segunda-feira, 10 de julho de 2017

Não dei a outra face

O meu tom de pele roça o caramelo e o camelo, mas com um toque amadeirado e uma nuance de mousse de chocolate. No que toca a escolher um cosmético para uniformizar esta estória toda, o caso complica-se, portanto. Quando a minha secretária se transforma em toucador, mais parece na verdade uma mesa de laboratório, porque tenho de e prefiro fazer as minhas próprias mistelas combinações. Tudo isto porque a bem dizer, o intuito é sempre parecer que o esforço foi mínimo e que saltei da cama para a rua com um rosto fresco.

Entretanto estou a cerca de duas semanas para ser madrinha pela segunda vez e decidi comprar um creme bê-bê, mas cheguei a uma loja Kiko e como até creme cê-cê havia (que raios é isto?) fiquei baralhada e pus-me a experimentar várias, mas fiquei confusa e a senhora perguntou-me se precisava de ajuda, e então perguntei se ela achava que o produto em questão me iria assentar bem, e ela disse que não, por isso peguei noutro.

Ela pega numa amostra, retira uma gota de creme, tudo isto em milissegundos, e antes que eu tivesse tempo de reagir, coloca-me aquilo na bochecha e toca de espalhar. Quem me conhece sabe que não gosto dessas confianças e gosto menos ainda que me toquem na cara, especialmente se não me perguntam primeiro se não me importo. Mas não me desviei nem fui mal-educada. Não só isso, como trouxe o produto, que aquilo tinha mesmo um tom caramelo e o camelo, mas com um toque amadeirado e uma nuance de mousse de chocolate, apesar de dizer na embalagem que era neutro e ter um número ao lado. No entanto, pode não ter sido nada assim e o produto pode ser uma porcaria, porque na verdade ainda nem o experimentei no rosto todo.

Continuo frustrada porque a senhora tinha uma plaquinha na mama esquerda a dizer que estava em formação e eu devia ter dito que não se toca nas pessoas sem pedir permissão, e ainda por cima oportunidades não faltaram, porque foi a mesma senhora que me aviou o pedido. Enquanto pensava nisto tudo, lembrei-me das lições de catequese, quando se dizia que temos de dar a outra face, e lembrei-me que vou ser madrinha.

Está bem que temos de dar a outra face, e neste caso devia mesmo ter dado para ver se o produto se adequa às circunstâncias da minha aparência, mas nem uma face nem a outra daria mesmo que me tivesse lembrado do cristianismo e das implicações de ter de dar um exemplo cristão a uma criança. Sou a modos que uma cristã selectiva. Mas como normalmente chego a ser agressiva quando invadem a minha zona de conforto e não fui nada agressiva com a senhora, considero a ausência de uma chapada um acto muito cristão neste caso.

Vanessa

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