sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

Ao fim e ao Cabo

A julgar pelo que aprendi na escola, pensava assistir ao fim do petróleo por esta altura: eu com 30 anos, um canudo e montes de coisas concretizadas. Só que não. Nas aulas em que se falava do meio ambiente, era sempre certo ouvir qualquer coisa como os combustíveis fósseis terem os anos contados. Primeiro era daí a 20 anos que veríamos o fim. Depois passou para 30. Depois ouvi já na faculdade que as reservas davam apenas para 40 anos. Todos os anos parecia que o petróleo se reproduzia sozinho e que a data até ao fim do ouro negro se alargava. Estaríamos a poupá-lo? Teríamos descoberto mais? Será que tudo o que aprendi na escola era mentira?

O que eu nunca esperava era passar dos 30 e ainda existirem conflitos pelo petróleo, financiados pelo petróleo e, resumindo, causados pelo petróleo. Muito menos esperava passar dos 30 e assistir ao fim da água em algum sítio. Só esperava ver o petróleo acabar e o mundo a evoluir para outra coisa. Esperava que à medida que se fosse conquistando o espaço para lá do planeta se fossem conquistando soluções para todos os problemas que já existiam na altura e que parecem piorar a cada década. Qual dos problemas o pior? O petróleo, a água, a poluição, a fome, a desigualdade. Seria mais fácil perguntar: o que não piorou?

O Dia Zero está a chegar para a Cidade do Cabo na África do Sul. Será a primeira grande cidade a ficar sem água, cuja reserva poderá terminar em Abril, a não ser que aconteça um milagre daqueles bíblicos. Estamos a falar da cidade que em 2014 foi considerada pelo New York Times e pelo Daily Telegraph como a melhor no mundo para ser visitada. 2014 foi apenas há quatro anos. Estamos a falar de uma cidade com uma desigualdade tremenda entre brancos e negros, e respectivamente ricos e pobres, zonas afluentes e outras de improviso.

Estamos no fundo a falar de uma cidade que é um pequeno mundo.

Por outras palavras, o mundo é a Cidade do Cabo em ponto grande.

Por falar em mundo, actualmente mais de mil milhões de pessoas não têm acesso a água potável e 2,7 mil milhões têm-na de forma imprevisível. E eu em pequena a pensar que o problema era o petróleo. Mas no fundo é, eu sei. O uso do petróleo polui, a poluição contribui para as alterações climáticas, as alterações climáticas fizeram com que não chovesse nada de jeito na Cidade do Cabo durante três Invernos. O uso do petróleo corrompe, a corrupção gera desigualdade, a desigualdade parece gerar pobreza em 99% da população, a pobreza extrema multiplica a ignorância; a ignorância causa uso descuidado de recursos, falta de atenção para problemas mundiais porque foca as pessoas na sobrevivência, e sobrepopulação. Et Cetera.

Por tudo isto e muito mais, pela Cidade do Cabo e por outras que inequivocamente vão seguir este caminho assustador, em gesto de solidariedade e frustração eu apenas engulo em seco.

Vanessa

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