras formas de obter todos aqueles nutrientes, por que não? Não acredito que existam vacas que produzam leite para consumo humano que sejam felizes. Peguem numa mulher grávida, explorem as suas glândulas mamárias, afastem-na do ser que concebeu e que é o verdadeiro dono do seu leite. Seria ela feliz? É nisto que penso quando vejo um pacote de leite que apregoa a felicidade da vaca que lhe deu origem. São coisas que dantes não valiam tanto como agora. Se calhar não havia tantas outras alternativas. E além disso, foi-nos vendida a mensagem de que precisamos de leite. Mas agora aprendemos que há uma diferença entre precisar e querer.

Logo a seguir a estes argumentos vêm os componentes nocivos potencialmente presentes no leite. Os estudos que fazem correlações entre o leite e doenças actuais. As evidências contrárias ao que antes nos foi dito. Mas no conjunto de argumentos, estes são até os menos importantes para mim. Há variedade como nunca antes existiu. Incluindo de informação. Se calhar é por isso que em 2014 a venda de bebidas vegetais aumentou 19%.  De vez em quando bebo um galão. De vez em quando como queijo. De vez em quando iogurte e natas. Mas tenho sempre aberto um pacote de bebida vegetal em vez de leite e até as natas são maioritariamente vegetais. É uma escolha pessoal com base nos argumentos que descrevi. Graças ao leite, sei desconfiar sempre que uma indústria apregoa os benefícios do produto que põe à venda. No fundo, devo muito ao leite. Foi com ele que cresci. Mas foi também com ele que aprendi a pensar melhor sobre as escolhas que faço. Por isso, sou uma vaca feliz. 

Ah ah.

Vanessa

quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

Leituras demoradas

Li 47 livros desde Janeiro de 2016 (estou atenta a isso porque escrevo aqui opiniões sobre cada um), mas as leituras estancaram muito em 2017. Podia ter lido um livro por semana, o que daria 52 livros em um ano, e por esta altura já tinha ultrapassado uma centena de livros lidos desde 2016. Mas por dar ênfase à qualidade, há meses, não sei quantos porque não quero ficar deprimida, estou a ler a Duna, de Frank Herbert (Dune no original). Este livro inspirou muitos enredos de ficção científica e é por muitos considerado uma obra-prima. Ao ler opiniões sobre o livro num clube de leitura online, deparei-me com leitores que consideram ter aprendido com Duna mais do que aprenderam com a bíblia. Aprendi que Frank Herbert popularizou o termo "ecologia". E entretanto soube que Denis Villeneuve, um dos meus realizadores preferidos de há uns tempos para cá, estava a preparar-se para realizar o filme baseado na estória. Portanto, decidi que devia ler o livro.

Estou nisto há meses. A leitura intrigou-me de início. O livro foi comigo para o Alentejo, e por coincidência ficou com uns grãos de areia presos à parte interior da lombada. Traços de duna portuguesa num livro sobre outros planetas. Logo nos primeiros capítulos comprei a sequela porque sabia que ia valer a pena. Mas a leitura arrastou-se do final do Verão até ao Inverno. O interesse fluía, ia e vinha. Outras coisas da vida intrometeram-se. E eis que depois do Natal o interesse retomou quando cheguei à segunda parte do livro. Comecei a ver nas entrelinhas muito mais do que esperava. Jogos políticos, religião, ecologia. Este livro está cheio. Tudo isto está mascarado numa escrita simples, em detalhes incompletos. Há muito deixado à imaginação. 

A estória decorre no futuro, uma existência inter-planetária, um mundo sem computadores. Foi uma escolha inteligente. O livro torna-se num ensaio humanístico, sem a tecnologia avançada que imaginamos para os nossos sucessores. Os diálogos deixam-me sempre em sentido. Há costumes perturbadores. Um planeta escasso de água. A água como um bem precioso. Tradições. Fatos que reciclam a água do corpo humano. O povo cigano do planeta Arrakis com os seus costumes de preservação. Lágrimas são ao mesmo tempo desperdício e prova de humanidade porque a água é tão escassa. O corpo de um membro da tribo pertence-lhe, mas a sua água pertence à tribo. A leitura tornou-se e manteve-se fascinante. Talvez por algo em mim ter mudado. Talvez porque algo em mim despertou, como li nas opiniões de outros que se debruçaram sobre o mesmo livro.

Talvez precisasse de meses para me adaptar à leitura. Talvez tenha a leitura adaptado-se a mim. A verdade é que o livro está a terminar e eu estou triste por isso. Nunca antes 800 páginas me pareceram tão pouco.

Vanessa

terça-feira, 9 de janeiro de 2018

Veganismo na positiva

Tenho incluído mais produtos vegetais e menos produtos animais no meu quotidiano. Tento convencer os mais próximos a incluir mais vegetais também, mas nunca lhes digo para diminuir o consumo de produtos animais, excepto quando vejo exagero ao género americano. Desde a minha gradual mudança de hábitos alimentares, a conversa à mesa é sempre a mesma e recorrente. Alguém diz que viu um documentário ou leu um artigo sobre o veganismo ou arranja outras formas de validar a minha forma de estar e agir, e a conversa gira em torno disso. É uma atitude inconsciente sobre a qual já li com frequência em comunidades que falam de veganismo, diminuição de consumo, etc. Na maior parte das vezes, o que li foi não aceitação ou repreensão. No meu caso, é ao contrário, mas não deixa de demonstrar o mesmo que as atitudes negativas: que quando mudamos os nossos hábitos, as pessoas sentem que estamos a criticar, insultar, desaprovar os seus hábitos.

Claro que existem vegetarianos extremistas que realmente criticam, insultam e desaprovam os que seguem dietas omnívoras, mas falo dos que como eu se abstêm de falar de restrições e apostam numa mensagem mais positiva. Começou de forma subtil, no meu caso. Foi por achegas em nome da saúde. Afinal de contas, a Organização Mundial da Saúde recomenda um consumo mínimo de 400 gramas de frutos, legumes e hortaliças por dia. Segundo a Direcção-Geral da Saúde, "O baixo consumo de frutos, hortaliças e legumes está entre os 10 factores de risco para o aparecimento de doenças e morte prematura" e, "Globalmente, o baixo consumo de hortofrutícolas é responsável por cerca de 19% dos cancros gastrointestinais, 31% da doença cardiovascular isquémica e por 11% dos enfartes". Portanto, aposto na promoção da inclusão de vegetais.

Não me considero sequer vegetariana, porque continuo a consumir toda a variedade de produtos, mas reduzi vários elementos da roda alimentar por uma questão de princípio e saúde. Consumo bebidas vegetais, reduzi drasticamente o consumo de queijo e ovos, e proteínas animais no geral só umas três vezes por semana. De forma mais extrema, não compro mel ou produtos com mel, o mesmo com o óleo de palma, peixe da Noruega ou de aquacultura, e tento reduzir a compra de produtos em plástico. No entanto, parece-me que com os meus hábitos estou a passar a mensagem de que os que me rodeiam devem fazer o mesmo, porque de alguma forma as pessoas sentem-se postas em causa com as nossas decisões. O que não é de todo negativo, e a prova é um maior consumo de legumes à mesa cá em casa ou as conversas que temos à mesa. A mera consciência do impacto que causamos é positiva. Torna-nos menos zombies e mais humanos.

Ainda assim, sinto uma certa condescendência ou gozo quando encho o prato de legumes, ou a conversa de vez em quando entra por caminhos menos positivos, ou as pessoas simplesmente não conseguem sair do hábito de consumir como os reis da época medieval consumiam: com fartura, mas pouca saúde. Estamos a comportar-nos como a monarquia se comportava e o resultado é semelhante. Os obesos de épocas passadas, aqueles que morriam de mortes prematuras, de doenças cardiovasculares, de consequências dos diabetes, todos eles eram pessoas da realeza. Evoluímos ao ponto de podermos viver em fartura. Infelizmente, isso inclui fartura de doenças também, e de consequências que vão para além do nosso umbigo. Tomar certas atitudes em prol de algo que não apenas o nosso bem-estar é olhar para lá do umbigo, onde o horizonte que se avizinha não é o mais reconfortante. É deixarmos de ser robôs. É acordarmos e abraçarmos a variedade.

Vanessa

sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

A primeira semana do ano

Quando tomava notas na escola, a data era sempre rasurada na primeira semana do ano porque o cérebro esquecia a passagem do tempo e permanecia no ano anterior. Lembro-me que a pior altura foi quando passámos de 1999 para 2000. Não havia grande volta a dar e não era comum usar aqueles correctores de fita, por isso as datas eram escritas e rescritas, a tinta a formar um bolo e a vincar as folhas seguintes. Certa vez usei corrector em formato de caneta e enganei-me uma segunda vez. Eram bons tempos, em que uma das maiores preocupações era não me enganar na data. Aí está a prova de que sempre tive dificuldade com os números.

Agora não tenho de escrever datas em quase coisa nenhuma porque os emails e os posts são datados pela máquina. As únicas alturas em que escrevi datas à mão o ano passado foi quando me candidatei a uma vaga de emprego público e quando passei a datar as páginas do caderno onde estão as nossas obras de arte do Pictionary para mais tarde recordar. Até os comprovativos das encomendas online já vêm com a data preenchida e é só assinar à porta. Quase tudo vem datado. E com isto eu é que me sinto datada, a pensar em tempos idos de anos rasurados em folhas agora amarelecidas em cadernos guardados com pouco cuidado.

Já não se escrevem datas e, na verdade, o tempo passa tão depressa. Se calhar é por não escrever mais datas em cadernos. Agora a consciência do tempo faz-se pela chegada da sexta-feira pelas melhores razões ou da segunda pelas piores. Ou então porque já estamos em ano X, olha como o tempo passou. A cada ano que passa, menos dou importância ao ano em que estamos. Caso contrário, olha como o tempo passou e olha o que não fiz.

Por isso, passou a primeira semana de 2018 sem nada a registar. Não houve datas escritas nem rasuradas. Cada dia uma folha em branco. A cada ano cadernos por escrever. Daqui a um mês, olá 31. Um ano e três décadas feitos de cadernos escritos e outros por escrever e eu passei a gostar muito de folhas em branco.

Vanessa

quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

Onde comprar levedura nutricional em Portugal

A primeira vez que perguntei por levedura nutricional (nutritional yeast em inglês) numa das lojas do Celeiro, a funcionária perguntou-me se me estava a referir a levedura de cerveja. A levedura nutricional é uma estirpe de levedura da mesma família dos cogumelos. É obtida artificialmente da mistura entre melaço de beterraba e açúcar de cana, e reforçada com vitaminas do complexo B. Quem se interessa por nutrição e vegetarianismo sabe que supostamente tem um sabor semelhante ao queijo, mas é vegana e isenta de glúten.

Depois de ver umas quantas receitas em que a levedura nutricional substituía o queijo, fiquei curiosa e quis experimentar. Mas no Celeiro não havia, aqui há um ano, e comprar online saía caro. Felizmente, a situação mudou. Esta semana fui ao Celeiro e encontrei estes flocos de levedura nutricional a 4,99€. Infelizmente não contém vitamina B12, mas contém muitas outras. Pode ser que consigamos ter mais variedade de produtos deste género ou que esta marca reforce os ingredientes se tiver sucesso no mercado português.

Após ter experimentado esta levedura nutricional posso dizer que não me sabe propriamente a queijo excepto quando adicionado a pratos que o requerem. Tem um travo parecido e há muitas receitas online para confeccionar queijo vegano com mais ingredientes que provavelmente fazem sobressair o sabor a queijo com a levedura nutricional . A mim sabe-me a caldo artificial e nozes mas sem sal.  A textura com os flocos deixa um pouco a desejar porque forma uma pasta no fundo do prato com o calor dos outros alimentos. Gosto especialmente com pasta de sésamo, talvez porque fique com uma consistência parecida à do queijo derretido.

Vanessa

quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

Meio cheio

Pessimista por natureza, tento sempre aquilo de ver o copo meio cheio em vez de meio vazio. Nunca me ocorreu pensar antes no meu cesto de roupa para lavar em vez de um copo. É que o dito está permanentemente meio cheio tal como o meu copo de optimismo devia estar. Claro que para continuar na veia do optimismo tenho de pensar que ter o cesto meio cheio é sinal de abundância não só de roupa, mas de experiências que me permitem sujá-la. Talvez tudo isto seja mais fácil de encarar com um copo meio cheio... de qualquer coisa destilada.

Vanessa

segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

Proporções invariáveis

Não confio nos produtos com quantidades em proporções variáveis porque invariavelmente isso significa que a embalagem vai conter em maior quantidade o elemento mais barato. Uma mistura de frutos secos com amêndoas, caju, nozes, castanha do Brasil e passas vai com certeza ter mais passas do que qualquer dos outros frutos. Um pacote com uma mistura de aperitivos vai ter em maior quantidade o mais sensaborão. Um pacote com vários biscoitos vai ter em menos quantidade aquele que tiver chocolate e em maior quantidade aquele que é só praticamente farinha e açúcar. Uma embalagem de aperitivos salgados vai ter em menos quantidade aquele que souber mais a queijo e em maior quantidade o que sabe a fécula de batata.

Se eu tivesse um blogue quando era catraia, podia ter escrito este post, mas dando como exemplo gomas. Os ursinhos vermelhos, os mais apetecíveis de um pacote, era sempre os mais raros.

O preço é o que dá logo a dica quanto à variabilidade das proporções. Quanto mais caro, mais justa é a proporcionalidade dos elementos. Por exemplo, quanto mais caro o kebab, mais carne tem.

Não comecei este post porque queria falar na possibilidade dos kebabs serem proibidos na União Europeia. Na verdade, tinha começado o post muito antes, num dia em que comprei uma mistura de frutos secos e fiquei triste com a quantidade de umas coisas em relação a outras. Mas entretanto surge a notícia dos kebabs e eu dou por mim a pensar naqueles restaurantes de subúrbio onde todos os kebabs sabem ao mesmo.

Nesse caso, a qualidade, ou por outras palavras, a quantidade de carne numa shoarma também se denota pelo preço. Quanto mais souber a carne, mais cara é. Por exemplo, sou fã da Joshua Shoarma, mas aí uma pessoa é presenteada com pedaços de carne que sabem a carne e tempero exótico. Num desses restaurantes de esquina, uma pessoa pede uma pita e recebe lascas de produto que parece fiambre, mas mais escuro.

Convenhamos. Há certos produtos que funcionam um pouco como a roleta russa. Ou como a caixa de chocolates que a mãe do Forrest Gump consumia. Uma pessoa nunca sabe o que lhe vai calhar.

Mas eu preferia continuar a ter hipóteses de escolha, só que a continuar assim, depois dos kebabs a União Europeia deve querer debruçar-se sobre os mil e um outros produtos que estão à venda e que podem conter substâncias nocivas e lá se vão mais de metade das escolhas que ainda podemos fazer. Certo?

Vanessa

quarta-feira, 29 de novembro de 2017

50 sombras de inveja

Acabo de ler uma página do livro Fifty Shades Darker, cortesia de umas pessoas que não hesitaram em divulgar online uma tórrida cena em que o casal da saga erótica As Cinquenta Sombras pára de cozinhar para atender a certas necessidades físicas prementes e o protagonista desliga o fogão e diz à moça protagonista para colocar o frango no frigorífico. Por entre as piadas sobre a bizarra preocupação com a higiene e segurança alimentar ou sobre a ausência de uma linha de diálogo que indicasse que os protagonistas lavaram também as mãos antes de partir para acções que não as culinárias, apercebi-me de que invejo a autora dos livros, E. L. James.

Não só as suas estórias foram inspiradas noutra famosa saga, como a fama das suas estórias chega a ultrapassar a do trabalho que as inspirou, e além disso poder-se-ia dizer ainda que se tornaram famosas as suas fantasias íntimas, e fantasias deve ser coisa que com certeza dará menos trabalho a escrever do que uma tese. Nunca li nenhum dos livros nem vi os filmes, mas até já fiz pouco da senhora pelo que sei do enredo. Ainda assim, tenho-lhe inveja, primeiro pelo seu ofício e segundo pelo seu sucesso. Diga-se o que se dizer, E. L. James é bem-sucedida porque há muitas pessoas que lêem os seus livros e isso é invejável para quem, como eu, nunca se pôs a concretizar o seu ideal profissional com afinco por falta de tempo, insegurança, etc.

Claro que, convenhamos, a inveja diz apenas respeito a isso, ao sucesso num ofício como o da escrita. Pela minha parte, vou continuar a considerar os livros como exemplos de misoginia, um reflexo triste da sociedade actual, e a acreditar em quem diz que a escrita de E. L. James é equivalente à de uma criança de 10 anos. São coisas que me fazem sentir mais aliviada por momentos. Um pouco como atender à higiene e segurança alimentar dos alimentos para depois fritá-los e enchê-los de sal. Alívio momentâneo, sensações muito piores a seguir.

Vanessa

segunda-feira, 27 de novembro de 2017

O preço do pão pode aumentar 20%

Senti hoje que acordei na twilight zone. Primeiro porque não só surgiram inúmeras notícias sobre o aumento do pão, como a maior parte dos jornais cita que foi o Correio da Manhã que avançou a notícia, e como os profissionais da panificação alegadamente dão como razão um aumento dos custos na indústria, custos esses que não chegam aos 5% (assim por alto, juntando argumentos como o aumento do salário mínimo, dos combustíveis, do gás e da electricidade), mas que vai justificar um aumento de supostamente 20% com uma carcaça a poder custar em Lisboa 24 cêntimos. Eu chamo a isto o milagre da multiplicação do preço do pão.

Maria Antonieta, rainha francesa que certo dia em 1789, face às más colheitas que tiveram como consequência o aumento do preço do pão, recomendou ao povo: "se não têm pão, que comam brioches" estaria orgulhosa de Portugal. Afinal de contas, o pão já hoje em dia chega a ser mais caro que certos bolos, especialmente se for daquele com farinhas integrais e com as sementes da moda, por isso mais vale de facto comer bolos.

Quem se vai ver aflita com isto do aumento do preço do pão é a indústria da manteiga. Sem pão na mesa, barrar uma fatia de pão com manteiga vai ser exclusivo da classe alta. Ou das telenovelas, onde há sempre aquelas mesas fartas onde as personagens conseguem encaixar diálogos durante o acto de barrar manteiga e as pessoas têm tempo para tomar o pequeno-almoço em família, e usam dois pratos e três copos porque há café e sumo e água e um monte de talheres, e depois não têm de passar uma hora a lavar a loiça.

Ironicamente, a política do pão e circo do Império Romano usada para alienar as massas dos problemas políticos é hoje precisamente o que consciencializa o povo acerca de toda a conjuntura. A opinião pública está mais informada e com certeza ciente das repercussões de um aumento na escala dos 20% de um elemento tão importante na mesa portuguesa. A par do pão, também os ovos vão encarecer, e sabe-se lá mais o quê.

Mas se por um acaso também a farinha aumentar de preço num futuro próximo, solicito que a indústria panificadora siga o exemplo da Finlândia e passe a usar farinha de grilo na confecção do pão. Não só fica mais barato, como tem proteína, o que pode colmatar a falta dos ovos e de todos os outros produtos que serão mais caros no futuro, e além disso é isento de glúten, o aparente inimigo público número um a seguir aos aumentos de preço. É que só circo não puxa carroça, e comer bolos dá cabo da produtividade. 

Vanessa

sexta-feira, 24 de novembro de 2017

Sexta-feira colorida

Black Friday ou Sexta-Feira Negra é um termo vindo do outro lado do Oceano Atlântico, dos Estados Unidos, que designa a abertura da época de compras de natal após o Thanksgiving ou Dia de Acção de Graças. O termo foi utilizado pela primeira vez pensa-se, em 1951. Na época, os registos financeiros eram escritos à mão e tinta vermelha significava perdas e tinta negra significava lucro. A partir da década de 1960, a polícia norte-americana designava como negra a esta época devido ao trânsito e aos incidentes trazidos pelo alvoroço das compras. Os comerciantes motivam ainda mais o alvoroço com descontos supostamente únicos. Hoje em dia, é essa uma das vantagens do dia. No fundo, a Black Friday tem conotações positivas mas também negativas.

Com a globalização, o termo é usado em Portugal e as principais cadeias comerciais aderiram às campanhas promocionais para atrair os consumidores. Eu cá nunca comprei nada na Black Friday, muito sinceramente porque só faço compras quando preciso e a bem dizer as coisas só se estragam nas piores épocas, ou seja, nunca nesta altura de descontos. Além disso, faço por me afastar das zonas comerciais quando há alguma efeméride. Já para não falar nas músicas de natal irritantes que depois ficam no ouvido e não saem nem por nada.

Por isso, as minhas sextas-feiras supostamente negras são sempre mais coloridas, porque tudo o que é sítio onde não se vendam coisas com descontos está muito mais sossegado. As ruas dos subúrbios estão calmíssimos, há menos gente na rua, se bem que pode ser do frio, e há na generalidade paz e sossego, que é o que se quer. Mas no dia em que os cafés aderirem à Black Friday, aí está o caldo café entornado. Se calhar devia mas é aproveitar os descontos para comprar uma máquina cafeteira daquelas que funcionam com cápsulas. Just in case.

Vanessa

quarta-feira, 22 de novembro de 2017

Ponto de saturação

Vi o filme Liga da Justiça (Justice League no original) e como sempre senti-me vagamente insultada. Tem sido recorrente sair do cinema assim, com a sensação de que o filme foi razoável e teria ficado feliz a fazer qualquer outra coisa. A praga dos filmes razoáveis é para mim como um insulto pessoal. Estamos numa fase em que há tanta potencialidade tecnológica que deveriam existir mais filmes espectaculares. A questão é que a par dos efeitos especiais está o enredo, e o enredo muitas vezes ou é negligenciado a favor do estilo ou o estilo é tão grandioso que afoga o enredo. No caso da Liga da Justiça foi um pouco de ambos.

Além disso estou saturada de filmes com super-heróis. Quase todos, até os da Marvel, sofrem de falta de maus da fita. Afinal de contas, um filme é tão bom quanto o seu vilão. Só que de vez em quando há um filme da Marvel que rompe com a tradição e mostra algo mais como o Logan ou o mais recente Thor. Depois uma pessoa fica mal habituada, vai ver filmes razoáveis ou medíocres, e sai do cinema a sentir que perdeu tempo.

Não ajuda que as produtoras reciclem conteúdo (reboots) e recriem personagens, repesquem estórias antigas para as continuar ou para as explicar com sequelas ou para expandir com séries, ou simplesmente copiem o que já foi feito mas agora com efeitos especiais e actores da moda. Onde pára o conteúdo original? 

Suspeito que a continuarmos assim, vou dar um grande avanço na minha lista de livros para ler.

Vanessa