Acabo de ler uma página do livro Fifty Shades Darker, cortesia de umas pessoas que não hesitaram em divulgar online uma tórrida cena em que o casal da saga erótica As Cinquenta Sombras pára de cozinhar para atender a certas necessidades físicas prementes e o protagonista desliga o fogão e diz à moça protagonista para colocar o frango no frigorífico. Por entre as piadas sobre a bizarra preocupação com a higiene e segurança alimentar ou sobre a ausência de uma linha de diálogo que indicasse que os protagonistas lavaram também as mãos antes de partir para acções que não as culinárias, apercebi-me de que invejo a autora dos livros, E. L. James.
Não só as suas estórias foram inspiradas noutra famosa saga, como a fama das suas estórias chega a ultrapassar a do trabalho que as inspirou, e além disso poder-se-ia dizer ainda que se tornaram famosas as suas fantasias íntimas, e fantasias deve ser coisa que com certeza dará menos trabalho a escrever do que uma tese. Nunca li nenhum dos livros nem vi os filmes, mas até já fiz pouco da senhora pelo que sei do enredo. Ainda assim, tenho-lhe inveja, primeiro pelo seu ofício e segundo pelo seu sucesso. Diga-se o que se dizer, E. L. James é bem-sucedida porque há muitas pessoas que lêem os seus livros e isso é invejável para quem, como eu, nunca se pôs a concretizar o seu ideal profissional com afinco por falta de tempo, insegurança, etc.
Claro que, convenhamos, a inveja diz apenas respeito a isso, ao sucesso num ofício como o da escrita. Pela minha parte, vou continuar a considerar os livros como exemplos de misoginia, um reflexo triste da sociedade actual, e a acreditar em quem diz que a escrita de E. L. James é equivalente à de uma criança de 10 anos. São coisas que me fazem sentir mais aliviada por momentos. Um pouco como atender à higiene e segurança alimentar dos alimentos para depois fritá-los e enchê-los de sal. Alívio momentâneo, sensações muito piores a seguir.
Vanessa
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