sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Atenção à retaguarda

As aparências iludem sempre no que toca à comida. A parte da frente das embalagens é onde o marketing acontece no seu melhor. Todas as declarações da moda estão lá. Sem glúten, sem gorduras, sem açúcares. Até em produtos que naturalmente já não tinham alguns dos elementos da moda, tipo o glúten, as empresas fazem questão de publicitar a lacuna como se o produto fosse agora produzido menos o elemento.

O arroz, o milho, o chocolate, o queijo, o iogurte e tantos outros já não tinham glúten antes do glúten se ter transformado no inimigo número um das dietas, mas agora há sempre um aviso na embalagem.

As declarações de marketing dão ideia de que os restantes ingredientes não fazem também mal. Em cereais e bolachas é comum anunciar-se à frente que são fonte de fibras e vitaminas. 

O que não contam eles é a quantidade de açúcar, gordura e Es que acompanham os benefícios.

Uma pessoa vira a embalagem e dá de caras com uma lista de ingredientes maior do que este texto. Só isso já é sinal de que é melhor voltar a colocar a embalagem na prateleira, quanto muito para poupar tempo. Ninguém o tem para ficar duas horas no supermercado a ler todas as listas de ingredientes, não é?

Se nos primeiros ingredientes aparecer açúcar e tantos dos seus derivados, do xarope de glicose à maltodextrina, ou gordura ou, na verdade, coisas muito complicadas de pronunciar, mais vale ignorar o que é dito à frente.

Nem falo de calorias por porção, que agora até já indicam à frente, mas sempre em doses individuais impossíveis (quem é que come só 30 gramas de cereais, afinal?). O problema é todos os químicos e ingredientes que estão na parte mais pequena da pirâmide alimentar que estão na parte de trás em quantidades pouco saudáveis. Tudo o que vem numa embalagem passou por muitas mãos, foi processado, sofreu mutações, foi retocado.

Essas coisas estão sempre à retaguarda. À frente está o que é bonito.

Vanessa

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