Esforço-me por ser ambiciosa naquilo que escolho consumir nos tempos livros, mas às vezes é difícil não sentir a frustração que me traz a consciência da minha própria ignorância face à criação alheia. Tive uma professora que dizia que os gostos educam-se, mas os meus são por vezes rebeldes ou apenas difíceis de contentar.
Muitas vezes olho para obras de arte e não as consigo ver. Muitas vezes oiço música clássica que não consigo escutar. Muitas vezes leio livros e vejo filmes que não consigo compreender. Tudo isso causa-me frustração, ainda que não a suficiente para me fazer desistir, mas frustração suficiente para odiar a minha ignorância.
E tento alimentar a ignorância com variedade, ora observando obras fotográficas, porque as sombras são fáceis de analisar, ora quadros dos quais nem por sombras conseguiria extrair significado; ora ouvindo hits de música pop, ora canções indie ou sinfonias clássicas; ora lendo obras de autores de ficção fácil de digerir, ora outros que me fazem crer que deveria antes ver um documentário ou ler outros livros para perceber o que escrevem.
Tenho a mente aberta para a aprendizagem mas fechada para o incompreensível, e a busca de significado acaba por ficar prostrada diante da mera tentativa. Não deixam de ser tentativas legítimas ainda que saiba de princípio que sairão frustradas, porque a beleza não tem de ter o mesmo significado para os que consomem e para os que criam. A beleza não tem de ter significado sequer. Uma aurora boreal há-de ser bonita mesmo que não percebamos o fenómeno que a cria. O mesmo se passa com qualquer criação, natural ou humana.
Com o passar do tempo, descobri que há beleza também na minha ignorância. A beleza alimenta-se de cada tentativa. Aquilo de a viagem ser tão importante como o destino final. Na cultura, e é essa uma das razões da sua importância, o destino final é o receptáculo. Varia consoante os sentidos, a experiência e a consciência do destinatário. Às vezes pode ser apenas um despertar de consciência. Ou ter o efeito contrário.
Foi então que no fim-de-semana fui ao Museu da Electricidade e perante várias obras de arte incompreensíveis ou só bonitas na sua complexidade sem significado ou definição, uma rapazinho aponta para uma peça de porcelana cheia de buracos da colecção de cerâmica Branco e Azul da autoria de Bai Ming e diz à mãe: "Queijo!" Além de me provocar uma gargalhada, o miúdo lembrou-me da sensatez e da sensibilidade criativa que as crianças têm por comparação aos adultos, e a arte pode perfeitamente ser uma forma de nos esquecermos de ser adultos e olharmos como crianças para as obras. Os olhos infantis vêem mais e melhor. Em alternativa, acho que vou passar a seguir as crianças em museus e galerias, e vou ficar atenta aos seus comentários.
Vanessa
Foi então que no fim-de-semana fui ao Museu da Electricidade e perante várias obras de arte incompreensíveis ou só bonitas na sua complexidade sem significado ou definição, uma rapazinho aponta para uma peça de porcelana cheia de buracos da colecção de cerâmica Branco e Azul da autoria de Bai Ming e diz à mãe: "Queijo!" Além de me provocar uma gargalhada, o miúdo lembrou-me da sensatez e da sensibilidade criativa que as crianças têm por comparação aos adultos, e a arte pode perfeitamente ser uma forma de nos esquecermos de ser adultos e olharmos como crianças para as obras. Os olhos infantis vêem mais e melhor. Em alternativa, acho que vou passar a seguir as crianças em museus e galerias, e vou ficar atenta aos seus comentários.
Vanessa
Sem comentários:
Enviar um comentário