segunda-feira, 18 de julho de 2016

Avaliação Literária | Quantas Madrugadas Tem a Noite de Ondjaki

"Ouve, uí: a noite são as estrelas do céu que caem.
Não caem mesmo; é só de imaginação minha, mundo meu que te partilho ... não tou a falar à toa, são as magias da noite, ou nunca reparaste que os olhos brilham mais bonitos é na escuridão?"

"O amor num é doce tipo melaço que escorrega quente no agarrar dos dedos?"

"A tarde se comia a ela própria na boca do tempo..."

De Ondjaki tinha apenas lido um conto, já há algum tempo e quando fui à feira do livro trouxe este, Quantas Madrugadas Tem a Noite, porque gostei do título e apetecia-me uma leitura exótica.

Foi um palpite literário como os que tinha antes. Quando nos consagramos leitores assíduos, acabamos por seguir os mesmos autores ou pelo menos o mesmo tipo de livro. Dantes havia mais descoberta do que agora e escolher aleatoriamente era a minha forma de descobrir novos mundos.

Por isso, as palavras tiveram um sabor especial. Além disso, foi um tipo de leitura como nunca outro. O português africano de Quantas Madrugadas Tem a Noite requer uma voz de narrador bem específica na mente. Há que formular um certo sotaque angolano para se perceber melhor a estória e os coloquialismos.

O enredo segue a estória contada na primeira pessoa. "Faz conta foste na pesca, rede e tudo, e em vez do peixe grande meteste a rede na água e te veio uma nuvem". Esta frase logo no início resume bem a experiência. Este é um livro sobre morte, esse é o preâmbulo, mas é especialmente um livro sobre vida e sobre vivências.

Não me é muito possível explicar este livro na verdade. O narrador conta os acontecimentos após a morte de AdolfoDido (digam lá este nome em voz alta) através das acções de uma série de personagens caricatas. O próprio narrador é uma pessoa peculiar que vai bebendo umas ngalas de birra para motivar o desabafo.

Já que não posso desenrolar aqui o fio dos acontecimentos de forma que se perceba sem a mestria e o humor de Ondjaki, posso apenas aconselhar a leitura deste livro. Vale muito a pena.

7/10

Vanessa

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