quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

"Voltei, voltei"

"Voltei de lá", de Mumbai. "Diz-se que é confuso, grande, barulhento, poluído", escrevi eu antes de ontem. Pois bem, Mumbai é poluído, barulhento, grande, confuso. Foi a impressão que tive, por esta ordem. As poucas amenidades que tem, como por exemplo centros comerciais (só fui a um), cinemas, McDonald's e KFC (não são bem, bem amenidades, mas tendo em conta o contexto, chega a ser um alívio entrar em restaurantes deste género) não compensam os defeitos da cidade. Os que vi, pelo menos.

Se me pedissem para definir Mumbai diria que é uma favela enorme com uns quantos prédios mais luxuosos e incrivelmente altos a emergir no horizonte. Existem umas zonas mais limpas, ruas alcatroadas de fresco, prédios recém pintados, jardins a florescer, um ou outro parque. Mas tudo isso dilui-se no meio da confusão. 

Há trânsito permanentemente e em vez de utilizarem luzes de sinalização, o meio preferido dos condutores para sinalizar qualquer manobra é buzinar. Por isso, Mumbai dá dores de cabeça.

Mesmo no café mais limpo e arejado se ouvem as buzinas. Bem sei que quando uma pessoa se habitua, o ruído torna-se hábito. Por exemplo, em Portugal vivo em frente a uma escola e já recalquei o ruído da campainha dos intervalos de tal forma que só quando alguém me visita e comenta sobre isso é que me lembro que todos os dias ouço uma campainha de escola, a mesma que ouvia desejosamente quando era aluna nessa escola, ao longo de quatro anos, e queria sair para o pátio e brincar e lanchar.

No entanto, as buzinas parece que são mais penetrantes. Não há mesmo forma de as ignorarmos. Além disso, há buzinas de todos os tipos. Algumas melodiosas, outras com dois ou três tonalidades, umas agudas, outras mais graves como as dos camiões, e todas elas podem ser usadas de forma insistente para sinalizar irritação.

Estivemos pouquíssimo tempo em Mumbai. Depois de uma viagem de mais de 12 horas de autocarro (daqueles com camas) chegámos, tratámos do que tínhamos a tratar (que não ficou tratado, mas não vamos por aí), demos umas voltas e voltámos. A viagem de regresso demorou mais de 14 horas. 

Atrevo-me a dizer que tudo o que podia ter corrido mal correu. Desde um táxi avariar logo à chegada a Mumbai, à burocracia travar os nossos planos, à nossa viagem de regresso ter sido cancelada à última da hora, ao taxista que nos levava para o autocarro alternativo precisar de pôr gasolina, ao autocarro de Mumbai para Goa parar em Pangim em vez de Margão (além de transportar também pequenas mercadorias e ter parado imenso ao longo do percurso), o que nos obrigou a apanhar outro autocarro por cima das 14 horas e tal de viagem. Talvez o cansaço e a irritação me estejam a toldar o juízo e Mumbai seja na verdade uma cidade maravilhosa.

Alguém que tenha ido a Mumbai que se pronuncie, se faz favor, e me diga que eu só vi as partes más e que me faltou ver X, Y e Z porque aí é que se está bem. É que se calhar vou ter de lá voltar.

Vanessa

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