quarta-feira, 13 de julho de 2016

Fui vítima de phishing

Disse eu, quando cheguei à recepção da GNR. Má escolha de palavras. Devia ter tido que fui roubada através da internet ou burlada. Vítima não. Não fui vítima nenhuma, porque parte da culpa foi minha. Mas devia ter ido direita ao assunto. A verdade é que nem sequer tinha pensado no que dizer quando lá chegasse.

Foi tudo muito rápido. Foi essa uma das razões pelas quais caí que nem um patinho e acreditei num email falso. Foi uma questão de bom timing e também uma enorme disenteria mental da minha parte.

Vamos lá à sequência de eventos. Garanto-vos que não vale a pena recriminar a minha pessoa, porque ninguém faz isso melhor do que eu. Asseguro-vos de que se não usasse as mãozinhas para trabalhar as entalava numa porta ou se não usasse o cérebro o retirava à la Hannibal Lecter e pegava-lhe fogo.

Já em Goa vi que tinha um novo cartão matriz. Quando cheguei nem me lembrei, mas vi o aviso na página do banco. Depois recebi o tal email. Pedia os números do novo cartão matriz para o actualizar e fornecia um link que ia parar a uma página igual à do banco, igual mesmo. Não me escapo da culpa, não.

Primeiro porque achei estranho e mesmo assim não vi o remetente do email (qualquer coisa como tomaminhaburra@terra.com.br... não, o email não era este mas foi assim que me senti quando olhei para ele e reparei na asneira já pós-phishing). Foquei-me antes na mensagem da página, que informava que tinha dois dias para actualizar os dados sob pena de pagar 160 euros pelo envio de um novo cartão matriz. 

Uma pessoa entra em pânico quando há a hipótese de ter de pagar. Não me escapo da culpa, não.

Segundo porque procedi à parte de digitar os números do cartão matriz na página ao qual o link ia parar, mesmo pensando que aquilo era estranho e uma bela perda de tempo. Não perdi um segundo a verificar de onde vinha o email porque a página parecia fidedigna e o timing foi brutal. Não me escapo da culpa, não.

Terceiro porque já na semana seguinte ao email vi que a página (a oficial, diga-se) do banco continuava com o aviso de que tinha de activar o novo cartão matriz e aí activei-o como deve ser. Bastava um ou dois cliques. Só me ocorreu que fiz isto já depois das diligências pós-phishing tomadas, esta parte.

No dia D... ou melhor, dia P, acedi à página do banco porque ia oferecer aos meus pais um presente para o aniversário de casamento. De boas intenções está o inferno cheio e o resto do dia foi mesmo um inferno.

A conta tinha 8 euros. Dois depósitos a prazo, vi nos detalhes, tinham sido transferidos para a conta à ordem. 600 euros e 150 euros, duas daquelas contas para pobres que agendam montantes que vão automaticamente para esses depósitos, e ainda 50 euros para fazer um número redondinho, evaporaram-se às 12:13 com um pagamento de serviços. 400 euros + 400 euros foram parar a um vácuo digital.

Uma palavra de apreço à senhora da linha 24 horas do banco que me ouviu desabafar sobre a minha burrice e me guiou num momento de muita, muita tensão e à senhora do balcão que foi compreensiva.

Já com tempo, todo o tempo do mundo e quase sem dinheiro na conta à ordem, fui ver o maldito email e li-o com calma (a possível, claro). Com excepção do remetente duvidoso, tinha alguns erros ortográficos. O cabeçalho e o rodapé são os do banco e até os números da linha de apoio ao cliente são os reais.

Mas, ironia das ironias, lia-se no email: "A activação de Cartão de Matriz é indispensável para evitar fraudes e garantir sua segurança e comodidade". Eu garanti de facto a comodidade de alguém. Não a minha.

E agora? O banco tem uma cópia do email. Mudei a palavra-passe de acesso. O cartão matriz foi anulado. Mais tarde o banco informou-me que era preferível eliminar completamente a conta online.

Fiz uma queixa contra terceiros na polícia com as informações das transacções feitas. O banco tem uma cópia da queixa. Nos movimentos surgem os detalhes da entidade responsável pelo roubo.

Reaver o que se perdeu é uma miragem. Perdi tempo. Perdi motivação. Perdi dinheiro. Os meus pais ficaram sem presente. Tudo isto porque o mundo é dos espertos e não dos honestos. No fim, são os espertos que ganham. Agora, toca a trabalhar. Cuidado com os emails e essas coisas.

Vanessa

2 comentários:

Anónimo disse...

Eu perdi 7500€ em Janeiro pelo mesmo método..

Vanessa Sousa disse...

As minhas condolências. Espero que ao menos não tenham sido os mesmos. Os meus 8000 com esses 7500 já é demais.