Entusiasmados com a chegada do Kit Kat Sublime Ruby já em Maio? Eu até estaria, se o chocolate cor-de-rosa não tivesse sido produzido por uma empresa que mais parece vinda do lado negro da força. Foi em 1974 que as práticas de marketing agressivo da Nestlé foram desmascaradas num relatório chamado The Baby Killer. O mundo ficou a saber que a publicidade da marca sugeria que alimentar bebés com fórmula infantil (da Nestlé, claro) deixava as crianças mais saudáveis, fortes e felizes; que a marca oferecia produtos para incentivar as mães a adquirir fórmula, como biberões e amostras de produto; que a publicidade ia além da publicidade com vendedores da marca vestidos de enfermeiros a dar conselhos nutricionais, relações duvidosas entre intermediários da Nestlé e hospitais locais, etc. Tudo isto, claro, em países em vias de desenvolvimento, em comunidades com estatísticas descomunais em termos de iliteracia e onde abundava a pobreza, e até em locais onde a água era insalubre, o que agravou o problema porque a fórmula infantil é diluída em água.
Ainda hoje em dia as práticas escandalosas da Nestlé continuam, com a marca a promover a semelhança (ou "inspiração") da sua fórmula infantil ao leite materno, apesar de a Organização Mundial da Saúde proibir que se compare um a outro em campanhas publicitárias, e a usar sacarose em fórmulas infantis na África do Sul enquanto publicitava no Brasil e em Hong Kong que a sua fórmula sem sacarose era benéfica para a saúde dos bebés. Um relatório da organização Changing Markets Foundation apontou estas e outras irregularidades e "comportamento inconsistente" por parte da Nestlé na comercialização de 70 produtos lácteos em 40 países.
Em 2010, a Greenpeace promoveu uma campanha contra o uso de óleo de palma na confecção do famoso Kit Kat da Nestlé. Em causa está a desflorestação que a produção do óleo provoca, e em particular estava na linha de fogo das práticas abusivas a Indonésia, que desde 1990 perdeu 31 milhões de hectares, ou o equivalente ao território da Alemanha, de floresta. A Nestlé aparentemente não ficou indiferente e fez promessas. Em 2017, essas promessas foram postas em causa. Diz o site da marca que nesse ano 58% da totalidade do óleo de palma usado foi adquirido de forma responsável e que 48% das origens podiam ser identificadas. Não é o suficiente, porque a própria Nestlé tinha prometido não usar óleo de palma de áreas naturais até 2013 e que ia acabar com o uso de óleo de palma associado à desflorestação até 2015, em resposta à campanha da Greenpeace em 2010, e esses compromissos não foram levados à letra. Graças à internet, a opinião pública está atenta a estas coisas.
Não acabam aqui os escandalos associados à Nestlé. Há ainda o caso da água. Em 2016 a Nestlé era líder de vendas de água engarrafada com lucros de 16 mil milhões de dólares só nos Estados Unidos, e segundo vários artigos e documentários as práticas para obter a água são abusivas, no mínimo. Estamos a falar de uma empresa cujo o ex-CEO Peter Brabeck sugeriu certa vez que a água não é um direito e deve ser privatizada, o que é precisamente uma das práticas da Nestlé. A corporação alegadamente explora locais onde as leis são lassas, onde quase não há fiscalização, onde o território é suceptível de secar, e por vezes sem licença para extracção da água. E não estou a falar de práticas duvidosas em países que nunca aparecem nas notícias, embora isso aconteça. Até nos Estados Unidos e no Canadá a Nestlé extrai água onde a água é escassa para depois vendê-la à população, enquanto sujeita os habitantes à poluição provocada pela sua produção, sendo dos casos mais conhecidos o do Paquistão, e tudo isto sobre a promessa de criação de emprego e investimento local.
E de onde vem o cacau para os chocolates da Nestlé? No site (traduzido do inglês), a empresa diz que "nenhuma empresa" que usa cacau da Costa do Marfim e do Gana "pode remover totalmente o risco de trabalho infantil da sua cadeia de produção." Neste momento está em tribunal o caso norte-americano, com a acusação de que a Nestlé não informa os consumidores das alegadas práticas de trabalho infantil ou de escravatura, e que a empresa nada faz para remover esse tipo de realidade da sua cadeia produtiva enquanto lucra com o negócio do cacau. Não são acusações novas e provavelmente não será o último caso a vir ao de cima.
É por estas e por outras razões que como consumidora tento não consumir produtos da Nestlé, que são muitos. Como tal, prefiro abster-me de provar o tal do chocolate Sublime Ruby. O chocolate pode ser rosa, mas as práticas da Nestlé são tudo menos isso. Pelo contrário. São bem negras.
Vanessa
Ainda hoje em dia as práticas escandalosas da Nestlé continuam, com a marca a promover a semelhança (ou "inspiração") da sua fórmula infantil ao leite materno, apesar de a Organização Mundial da Saúde proibir que se compare um a outro em campanhas publicitárias, e a usar sacarose em fórmulas infantis na África do Sul enquanto publicitava no Brasil e em Hong Kong que a sua fórmula sem sacarose era benéfica para a saúde dos bebés. Um relatório da organização Changing Markets Foundation apontou estas e outras irregularidades e "comportamento inconsistente" por parte da Nestlé na comercialização de 70 produtos lácteos em 40 países.
Em 2010, a Greenpeace promoveu uma campanha contra o uso de óleo de palma na confecção do famoso Kit Kat da Nestlé. Em causa está a desflorestação que a produção do óleo provoca, e em particular estava na linha de fogo das práticas abusivas a Indonésia, que desde 1990 perdeu 31 milhões de hectares, ou o equivalente ao território da Alemanha, de floresta. A Nestlé aparentemente não ficou indiferente e fez promessas. Em 2017, essas promessas foram postas em causa. Diz o site da marca que nesse ano 58% da totalidade do óleo de palma usado foi adquirido de forma responsável e que 48% das origens podiam ser identificadas. Não é o suficiente, porque a própria Nestlé tinha prometido não usar óleo de palma de áreas naturais até 2013 e que ia acabar com o uso de óleo de palma associado à desflorestação até 2015, em resposta à campanha da Greenpeace em 2010, e esses compromissos não foram levados à letra. Graças à internet, a opinião pública está atenta a estas coisas.
Não acabam aqui os escandalos associados à Nestlé. Há ainda o caso da água. Em 2016 a Nestlé era líder de vendas de água engarrafada com lucros de 16 mil milhões de dólares só nos Estados Unidos, e segundo vários artigos e documentários as práticas para obter a água são abusivas, no mínimo. Estamos a falar de uma empresa cujo o ex-CEO Peter Brabeck sugeriu certa vez que a água não é um direito e deve ser privatizada, o que é precisamente uma das práticas da Nestlé. A corporação alegadamente explora locais onde as leis são lassas, onde quase não há fiscalização, onde o território é suceptível de secar, e por vezes sem licença para extracção da água. E não estou a falar de práticas duvidosas em países que nunca aparecem nas notícias, embora isso aconteça. Até nos Estados Unidos e no Canadá a Nestlé extrai água onde a água é escassa para depois vendê-la à população, enquanto sujeita os habitantes à poluição provocada pela sua produção, sendo dos casos mais conhecidos o do Paquistão, e tudo isto sobre a promessa de criação de emprego e investimento local.
E de onde vem o cacau para os chocolates da Nestlé? No site (traduzido do inglês), a empresa diz que "nenhuma empresa" que usa cacau da Costa do Marfim e do Gana "pode remover totalmente o risco de trabalho infantil da sua cadeia de produção." Neste momento está em tribunal o caso norte-americano, com a acusação de que a Nestlé não informa os consumidores das alegadas práticas de trabalho infantil ou de escravatura, e que a empresa nada faz para remover esse tipo de realidade da sua cadeia produtiva enquanto lucra com o negócio do cacau. Não são acusações novas e provavelmente não será o último caso a vir ao de cima.
É por estas e por outras razões que como consumidora tento não consumir produtos da Nestlé, que são muitos. Como tal, prefiro abster-me de provar o tal do chocolate Sublime Ruby. O chocolate pode ser rosa, mas as práticas da Nestlé são tudo menos isso. Pelo contrário. São bem negras.
Vanessa
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