segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Caso não tenham reparado

Chegou aquela altura do ano. Aquela altura em que uma pessoa já se esqueceu do que é o frio, quanto mais o que é a chuva. Aquela altura em que a roupa não seca nem por nada e quem não tem uma máquina de secar fica entalado. Aquela altura em que a roupa fica desconfortável e chega a ficar com um cheiro esquisito. Aquela altura em que as persianas dão muito jeito e quem tem vidros duplos pode sorrir de alívio. Aquela altura em que o consumo de gás dispara. Aquela altura em que mais vale ficar em casa, porque a alternativa é o centro comercial e entretanto está a chegar o natal, por isso não. A minha altura preferida do ano.

Eu posso explicar. A meio do inverno já estou farta do frio e da chuva, é verdade, mas o início é a minha fase preferida, quando o frio ainda não é insuportável e ir à rua não é ainda um martírio. É aquela altura em que posso virar eremita sem ter quem me diga que devia sair mais e aproveitar o sol. Porque não há sol. Por isso é socialmente aceitável ficar em casa, agarrar numa manta e num livro, e ficar sossegada.

Ouvir a chuva. O vento. As tempestades. Mil canecas de chá e infusões. Outras quantas de café. Bolos e biscoitos. Livros e filmes e séries. Que sorte a minha, poder trabalhar em casa. Uma manta ao colo, o pijama polar. Ouvir a chuva e o vento por cima de todo o barulho que dantes havia. Ao longe, o riso dos miúdos a ir para a escola e os passos nas poças. Os carros a passar e a levantar água. Cá dentro, o aconchego.

Vanessa

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