segunda-feira, 27 de novembro de 2017

O preço do pão pode aumentar 20%

Senti hoje que acordei na twilight zone. Primeiro porque não só surgiram inúmeras notícias sobre o aumento do pão, como a maior parte dos jornais cita que foi o Correio da Manhã que avançou a notícia, e como os profissionais da panificação alegadamente dão como razão um aumento dos custos na indústria, custos esses que não chegam aos 5% (assim por alto, juntando argumentos como o aumento do salário mínimo, dos combustíveis, do gás e da electricidade), mas que vai justificar um aumento de supostamente 20% com uma carcaça a poder custar em Lisboa 24 cêntimos. Eu chamo a isto o milagre da multiplicação do preço do pão.

Maria Antonieta, rainha francesa que certo dia em 1789, face às más colheitas que tiveram como consequência o aumento do preço do pão, recomendou ao povo: "se não têm pão, que comam brioches" estaria orgulhosa de Portugal. Afinal de contas, o pão já hoje em dia chega a ser mais caro que certos bolos, especialmente se for daquele com farinhas integrais e com as sementes da moda, por isso mais vale de facto comer bolos.

Quem se vai ver aflita com isto do aumento do preço do pão é a indústria da manteiga. Sem pão na mesa, barrar uma fatia de pão com manteiga vai ser exclusivo da classe alta. Ou das telenovelas, onde há sempre aquelas mesas fartas onde as personagens conseguem encaixar diálogos durante o acto de barrar manteiga e as pessoas têm tempo para tomar o pequeno-almoço em família, e usam dois pratos e três copos porque há café e sumo e água e um monte de talheres, e depois não têm de passar uma hora a lavar a loiça.

Ironicamente, a política do pão e circo do Império Romano usada para alienar as massas dos problemas políticos é hoje precisamente o que consciencializa o povo acerca de toda a conjuntura. A opinião pública está mais informada e com certeza ciente das repercussões de um aumento na escala dos 20% de um elemento tão importante na mesa portuguesa. A par do pão, também os ovos vão encarecer, e sabe-se lá mais o quê.

Mas se por um acaso também a farinha aumentar de preço num futuro próximo, solicito que a indústria panificadora siga o exemplo da Finlândia e passe a usar farinha de grilo na confecção do pão. Não só fica mais barato, como tem proteína, o que pode colmatar a falta dos ovos e de todos os outros produtos que serão mais caros no futuro, e além disso é isento de glúten, o aparente inimigo público número um a seguir aos aumentos de preço. É que só circo não puxa carroça, e comer bolos dá cabo da produtividade. 

Vanessa

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