Percorro o Facebook e fico contente por todas as mulheres que foram mimadas neste dia com flores, chocolates, jantares e até folga das tarefas domésticas. É importante que existam dias que celebrem apenas um género quando em todos os outros dias do ano esse género tem de lidar com circunstâncias que apenas a esse género são afectas, em especial desigualdade, padrões e obrigações específicas, cobranças e falta de oportunidade.
É raro mulheres em cargos de chefia nos filmes serem também bem-sucedidas em termos pessoais. Ora são solteironas frias e cruéis, ora são falhanços no que toca a conciliar família com carreira, ora mulheres maduras com arrependimentos e amargura que as tornam umas pestes. São raros os filmes que passam o teste Bechdel, porque na saúde e na doença, no sucesso e na depressão, claramente metade da humanidade gira em torno da outra metade. Felizmente há um dia do ano que obriga a parte beneficiada a lembrar-se da outra.
Gostava que um dia não houvesse um dia que levasse tantos meios de comunicação a publicar estudos que demonstram como as mulheres são constantemente discriminadas, como recebem menos salário mesmo por comparação a cargos de igual importância ocupados por homens, como têm muito mais responsabilidades em todo o lado, como morrem às mãos cheias, vítimas de abusos variados.
Um dia gostava que as mulheres fossem levadas a sério e que artigos noticiosos sobre mulheres poderosas não se focassem na sua indumentária. Um dia gostava de não me sentir insegura quando passo por um grupo de homens numa rua escura e de não ver o mesmo receio por parte de outras mulheres ou de ver em notícias casos em que o medo se tornou realidade. Gostava de não ser informada de realidades como violações, maus tratos, abusos, mutilação genital, nem que fulana tal "estava a pedi-las" pelas escolhas que fez.
Gostava que não me perguntassem se me quero casar, quando me vou casar, se quero ter filhos, se não está na altura de pensar nisso, ou de ter de me justificar porque a mentalidade tanto de homens como de muitas mulheres por vezes conflui na certeza de que a mulher tem um papel neste mundo e tem o dever de o cumprir porque tanto homens como mulheres às vezes esquecem que mulheres são também seres humanos.
Simplesmente, um dia gostava que não fosse preciso existir um dia da mulher, assim como dias para os pais, para as mães, para as crianças, porque num futuro próximo todos os dias são dias para celebrar tudo isso.
Vanessa
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