Li 47 livros desde Janeiro de 2016 (estou atenta a isso porque escrevo aqui opiniões sobre cada um), mas as leituras estancaram muito em 2017. Podia ter lido um livro por semana, o que daria 52 livros em um ano, e por esta altura já tinha ultrapassado uma centena de livros lidos desde 2016. Mas por dar ênfase à qualidade, há meses, não sei quantos porque não quero ficar deprimida, estou a ler a Duna, de Frank Herbert (Dune no original). Este livro inspirou muitos enredos de ficção científica e é por muitos considerado uma obra-prima. Ao ler opiniões sobre o livro num clube de leitura online, deparei-me com leitores que consideram ter aprendido com Duna mais do que aprenderam com a bíblia. Aprendi que Frank Herbert popularizou o termo "ecologia". E entretanto soube que Denis Villeneuve, um dos meus realizadores preferidos de há uns tempos para cá, estava a preparar-se para realizar o filme baseado na estória. Portanto, decidi que devia ler o livro.
Estou nisto há meses. A leitura intrigou-me de início. O livro foi comigo para o Alentejo, e por coincidência ficou com uns grãos de areia presos à parte interior da lombada. Traços de duna portuguesa num livro sobre outros planetas. Logo nos primeiros capítulos comprei a sequela porque sabia que ia valer a pena. Mas a leitura arrastou-se do final do Verão até ao Inverno. O interesse fluía, ia e vinha. Outras coisas da vida intrometeram-se. E eis que depois do Natal o interesse retomou quando cheguei à segunda parte do livro. Comecei a ver nas entrelinhas muito mais do que esperava. Jogos políticos, religião, ecologia. Este livro está cheio. Tudo isto está mascarado numa escrita simples, em detalhes incompletos. Há muito deixado à imaginação.
A estória decorre no futuro, uma existência inter-planetária, um mundo sem computadores. Foi uma escolha inteligente. O livro torna-se num ensaio humanístico, sem a tecnologia avançada que imaginamos para os nossos sucessores. Os diálogos deixam-me sempre em sentido. Há costumes perturbadores. Um planeta escasso de água. A água como um bem precioso. Tradições. Fatos que reciclam a água do corpo humano. O povo cigano do planeta Arrakis com os seus costumes de preservação. Lágrimas são ao mesmo tempo desperdício e prova de humanidade porque a água é tão escassa. O corpo de um membro da tribo pertence-lhe, mas a sua água pertence à tribo. A leitura tornou-se e manteve-se fascinante. Talvez por algo em mim ter mudado. Talvez porque algo em mim despertou, como li nas opiniões de outros que se debruçaram sobre o mesmo livro.
Talvez precisasse de meses para me adaptar à leitura. Talvez tenha a leitura adaptado-se a mim. A verdade é que o livro está a terminar e eu estou triste por isso. Nunca antes 800 páginas me pareceram tão pouco.
Vanessa
Vanessa
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