quarta-feira, 21 de junho de 2017

Um passito para a frente, dois para trás

Vanessa vai toda contente trocar uma raspadinha, no meio de quatro ou cinco*, que a contemplou com o exorbitante prémio de um euro. Sentia-se milionária, como é óbvio. "Mas, Vanessa, tu não andas sempre a dizer que és uma pessoa azarada?" Calma, amigos. Continuem a seguir a narrativa.

Para não parecer gananciosa e porque os seus instintos estão estragados, Vanessa troca aquela por outra raspadinha e após alguma ponderação ainda compra outra, paga com uma nota de cinco e recebe troco.

Contexto: há uma tabacaria no fundo do supermercado e Vanessa caminhava em direcção à saída quando...

Como sempre, Vanessa faz malabarismos com as mãos e põe as moedas ao calhas na carteira, que diga-se de passagem já não vai para nova e tem uns buracos. Não se sabe se foi de um buraco que caiu ou se foi das mãos que escorregou uma moeda de um euro, claramente na fase rebelde da adolescência, que conseguiu deslizar para debaixo do armário dos medicamentos da primeira caixa do supermercado, junto à porta de saída.

Acontece que o espaço para onde a moeda deslizou é apenas suficiente para lá caber uma moeda ou um prego pequenino ou um bocado de cotão e um pedaço de algo que já fora comestível e muito pó. Vanessa sabe disso porque, por incentivo do polícia que testemunhou o acontecimento, que até pensava que a moeda era de dois euros, pediu à moça da caixa para lhe arranjar um pedaço de cartão e toca de tentar recuperar o investimento. Antes disso, tentou o feito com um panfleto. O investimento não foi de todo recuperável com um ou outro.

Vanessa ficou triste, especialmente porque na indecisão sobre o que vestir nesse dia, tinha-se decidido por umas calças também elas rebeldes, que gostam de deslizar perna abaixo, o que não tornou a tarefa de se agachar lá muito agradável, e pensando no perigo de mostrar partes anatómicas normalmente apoiadas numa cadeira o dia todo versus a perda de um euro, considerou a hipótese de deixar a moeda quieta, que se ela tinha tanto apego pelo armário, claramente era uma moeda em plena crise de identidade e precisava de um tempo.

Pensem nisto, amigos que não acreditam quando vos digo que tenho muito azar. Fui trocar uma raspadinha que tinha um euro, mas que tinha custado um euro. Depois troquei-a por outra e ainda comprei outra. Depois perdi um euro do troco. Junte-se a isto as outras quatro ou cinco raspadinhas das quais apenas uma tinha o prémio, fora as outras todas ao longo da vida compradas na esperança de um dia a sorte me abonar.

Vou ouvir a música do Frozen o dia todo para esquecer.

* Quero apenas explicar que normalmente não sou viciada em raspadinhas. O que acontece é que sempre que saio com amigos e eles pagam alguma coisa, para depois serem casmurros e não aceitarem que eu lhes pague, eu uso o dinheiro para comprar raspadinhas, que assim eles já aceitam. Toda esta série de acontecimentos desafortunados teve portanto como causa a M. não ter aceite que lhe pagasse há duas semanas. Agora a M. está de férias, por isso tive de vir para aqui desabafar o meu desfortúnio, quando devia estar a trabalhar para recuperar aqueles euros todos que já perdi em raspadinhas. "Let it go, let it go..."

Vanessa

Sem comentários: