Aprendi que na Índia já foi muito comum pensar-se e que há lugares onde ainda se pensa que a alma de uma pessoa pode escapar num bocejo ou num espirro ou que um demónio pode facilmente entrar no corpo se uma pessoa bocejar ou espirrar. Aqui colocar a mão à frente da boca chega a ser, antes de ser um acto de educação e higiene, uma forma de prevenir que a alma escape ou um demónio entre. Então aqui, quando alguém boceja chama-se deus com a expressão "Marayan" e abençoa-se quem espirra de acordo com o credo de cada um (até já ouvi "Hare Krishna" como forma de "santinho"), não vá o diabo tecê-las.
Na Europa, foi na Idade Média que se começou a abençoar quem espirrasse com um bless you, porque por alturas da peste negra, o espirro era um muito mau indício do estado de saúde do espirrante e mais valia prevenir o inferno de se cruzar com o provável enfermo com uma extrema unção assim para o informal e executada por qualquer pessoa assim ao desbarato. Como é que a epidemia, a da benção pós-espirro, se propagou até aos dias de hoje eu não faço ideia. Alguém por aí sabe?
Parece que também na Europa, na Idade Média, se pensava que os bocejos eram para ser contidos com uma mão à frente da boca, não porque nessa altura proliferava o mau hálito causado pela higiene duvidosa da época do "água vai" ou porque os dentistas não passavam de arranca-dentes, mas porque uma cavidade assim aberta era meio caminho andado para o diabo fazer das suas e pôr-se a possuir as pessoas.
Ouvi foi dizer que em Portugal o "santinho" em vez da tal bênção tem também uma explicação supersticiosa. Disse-me um senhor, no Porto, há uns anos, que se espirra quando o diabo nos quer sair do corpo e que, por isso, "santinho" era dito à pessoa que espirrasse, para que permanecesse livre de demónios.
Lembrei-me de todas estas coisas porque espirrei três vezes seguidas daquela forma contida de quando estamos em salas de espera ou na igreja. Sabem? Quando o espirro vai para dentro? Logo depois bocejei e estava com as mãos ocupadas, por isso não tapei a boca. Sim, usei o Google para tentar confirmar estes pseudo-factos, mas fiquei na mesma. Que mundo este. Já não sei no que hei-de acreditar.
Vanessa
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