É frequente que quem me conhece e me apresenta a outros diga o meu nome e logo a seguir uma profissão. Que não é a minha. Em Goa alguns pensam que sou jornalista, porque já fui e a minha mãe até já levou o meu nome impresso no cabeçalho de artigos que assinei. Por outro lado, outros pensam que sou escritora.
Cheguei à conclusão que é muito mais fácil arredondar os detalhes desta forma e deixei passar. Quando me apresentam como jornalista, não desminto; quando me apresentam como escritora, não desminto. A explicação para o facto de não ser nem uma coisa nem outra implica pisar terreno instável, dar uns pulos num fosso bem fundo, e abraçar a depressão. Logo a seguir, comiseração, consternação, condescendência.
Desde que me lembro que a minha identidade está ligada à escrita. Desde bem pequena que sempre quis escrever. Mas há muito que não me sento a escrever coisas minhas excepto neste blogue, criado para apaziguar certa amargura, abastecer o desejo recalcado, desabafar quanto baste, e de modo geral não ceder à frustração.
Os meus dias são passados a escrever ideias de outros para outros, a produzir conteúdo que não posso assinar, a aperfeiçoar o que não é meu de todo, e vivo muito bem com isso. Eu queria ser escritora porque queria não deixar de aprender e, está claro, não podia andar na escola para sempre. Por isso segui o jornalismo, depois exerci-o, depois exorcizei-o, depois fiz coisas que não têm que ver com jornalismo, para agora escrever coisas que não têm que ver comigo. Mas palavras são palavras e viver das palavras é um luxo.
É muito mais fácil fazer pelos outros aquilo que não posso fazer por mim. Assim não tenho nunca de lidar com a possibilidade de não saber o que escrever, de esgotar ideias, de ter de procurar sinónimos, de pensar no que os outros pensarão quando lerem o que escrevo, e de se calhar nem sequer ter talento.
Já não sei se escrever não terá sido um ideal construído ou se foi alimentado por vocação. Sei, sim, que para se escrever tem de se ler muito e nisso sou campeã. É por isso que hoje celebro o Dia do Escritor. Não por mim, mas por aqueles que me alimentam a imaginação e me fazem temer a ideia de juntar-me a eles.
Vanessa
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