Provavelmente só não soube que ontem era o Dia da Mulher quem desse dia mais precisa. Sei disso porque todas as efemérides são dias de celebração mas também de consciencialização. Há dados estatísticos citados a torto e a direito centrados nos problemas mais do que há, parece-me, exemplos de sucesso, porque no fundo as efemérides existem talvez para que um dia não tenham de existir. De cada vez que há vejo homens queixarem-se da suposta inexistência de um dia dedicado a eles, na ignorância de desconhecerem o dia 19 de Novembro, uma mulher lembra-se que é de facto importante que se saliente o Dia da Mulher. Este ano o McDonald's decidiu virar ao contrário o logótipo nos Estados Unidos. Todos os dias do ano é um M, de man (homem em inglês), mas ontem decidiu torná-lo um W, de woman (mulher em inglês), o que só ressaltou que todos os dias são dias do homem, portanto, e a mulher tem um dia que todos os anos é posto em causa.
Pouco me importa que "Só 15% das ruas com nomes próprios são de mulheres", como noticiou o Público. Eu nunca conheço os nomes da maioria das ruas por onde ando. Mais interessada estou nas mulheres importantes que ficaram esquecidas nos meandros da história, nos assentos públicos onde há uma maioria de homens, etc. Não me interessam as estatísticas sobre a diferença salarial entre homens e mulheres. Muitos dos dados não se debruçam sobre a diferença de ordenado nas mesmas posições, mas sim em todas as profissões. Estou mais interessada na razão pela qual há profissões com mais homens do que mulheres, o que é uma das principais razões para a tal diferença salarial, nomeadamente em cargos de chefia, na ciência e tecnologia, etc.
Mas acima de tudo interessa-me a igualdade e o equilíbrio, o que é sempre um progresso lento. Quando nesta sociedade primariamente machista ouço falar mal do feminismo por isto ou por aquilo, apercebo-me da cegueira e da noção enviesada de que o machismo é mais legítimo porque as coisas sempre foram assim e do medo de que a corda passe a ser mais puxada para o lado feminino, quando na verdade o feminismo se trata de igualdade. No entanto, chegou-nos ao conhecimento em Março de 2017 a declaração de um deputado no Parlamento Europeu que disse que "as mulheres são mais fracas, mais pequenas e menos inteligentes" do que os homens e que "devem ganhar menos". E em Outubro de 2017 um acórdão do Tribunal da Relação do Porto legitimava a violência doméstica por parte de um marido porque "o adultério da mulher é um atentado à honra do homem." E uma em cada três mulheres no mundo é vítima de agressões físicas, psicológicas e sexuais por ser mulher, 70% das vítimas de tráfico humano são mulheres, 28 meninas por minuto e a cada ano são obrigadas a casar na adolescência. Mas o quê, um Dia da Mulher? Então e os homens?
As feministas não são mulheres que odeiam homens. As feministas são mulheres que odeiam ser vítimas do ódio dos homens e de ódio no geral. As feministas não querem mais direitos, mas sim direitos iguais em vez de uma relação de subordinação entre mulheres e homens como tão implícito está ainda na sociedade. As feministas não querem que os homens ajudem em casa, mas sim que percebam que direitos e deveres são iguais em casa e em todo o lado e que vejam as tarefas como a sua quota-parte. Queremos igual, não mais nem melhor.
Vanessa
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