terça-feira, 9 de janeiro de 2018

Veganismo na positiva

Tenho incluído mais produtos vegetais e menos produtos animais no meu quotidiano. Tento convencer os mais próximos a incluir mais vegetais também, mas nunca lhes digo para diminuir o consumo de produtos animais, excepto quando vejo exagero ao género americano. Desde a minha gradual mudança de hábitos alimentares, a conversa à mesa é sempre a mesma e recorrente. Alguém diz que viu um documentário ou leu um artigo sobre o veganismo ou arranja outras formas de validar a minha forma de estar e agir, e a conversa gira em torno disso. É uma atitude inconsciente sobre a qual já li com frequência em comunidades que falam de veganismo, diminuição de consumo, etc. Na maior parte das vezes, o que li foi não aceitação ou repreensão. No meu caso, é ao contrário, mas não deixa de demonstrar o mesmo que as atitudes negativas: que quando mudamos os nossos hábitos, as pessoas sentem que estamos a criticar, insultar, desaprovar os seus hábitos.

Claro que existem vegetarianos extremistas que realmente criticam, insultam e desaprovam os que seguem dietas omnívoras, mas falo dos que como eu se abstêm de falar de restrições e apostam numa mensagem mais positiva. Começou de forma subtil, no meu caso. Foi por achegas em nome da saúde. Afinal de contas, a Organização Mundial da Saúde recomenda um consumo mínimo de 400 gramas de frutos, legumes e hortaliças por dia. Segundo a Direcção-Geral da Saúde, "O baixo consumo de frutos, hortaliças e legumes está entre os 10 factores de risco para o aparecimento de doenças e morte prematura" e, "Globalmente, o baixo consumo de hortofrutícolas é responsável por cerca de 19% dos cancros gastrointestinais, 31% da doença cardiovascular isquémica e por 11% dos enfartes". Portanto, aposto na promoção da inclusão de vegetais.

Não me considero sequer vegetariana, porque continuo a consumir toda a variedade de produtos, mas reduzi vários elementos da roda alimentar por uma questão de princípio e saúde. Consumo bebidas vegetais, reduzi drasticamente o consumo de queijo e ovos, e proteínas animais no geral só umas três vezes por semana. De forma mais extrema, não compro mel ou produtos com mel, o mesmo com o óleo de palma, peixe da Noruega ou de aquacultura, e tento reduzir a compra de produtos em plástico. No entanto, parece-me que com os meus hábitos estou a passar a mensagem de que os que me rodeiam devem fazer o mesmo, porque de alguma forma as pessoas sentem-se postas em causa com as nossas decisões. O que não é de todo negativo, e a prova é um maior consumo de legumes à mesa cá em casa ou as conversas que temos à mesa. A mera consciência do impacto que causamos é positiva. Torna-nos menos zombies e mais humanos.

Ainda assim, sinto uma certa condescendência ou gozo quando encho o prato de legumes, ou a conversa de vez em quando entra por caminhos menos positivos, ou as pessoas simplesmente não conseguem sair do hábito de consumir como os reis da época medieval consumiam: com fartura, mas pouca saúde. Estamos a comportar-nos como a monarquia se comportava e o resultado é semelhante. Os obesos de épocas passadas, aqueles que morriam de mortes prematuras, de doenças cardiovasculares, de consequências dos diabetes, todos eles eram pessoas da realeza. Evoluímos ao ponto de podermos viver em fartura. Infelizmente, isso inclui fartura de doenças também, e de consequências que vão para além do nosso umbigo. Tomar certas atitudes em prol de algo que não apenas o nosso bem-estar é olhar para lá do umbigo, onde o horizonte que se avizinha não é o mais reconfortante. É deixarmos de ser robôs. É acordarmos e abraçarmos a variedade.

Vanessa

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