quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

Roupa velha

Não sei se as indumentárias das celebridades e dos monarcas são objecto de cobiça ou se há meios de comunicação que assim o fazem parecer. Sempre que alguém famoso veste algo remotamente parecido com aquilo que se vende em lojas de roupa mais humildes, ou até mesmo quando a roupa é de alta costura, há uns quantos sites que ajudam os leitores a encontrar tais peças. Eu não percebo a piada de vestir o mesmo que personalidades da esfera pública. Talvez seja uma forma de as pessoas se aproximarem dos seus ídolos. Talvez seja um truque de marketing. Talvez seja porque não há mais nada para noticiar.

Seja como for, não compreendo. Eu já não entendia a moda antes disso, por isso talvez seja esse o problema. Não consigo perceber quem dita as tendências e por que razão elas devem ser reconhecidas e seguidas. Não percebo o intuito de mudarem constantemente o estilo das calças. Boca de sino, corte direito, boyfriend, skinny, culottes. Não entendo designs que de repente se tornam trendy. Não sei nada sobre apliques tirando que na maioria das vezes são feios. Já tivemos picos e studs, lantejoulas, botões decorativos, coisas que são statement mas não sei do quê. Uma pessoa compra roupa e já ela é velha e passou de moda. É como a tecnologia, mas em pior. É como tudo na vida: passageiro e cíclico e caro. Por que razão devemos mudar com as tendências?

Mais depressa consigo perceber as teorias da conspiração mais absurda do que consigo perceber destas coisas. Sou, como se diz, uma pessoa que não vai em modas. Mas isso de seguir modas não é recente. Desde sempre são as elites que geram cobiça em coisas vãs. Só que agora com a internet o caso mudou de figuras. Há mais e pior, há exagero e controvérsia, e infelizmente há peças que esgotam e que continuam a alimentar o ciclo de consumo exagerado que por sua vez alimenta a produção sem rédeas. À medida que há cores da moda, há rios que se tingem dessas cores e mão-de-obra explorada e plástico que depois vai parar onde não devia e gente a enriquecer. No fundo eu até compreendo vagamente tudo isto. Preferia era não compreender.

Vanessa

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