Quando li esta notícia do Diário de Notícias sobre Rosângela dos Santos, uma brasileira de 37 anos alegadamente sepultada viva desde o dia 28 de Janeiro na Bahia, eu própria padeci de choque céptico porque não queria acreditar no que os meus olhos viam. É que não bastava o acordo ortográfico ser a confusão que já é. Tinha também de criar problemas de semântica. O meu choque prosseguiu quando reparei que o artigo do Jornal de Notícias continha o mesmo erro. Ambas os artigos referem que Rosângela sofreu de "choque cético".
Fui logo pesquisar pela notícia em meios de comunicação brasileiros. Nenhuma delas continha a palavra "cético". A única coisa que está por esclarecer é o dia do enterro, porque uns noticiam que foi a 28 de Janeiro, outros que foi a 29. Mas todos concordam que Rosângela terá estado viva dentro do caixão durante 11 dias, após ter sofrido um choque séptico e supostamente ter falecido, e que durante os 11 dias há testemunhos de ruídos provenientes do seu lugar de descanso, razão pela qual o caixão foi aberto para confirmação.
O meu cepticismo desvaneceu quando me lembrei de que já perdi há muito a fé na humanidade e que os jornalistas estão incluídos nesse nome colectivo. Mas não deixo de me surpreender com a falta de humanidade e rigor dos meios de comunicação com a pressa de noticiar o mais rápido possível. À hora a que escrevo, o artigo está há seis horas no site do Jornal de Notícias e há cerca de duas no do Diário de Notícias. No entanto, o erro permaneceu este tempo todo. Não vou criticar o acordo ortográfico senão para dizer que em Portugal céptico passou a ser cético e que no Brasil mantêm-se ambas as grafias. Aqui simplificámos e e ao mesmo tempo complicámos a ortografia, a julgar pelos erros que me farto de encontrar nas notícias. Erros como este.
No artigo o que se queria dizer é que Rosângela sofreu de choque séptico. Não céptico e não cético. Antes do acordo, nem sempre o P era silencioso, da mesma forma que o C em facto não é silencioso em todas as vocalizações. Se calhar o P de céptico caiu para realmente não se confundir com o homófono séptico. Olhem no que deu. Havia aqui tantas piadas que poderiam ser feitas e até podia reconhecer que errar é humano, mas não o vou fazer por respeito a Rosângela dos Santos. Já basta a gralha em si.
Corri o parágrafo em questão no Flip, um corrector ortográfico e sintáctico gratuito na internet, e o erro foi detectado apenas quando não escolhi a opção do acordo ortográfico e meramente porque céptico sem P antes do acordo é considerado erro. Para uma pessoa com bons conhecimentos de língua portuguesa, talvez isso bastasse para despertar a atenção e reparar que algo não fazia sentido naquela frase. De qualquer forma, os humanos têm de estar atentos quando escrevem, porque as nuances do discurso são demasiado complexas para serem detectadas pelas máquinas e neste caso estamos a falar de um erro que não é nada subtil.
Vanessa
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