A 6 de Agosto de 1991 foi para o ar a primeira página web. Foi aí que começou a revolução digital. Em 25 anos a forma como acedemos e partilhamos informação mudou e passámos todos a fazer parte de uma rede onde não só desfrutamos de conteúdos, como também somos e criamos conteúdos. Nas aulas de jornalismo discutimos essa célebre transição de átomos para bits desenvolvida por Nicholas Negroponte.
Há uns 15 anos, se não me lembrasse deste nome, teria de ter vasculhado as minhas notas ou uma enciclopédia. Hoje, bastaram-me dois ou três termos de pesquisa numa enciclopédia virtual e em segundos cheguei onde queria. É essa rapidez que nos tem beneficiado nestes 25 anos que passaram. Tudo óptimo, não?
Mais ou menos. A internet criou dois problemas: abundância e falta de qualidade. É por isso que sim, dicionários e enciclopédias ainda podem ter algum uso. São pesados? São. Ocupam espaço? Sim. Não são tão práticos como a internet? Pois que não são. São caros? Se são. Então que razões existem para continuar a usá-los?
Antes de poder desfrutar dos primórdios da internet, tive de passar horas em bibliotecas. Cheguei a entregar trabalhos de escola escritos à mão ou numa máquina de escrever. Carreguei volumes de um lado para o outro. Enchi blocos de notas com informação. Perdi informação porque um papel ficou no meio de algum livro ou porque entornei uma bebida em cima dos papéis. Fiquei com um calo num dos dedos de tanto escrever.
Tenho saudades desses tempos, por estranho que pareça. Porquê? Pela mesma razão pela qual devíamos continuar a usar enciclopédias e dicionários de vez em quando ou pelo menos aprender a manuseá-los.
1. Eles ainda existem. Apesar de algumas editoras terem descontinuado a publicação de enciclopédias, as anteriores habitam o nosso mundo e os dicionários também. Temos de usá-los para que não ganhem pó. Temos de preservá-los porque se há um apocalipse informático, ficamos sem outra opção. Vá, é um argumento pouco racional, mas tenho um carinho especial por livros, por átomos. No fundo, enciclopédias e dicionários são artefactos que concentram a história da humanidade tanto na forma como no conteúdo.
2. Excesso de informação na internet às vezes é um problema. Se não soubermos de sites fidedignos, temos de passar muito tempo a filtrar. Por exemplo, os meus dicionários de sinónimos são extremamente úteis por isso mesmo. E há palavras arcaicas que são mais fáceis de encontrar nas páginas dos dicionários que ainda tenho. Por outro lado, já encontrei em enciclopédias físicas informações que não encontrei na internet, com fontes citadas e tudo. Já procurei informação na internet e apeteceu-me arrancar os cabelos com tanto que havia para filtrar.
3. A origem da informação na internet também deixa muito a desejar. Quem é que nunca encontrou por aí citações mal atribuídas, factos contraditórios, detalhes mal explicados? É por vezes difícil perceber a identidade do autor. Será que é um especialista ou um troll? Há tantos estudos que há uns que dizem uma coisa e outros que provam exactamente o contrário. As enciclopédias e os dicionários são mais seguros nesse aspecto e podem existir ocasiões, que compensem o esforço de lamber papel, em que valha a pena confiar neles.
4. Contaminação e desinformação andam de mãos dadas com aquela coisa chamada privacidade, que tantas vezes nos leva a pensar que anda por aí alguém ou alguma coisa a monitorizar a internet. Da mesma forma que quando pesquisamos um detalhe, uma marca ou uma pessoa vemos anúncios publicitários que vão ao encontro da nossa pesquisa, há pela internet muita falta de objectividade e informação que ao ser partilhada, serve os interesses da pessoa ou entidade que criou ou originou a informação.
E da mesma forma que as enciclopédias e os dicionários sofrem do inconveniente de não poderem ser actualizados da mesma maneira que pode ser actualizada a informação online, esses artefactos de um passado não tão distante acabam por isso por ser mais seguros, pois nenhuma entidade anónima anda por aí a editar a informação que contêm. Sim, soa a teorias da conspiração, mas há algumas que fazem sentido.
5. Informação em papel cria mais empatia. Correndo o risco de fazer aquilo que cito no ponto anterior e usar certos estudos a favor do meu argumento, a informação num livro mostra benefícios em detrimento da informação digital em termos de concentração e memorização, por exemplo. Vou aqui extrapolar e dizer que provavelmente a experiência de usar uma enciclopédia ou um dicionário poderá ser benéfico nesse sentido.
6. A experiência ajuda muito. Muitas ideias surgiram em trabalhos de grupo quando nos reuníamos na biblioteca, com os livros espalhados pela mesa. Embora seja uma opinião pessoal, vou usá-la como argumento: duvido que miúdos a teclar nos seus aparelhos tenham a mesma experiência que eu tive nos meus tempos de escola, quando comparávamos informação em enciclopédias. Somos seres sociais e temos melhores ideias em ambientes de empatia do que a olhar para ecrãs. Não vou procurar nenhum estudo para confirmar isto.
7. Mais concentração. Quando usamos um aparelho ligado à internet é difícil não estarmos ligados a várias coisas ao mesmo tempo. Da mesma forma, não estamos tão concentrados numa só tarefa e por isso não damos 100% da nossa mente a um só objectivo. Nesse sentido, nada foca mais a mente do que observar informação em átomos, numa folha de papel, quando não há influências digitais para nos perturbar e sons de notificações a chatear. Sim, temos a opção de desactivar o que nos distrai e há aplicações que nos ajudam a focar, mas se olharmos para os pontos anteriores percebemos que se calhar voltar a tempos idos não é tão má ideia.
Em conclusão, eu sou uma pessoa privilegiada porque aprendi a procurar informação em enciclopédias e dicionários, mas desfruto hoje de uma forma mais instantânea e abundante para o fazer e não preciso de escolher uma forma ou outra. Posso usar as duas. Uma das lições mais importantes que aprendi com as aulas de história, disciplina que sempre adorei e me levou a manusear muitos livros, é que à medida que o ser humano vai inovando, vamos podendo desfrutar da acumulação de todas as aprendizagens. Agora temos muito e podemos usar muito. Temos por isso obrigação de produzir muito e melhor.
Vanessa
Há uns 15 anos, se não me lembrasse deste nome, teria de ter vasculhado as minhas notas ou uma enciclopédia. Hoje, bastaram-me dois ou três termos de pesquisa numa enciclopédia virtual e em segundos cheguei onde queria. É essa rapidez que nos tem beneficiado nestes 25 anos que passaram. Tudo óptimo, não?
Mais ou menos. A internet criou dois problemas: abundância e falta de qualidade. É por isso que sim, dicionários e enciclopédias ainda podem ter algum uso. São pesados? São. Ocupam espaço? Sim. Não são tão práticos como a internet? Pois que não são. São caros? Se são. Então que razões existem para continuar a usá-los?
Antes de poder desfrutar dos primórdios da internet, tive de passar horas em bibliotecas. Cheguei a entregar trabalhos de escola escritos à mão ou numa máquina de escrever. Carreguei volumes de um lado para o outro. Enchi blocos de notas com informação. Perdi informação porque um papel ficou no meio de algum livro ou porque entornei uma bebida em cima dos papéis. Fiquei com um calo num dos dedos de tanto escrever.
Tenho saudades desses tempos, por estranho que pareça. Porquê? Pela mesma razão pela qual devíamos continuar a usar enciclopédias e dicionários de vez em quando ou pelo menos aprender a manuseá-los.
1. Eles ainda existem. Apesar de algumas editoras terem descontinuado a publicação de enciclopédias, as anteriores habitam o nosso mundo e os dicionários também. Temos de usá-los para que não ganhem pó. Temos de preservá-los porque se há um apocalipse informático, ficamos sem outra opção. Vá, é um argumento pouco racional, mas tenho um carinho especial por livros, por átomos. No fundo, enciclopédias e dicionários são artefactos que concentram a história da humanidade tanto na forma como no conteúdo.
2. Excesso de informação na internet às vezes é um problema. Se não soubermos de sites fidedignos, temos de passar muito tempo a filtrar. Por exemplo, os meus dicionários de sinónimos são extremamente úteis por isso mesmo. E há palavras arcaicas que são mais fáceis de encontrar nas páginas dos dicionários que ainda tenho. Por outro lado, já encontrei em enciclopédias físicas informações que não encontrei na internet, com fontes citadas e tudo. Já procurei informação na internet e apeteceu-me arrancar os cabelos com tanto que havia para filtrar.
3. A origem da informação na internet também deixa muito a desejar. Quem é que nunca encontrou por aí citações mal atribuídas, factos contraditórios, detalhes mal explicados? É por vezes difícil perceber a identidade do autor. Será que é um especialista ou um troll? Há tantos estudos que há uns que dizem uma coisa e outros que provam exactamente o contrário. As enciclopédias e os dicionários são mais seguros nesse aspecto e podem existir ocasiões, que compensem o esforço de lamber papel, em que valha a pena confiar neles.
4. Contaminação e desinformação andam de mãos dadas com aquela coisa chamada privacidade, que tantas vezes nos leva a pensar que anda por aí alguém ou alguma coisa a monitorizar a internet. Da mesma forma que quando pesquisamos um detalhe, uma marca ou uma pessoa vemos anúncios publicitários que vão ao encontro da nossa pesquisa, há pela internet muita falta de objectividade e informação que ao ser partilhada, serve os interesses da pessoa ou entidade que criou ou originou a informação.
E da mesma forma que as enciclopédias e os dicionários sofrem do inconveniente de não poderem ser actualizados da mesma maneira que pode ser actualizada a informação online, esses artefactos de um passado não tão distante acabam por isso por ser mais seguros, pois nenhuma entidade anónima anda por aí a editar a informação que contêm. Sim, soa a teorias da conspiração, mas há algumas que fazem sentido.
5. Informação em papel cria mais empatia. Correndo o risco de fazer aquilo que cito no ponto anterior e usar certos estudos a favor do meu argumento, a informação num livro mostra benefícios em detrimento da informação digital em termos de concentração e memorização, por exemplo. Vou aqui extrapolar e dizer que provavelmente a experiência de usar uma enciclopédia ou um dicionário poderá ser benéfico nesse sentido.
6. A experiência ajuda muito. Muitas ideias surgiram em trabalhos de grupo quando nos reuníamos na biblioteca, com os livros espalhados pela mesa. Embora seja uma opinião pessoal, vou usá-la como argumento: duvido que miúdos a teclar nos seus aparelhos tenham a mesma experiência que eu tive nos meus tempos de escola, quando comparávamos informação em enciclopédias. Somos seres sociais e temos melhores ideias em ambientes de empatia do que a olhar para ecrãs. Não vou procurar nenhum estudo para confirmar isto.
7. Mais concentração. Quando usamos um aparelho ligado à internet é difícil não estarmos ligados a várias coisas ao mesmo tempo. Da mesma forma, não estamos tão concentrados numa só tarefa e por isso não damos 100% da nossa mente a um só objectivo. Nesse sentido, nada foca mais a mente do que observar informação em átomos, numa folha de papel, quando não há influências digitais para nos perturbar e sons de notificações a chatear. Sim, temos a opção de desactivar o que nos distrai e há aplicações que nos ajudam a focar, mas se olharmos para os pontos anteriores percebemos que se calhar voltar a tempos idos não é tão má ideia.
Em conclusão, eu sou uma pessoa privilegiada porque aprendi a procurar informação em enciclopédias e dicionários, mas desfruto hoje de uma forma mais instantânea e abundante para o fazer e não preciso de escolher uma forma ou outra. Posso usar as duas. Uma das lições mais importantes que aprendi com as aulas de história, disciplina que sempre adorei e me levou a manusear muitos livros, é que à medida que o ser humano vai inovando, vamos podendo desfrutar da acumulação de todas as aprendizagens. Agora temos muito e podemos usar muito. Temos por isso obrigação de produzir muito e melhor.
Vanessa
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