quarta-feira, 29 de novembro de 2017

50 sombras de inveja

Acabo de ler uma página do livro Fifty Shades Darker, cortesia de umas pessoas que não hesitaram em divulgar online uma tórrida cena em que o casal da saga erótica As Cinquenta Sombras pára de cozinhar para atender a certas necessidades físicas prementes e o protagonista desliga o fogão e diz à moça protagonista para colocar o frango no frigorífico. Por entre as piadas sobre a bizarra preocupação com a higiene e segurança alimentar ou sobre a ausência de uma linha de diálogo que indicasse que os protagonistas lavaram também as mãos antes de partir para acções que não as culinárias, apercebi-me de que invejo a autora dos livros, E. L. James.

Não só as suas estórias foram inspiradas noutra famosa saga, como a fama das suas estórias chega a ultrapassar a do trabalho que as inspirou, e além disso poder-se-ia dizer ainda que se tornaram famosas as suas fantasias íntimas, e fantasias deve ser coisa que com certeza dará menos trabalho a escrever do que uma tese. Nunca li nenhum dos livros nem vi os filmes, mas até já fiz pouco da senhora pelo que sei do enredo. Ainda assim, tenho-lhe inveja, primeiro pelo seu ofício e segundo pelo seu sucesso. Diga-se o que se dizer, E. L. James é bem-sucedida porque há muitas pessoas que lêem os seus livros e isso é invejável para quem, como eu, nunca se pôs a concretizar o seu ideal profissional com afinco por falta de tempo, insegurança, etc.

Claro que, convenhamos, a inveja diz apenas respeito a isso, ao sucesso num ofício como o da escrita. Pela minha parte, vou continuar a considerar os livros como exemplos de misoginia, um reflexo triste da sociedade actual, e a acreditar em quem diz que a escrita de E. L. James é equivalente à de uma criança de 10 anos. São coisas que me fazem sentir mais aliviada por momentos. Um pouco como atender à higiene e segurança alimentar dos alimentos para depois fritá-los e enchê-los de sal. Alívio momentâneo, sensações muito piores a seguir.

Vanessa

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