Fui ao supermercado com o meu primo, comprei petiscos e na caixa, depois de termos estado a conversar, o funcionário perguntou-me se estava a falar francês. Primeiro ri-me. Cá fora, já quase em casa, lembrei-me novamente do comentário e ri ainda mais, às gargalhadas. Depois, veio a tristeza.
O português, a cultura e o idioma, são apenas espíritos que pairam sobre Goa e que apenas de vez em quando são lembrados pelos entes queridos.
Conheci hoje um senhor goês no Mr. Baker em Pangim, junto ao Clube Vasco da Gama. Já esteve em Portugal e agora está aqui. Quem sabe português, disse ele, reza em português.
Pouco oiço falar português na rua. É uma ocasião tão rara também para os outros, que de vez em quando somos abordados por quem sabe também, porque quem sabe e cá vive fica sedento de diálogos na língua de Camões, e quer saber novidades de Portugal e de onde somos e para onde vamos e porque aqui estamos.
O português aqui é uma memória, já aqui o tinha dito, e para quem sabe e gosta do português, é uma memória nostálgica, como o fado, porque de português pouco tem Goa neste momento.
O primo Joaquim fala orgulhosamente de como houve leis portuguesas que ficaram mesmo depois de vir um governo hindu. De como, em raras instâncias, o senso comum e a racionalidade ultrapassaram a religião.
Mas agora, por agora, o português é uma memória. Um fantasma que paira sobre Goa e que se faz lembrar em pequenos detalhes como apelidos, nomes de lojas, hábitos. Há por aí galos de barcelos e azulejos e gastronomia de fusão. Há pessoas como a minha família, que vão mantendo vivo o idioma aqui.
Ainda assim, há quem oiça falar português e pense que está a ouvir francês.
Vanessa