Aquela cena típica dos filmes, do "desliga tu primeiro", entre duas pessoas envolvidas romanticamente é como eu vejo a relação do mundo com a tecnologia. A não ser que a bateria se esgote, o momento de desligar é constantemente adiado, mesmo que seja em detrimento do mundo real. Vejo-me constantemente em situações em que a atenção daqueles com quem estou é dividida, e não em partes iguais, entre mim e outra coisa qualquer que tenha um ecrã e esteja ligado a um mundo virtual. Porque o momento de desligar nunca é o ideal.
Não tenho solução a não ser desligar e pronto, coisa que eu própria professo mas não pratico. É uma constante batalha interior entre o FOMO (Fear Of Missing Out) virtual e o real. O domingo acaba por ser o dia em que estou mais desligada, mas não me lembro de quando deixei de me desligar ao sábado para ter um fim-de-semana com maior conexão à realidade. É algo fora do meu controlo, uma vez que trabalho para mim e através da internet.
Desligar é perder oportunidades. É também perder algum tempo de lazer, uma vez que acredito que o que leio e o que vejo através do computador me enriquece e não deve ser completamente desconectado. Mas agora, por exemplo, não tenho lido tanto e todas as actividades criativas manuais estão em completo desleixo. O equilíbrio entre tudo isto requer uma disciplina que comecei a desenvolver, mas que não consegui cumprir a 100%.
Porque o momento de desligar nunca é o ideal, passam-se horas que depois são roubadas às tarefas do mundo real, mesmo aquelas das quais a sanidade depende. Às vezes não sei distinguir o ponto em que termina o dever e começa o vício. O único limite são os dias, é a esperança média de vida, são os momentos em que uma pessoa acorda para a realidade através de um livro, de um filme, de uma música, de uma conversa.
Creio que já me habituei demasiado a ter tantas coisas à minhas volta que têm a opção de ligar e desligar, mas cujo botão de desligar é bem mais difícil de pressionar do que o outro, mas por causa disso o meu FOMO é maior no que toca ao espaço real. Felizmente, vou sempre a tempo de desligar conquanto queira.
Vanessa
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